Vencedor do É Tudo Verdade deste ano com o “Homem Comum”, Carlos Nader revelou, em conversa com o Glamurama, que não concorda com o apelido “discípulo do Coutinho” [morto em fevereiro deste ano], que ganhou da imprensa. “É uma honra ser relacionado a ele em qualquer nível, mas não sinto que o rótulo seja apropriado. Discípulo é aluno, mas é aquele aluno que segue uma doutrina, que copia alguém, que difunde a expressão de outra pessoa. Não é meu caso, nem é algo com que o próprio Coutinho concordaria. Um pouco antes dele morrer, tivemos justamente uma conversa sobre o fato de que tínhamos visões muito parecidas sobre o cinema, mas fazíamos filmes muito diferentes”, revela.
Carlos também disse que é preciso aprender a lidar com o imponderável e estar aberto aos ventos que realidade produz para produzir documentários, mesmo que isto signifique uma mudança radical de rota. “Isso aconteceu várias vezes em ‘Homem Comum’, ao longo destes vinte anos. Trabalhei muito até encontrar o formato final. Ele permite múltiplas interpretações, múltiplas visões. Uma delas é a de que um encontro produzido pelo acaso entre um cineasta qualquer e um caminhoneiro qualquer gerou uma experiência existencial muito profunda na vida dos dois”. E como foi feita a escolha do caminhoneiro Nilson? “Eu até hoje estou tentando entender porque escolhi o Nilson, aquele caminhoneiro específico. Não entendi direito e inclusive nem sei se escolhi ou fui escolhido. É parecido com um compositor que escolhe determinada melodia. O fato é que a expressão artística é um dos belos mistérios da vida.”
“Homem Comum” é o registro de duas décadas do cotidiano e das transformações na vida do caminhoneiro, que transporta porcos vivos pelo Brasil. O filme tem estrutura ficcional, mas é composto por imagens reais que mostram que nenhuma vida pode ser considerada comum. (Por Denise Meira do Amaral)
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