Tête-à-tête com Jean Charles Castelbajac, designer que vestiu o Papa e Lady Gaga…

Jean Charles Castelbajac em São Paulo || Créditos: Glamurama/Reprodução Instagram

Já ouviu falar de Jean Charles Castelbajac? Estrela do universo fashion que despontou nos anos 1970 e 80, Castalbajac, nascido no Marrocos e baseado em Paris, não entraria na categoria estilista. Ele vai além. Designer dos mais completos, ele transita na arte, decoração e moda, sempre com uma sensibilidade fascinante. Na ativa aos 67 anos, também é do tipo que sabe se autopromover sem ser clichê – não recusa o boom do branding, mas não é escravo dele – e também sabe discordar das novidades sem ser, digamos, arrogante. Em suas criações, seu grande trunfo é subverter os códigos da moda.

Ilustração feita pelo designer da piscina do Palácio Tangará, onde está hospedado || Créditos:. Reprodução Instagram

Caso você ainda não o conheça, culpe isso ao fato dele ser figura rara na América Latina, já que despontou no oriente, sobretudo no Japão e Coréia. E agradeça ao Shopping Cidade Jardim, já que neste Natal o mall o trouxe para os trópicos para assinar sua decoração de Natal. Para conferir “in loco” o décor que orquestrou à distância, Castelbajac desembarcou nesse fim de semana em São Paulo e está tendo um caso de amor com a cidade, que até apelidou de São Paulove. Só para situar a importância de Castelbajac, já usaram criações suas nomes como Lady Gaga, Katy Perry e até o Papa João Paulo II.

MERRY X-MAS! 

O designer em frente a uma de suas ilustrações criadas para a decoração de Natal do Shopping Cidade Jardim || Créditos: Reprodução Instagram

Voltando ao Natal, sobre o décor divertido e irreverente que assina para o Cidade Jardim, que inclui até piscina de bolinhas para adultos e crianças, falou: “Quero inspirar as pessoas que vem ao shopping. Busquei elementos que evocam o Brasil respeitando as tradições de Natal seguidas pelo brasileiro. Substituí as cores verde e vermelho por tons primários e coloquei fitas nas extremidades dos ventiladores como forma de desejar boas vibrações às pessoas do Brasil.”

Aos que desejam reproduzir em casa o approach moderno e poético de Natal do designer, ele dá a letra: “É a mesma dica que dou pra você se vestir ou mudar sua casa: mantenha a tradição, mas evolua. Embrulhar presentes com materiais novos e arrumá-los de forma diferente, pode transformá-los em esculturas. Não crie coisas individualmente e sim conceitos.”

O PAPA É POP 

O papa João Paulo II com batina criada por  Jean Charles Castelbajac || Créditos: Reprodução

Como percursor do movimento artístico que funde moda e arte – elementos que ele lamenta ter cansado de ver misturados de formas tão banal -, para ele poesia e cor são os melhores tesouros de hoje, um tempo em que tudo é sobre marketing e consumo. “Meu melhor talento é ver coisas normais e reinventá-las, como fiz com o Papa João Paulo II, em 1997. Foi muito desafiador trabalhar com alguém que não podia mudar praticamente nada.” O que ele fez? Criou batinas com arco-íris, símbolo da comunidade LGBT. Felizmente, os vestuários serão exibidos ao público pela primeira vez na exposição “Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination” (“Corpos celestes: Moda e Imaginação Católica”), que entra em cartaz no Metropolitan em maio de 2018.

Sobre desenhar algo para o Papa Francisco usar, Castelbajac não esconde uma certa empolgação: “Ainda não tenho nenhuma parceria com ele, mas quero muito. Ele é muito ocupado, vamos ver…. Só o que sei é que o Papa Francisco gostou do que fiz para o Papa João Paulo II.”

COLEÇÃO NÃO-CÁPSULA, POR FAVOR

Jean Charles Castelbajac em sofá de ursos de pelúcia criado por ele 1991 || Créditos: Reprodução Instagram

“Sempre gostei de colaborações, como as que já fiz com Beyoncé e com Jay-Z, mas sem viés comercial. Não se trata de marketing, de uma coleção cápsula” (Risos). “Gosto da forma como Elsa Schiaparelli trabalhou com Dalí, por exemplo. Eu poderia trabalhar no seu país. Gostaria fazer uma parceria com Dudu Bertholini porque somos de diferentes países mas enxergamos coisas parecidas, e também com os Irmãs Campana – soube quando eles fizeram o sofá de bichos de pelúcia em 2003 muito parecido ao meu (lançado em 1991). Poderíamos ter feito algo juntos mas eles não me ligaram…”

No início deste mês, o designer postou a foto acima em seu Instagram dizendo: “A inspiração é uma coisa misteriosa. A minha vem da minha infância. Eu sempre usei ursinhos de pelúcia como uma metáfora de ternura. Criei meu primeiro casaco de ursinhos em 1987, então este sofá em 1991, que inspirou os irmãos Campana em 2003. #authenticityversuskaraoke” A hashtag,”autenticidade versus karaokê”, ele explica: “Malcolm McLaren, meu amigo de longa data, costumava dizer que viveríamos o tempo do karaokê, onde nada se criaria, tudo se reinterpretaria.” 

MANIFESTO CONTEMPORÂNEO 

“Sinto falta de sentir fascínio pelos estilistas. Falta da modernidade, de olhares para o futuro mas com a poesia de ontem. Sinto falta de minha própria moda. Esse é um bom momento para que novos designers criem uma nova feminilidade, novas roupas… Há um feeling vintage muito forte. Tudo o que vemos parece que já foi feito.”

NEXT STEP

“Gosto de criar universos, coisas que vão além da moda. Nosso tempo merece isso”, diz, apontando para elementos do Parigi Bistrot, onde aconteceu a entrevista, assinados pelo designer Fortuny, citando-o como exemplo de outro criador de universos. “Meu interesse hoje é tecnologia e moda. Isso é algo muito importante pra mim.”

“Quero criar um projeto meu. Um espaço onde as pessoas possam comprar todo meu universo. Coisas para casa, para vestir, um vestido de noiva… Um lugar onde eu possa falar sobre tecnologia e novas musicas. E também adoraria neste momento fazer uma coleção em parceria com uma companhia do Brasil. Sou perfeito para o design do Brasil: tenho a cor, o humor, a ideia de feminilidade…”

É PIQUE! 

Castelbajac, que completa 68 anos nesta terça-feira, queria ser artista plástico quando jovem. Queria pintar quadros. Mas por influência de sua mãe, dona de uma confecção, foi apresentado às costuras e criou ali seu próprio espaço. Sempre evitou as rodas da moda, preferindo circular entre as turmas das artes e da música. Era muito amigo de Basquiat, Andy Warhol, Keith Haring, Malcom McLaren, e ainda é próximo de Vivienne Westwood.

Após sua breve passagem por São Paulo, o designer segue para dias de relax em Paraty, Rio. (Por Julia Moura)

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