Publicidade
Tashnuva Anan Shishir || Créditos: Reprodução
Tashnuva Anan Shishir || Créditos: Reprodução

Intimidação, assédio, alienação, tentativas de suicídio… Esses são alguns dos problemas que fazem parte da vida de Tashnuva Anan Shishir, a transgênero de 29 anos que viu sua história mudar radicalmente depois de uma longa luta por respeito, aceitação e igualdade social, ao estrear como âncora de telejornal na Boishakhi TV de Bangladesh, no Dia Internacional da Mulher. Essa foi uma mudança importante em uma nação que reconhece um “terceiro gênero”, mas geralmente ainda vê os transgêneros como antinaturais ou pecadores, e sua existência não autorizada pelo Islã – 85% da população do país é muçulmana.

E sua conquista ganhou o mundo. Ao New York Times, Tashnuva contou detalhes de sua luta. Parte de uma família muçulmana conservadora de Bangladesh, ela relatou na reportagem que foi ridicularizada por comportamento considerado muito afeminado, e que achavam que ela estava mentalmente doente. A experiência a deixou com uma pergunta crucial: “Quem sou eu?”.

Para tentar explicar sua situação, abriu o jogo: “Nasci com um corpo masculino, mas eu era uma mulher na alma”, disse Shishir ao jornal americano. Foi aí que ela foi tentar entender o que acontecia com buscas na internet até que entendeu ser trans. E mesmo depois de responder à pergunta e se assumir como uma mulher transgênero, Shishir, empreendeu uma busca de aceitação por décadas. O caminho foi pavimentado com “uma dor incomensurável”, disse ela que sofreu assédio e abuso verbal, foi evitada por membros de sua família e morou em uma favela quando estava sem um tostão.

A trajetória de Tashnuva Anan Shishir

Shishir nasceu no distrito de Bagerhat em uma família de quatro irmãs e dois irmãos. Sua mãe trabalhava em casa enquanto seu pai vendia camarões e outros peixes de água salgada. Desde criança tinha plena consciência de que se sentia diferente. Assistindo filmes, ela se via como a heroína. Ela vestia sáris e usava o batom da irmã mais velha, imitou as tarefas domésticas ao lado de outras meninas. Inspirada por uma irmã ingressou na escola de dança – até que seus pais a proibiram.

Uma virada crítica aconteceu quando um membro da família do sexo masculino a agrediu sexualmente. “Estava com muito medo”, relembrou Shishir, que ainda não tinha 10 anos. “Não pude compartilhar com ninguém.” Rejeitada pelo pai por seus modos afeminados, ela foi vista como uma vergonha para a família. Enquanto os negócios da família enfrentavam dificuldades financeiras, ela foi jogada porta afora. Se ficasse, seu pai disse que teria que mascarar sua feminilidade.

Ela tentou se adaptar às rígidas normas de gênero, mas aos 15 anos foi morar com um tio em Narayanganj, ainda se apresentando como homem e foi submetida ao abuso verbal.

Em busca de respostas, ela vasculhou a internet. Finalmente encontrou a palavra “transgênero” e as coisas começaram a se encaixar. “Foi realmente incrível”, disse ela ao NYT. “Eu senti que não sou a única pessoa no mundo.” Após ser aceita na faculdade, descobriu uma afinidade pelo teatro, atraída pela perspectiva de uma vida de prestígio, respeito e admiração. Enquanto perseguia papéis como personagens femininos, um diretor disse a ela que isso não era possível porque ela havia recebido uma identidade masculina ao nascer.

Em 2015, Shishir se declarou uma mulher transgênero para uma comunidade transgênero que conheceu por meio de um trabalho de aconselhamento. Ela escolheu o nome Tashnuva, que significa “sorte” em bengali, seguido por Anan, ou “nuvem”. Gradualmente deixou o cabelo crescer, começou a usar maquiagem e começou o tratamento hormonal em 2016.

Para complicar as coisas, ela enfrentou um ataque de discriminação ao trabalhar em várias organizações não governamentais que relutavam em dar a ela aumentos e promoções por causa de sua identidade, disse ela. “Fui discriminada durante anos”, disse ela. “Eu também tentei o suicídio quatro vezes.”

Então, neste ano, um diretor de cinema disse a ela que a Boishakhi TV tinha planos para uma nova produção e que ela deveria se inscrever. Ela hesitou no início, depois de enfrentar a rejeição de outros canais de notícias. Mas Shishir acabou conseguindo o papel. Em um comunicado, a estação de televisão, que a contratou como âncora casual de notícias, disse que a “iniciativa histórica” ​​iria “inspirar a sociedade a mudar atitudes”. “Acho que 2021 é uma sorte”, disse Shishir, sorrindo. “Acho que agora faço parte deste país.”

Pequenos e importantes passos

A contratação de Shishir como âncora de notícias é um sinal ostensivo de como as atitudes estão evoluindo. Mas Bangladesh continua rigidamente patriarcal. Uma lei da era colonial britânica que criminaliza as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo continua em vigor, e o estigma social em relação às minorias sexuais e de gênero deixa muitos temerem por sua segurança.

As estimativas oficiais para o número de pessoas trans em Bangladesh, com população de 160 milhões, são difíceis de definir. Em 2013, o governo reconheceu formalmente um terceiro gênero, ou hijras – um termo para aqueles atribuídos ao gênero masculino no nascimento, mas que se identificam como feminino. Bangladesh juntou-se às nações do Nepal e Paquistão; A Índia seguiu em 2014.

Embora as hijras incluam pessoas transgênero e intersex, nem todas as pessoas trans são hijras. O número estimado de hijras autodeclaradas é de cerca de 10.000, de acordo com uma pesquisa do Departamento de Serviços Sociais. Uma organização não governamental local que trabalha com grupos de minorias sexuais, Somporker Noya Setu, disse que o número pode chegar a 500 mil, incluindo hijra e pessoas trans.

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter