Na faixa dos vinte e poucos anos, Cha Ji-won é uma das integrantes de uma nova geração de feministas que começa a tomar forma na Coreia do Sul. A jovem aderiu ao movimento #EscapeToCorset da forma mais inusitada possível: cortando o cabelo bem curtinho e jogando na lixeira todos os itens de maquiagem que tinha em casa, apesar de a atitude ter lhe rendido comentários maldosos da própria mãe. “Ela disse que eu me pareço com um menino agora”, Ji-won contou ao jornal britânico “The Guardian”.
Super interessada em dicas de beleza desde os 12 anos de idade, Ji-won foi por muitos anos uma das centenas de milhares de sul-coreanas que gastam em média £70 (R$ 345,10) por mês com cosméticos, mas passou a pensar duas vezes antes de abrir a carteira de uns tempos cá e sobretudo desde que muitas de suas conterrâneas resolveram protestar contra a ditadura da beleza e os padrões estéticos inatingíveis impostos às mulheres asiáticas.
Tudo começou há alguns meses, quando uma youtuber postou um vídeo em uma rede social no qual aparecia destruindo seus creminhos e afins, e completou a ação online lançando a hashtag #EscapeTheCorset, algo como #AbaixooCorset, em referência à peça de vestuário popular no século 18 usada para afinar a cintura às custas de muito desconforto.
Daí para o filminho viralizar não demorou muito, e some-se a isso o fato de que as sul-coreanas andam cada vez mais desanimadas com a desigualdade de gênero no trabalho e em diversas situações – e perder duas horas por dia só pra se maquiar, como muitas delas fazem, não contribui muito para evitar esse sentimento. Fato é que esse protesto já assusta executivos de gigantes como a L’Óreal e a Shiseido.
E há motivos de sobra para que esses poderosos estejam apreensivos, uma vez que o mercado de produtos de beleza movimenta anualmente algo em torno de £ 9,7 bilhões (R$ 47,8 bilhões) na Coreia do Sul, sem falar que o país se tornou referência na produção de cosméticos e é líder na Ásia entre aqueles com o maior número de pessoas que fizeram algum tipo de plástica – pelo menos um terço das jovens sul-coreanas já entraram na faca, de acordo com a consultoria internacional Euromonitor.
A professora de estudos femininos da Chung-Ang University de Seul resumiu a revolução para o “Guardian”: “As mulheres sul-coreanas estão experimentando a liberação e quando vivem algo desse tipo jamais voltam atrás”, explicou. “É uma iniciativa para mudar o status delas como subordinadas aos homens”. (Por Anderson Antunes)
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