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Stelleo Tolda: "Acho que lidamos melhor com E-COMMERCE do que os varejistas de origem
Stelleo Tolda: “Acho que lidamos melhor com E-COMMERCE do que os varejistas de origem || Créditos: Roberto Selton

 

Stelleo Tolda: "Acho que lidamos melhor com E-COMMERCE do que os varejistas de origem || Créditos: Roberto Selton
Stelleo Tolda: “Acho que lidamos melhor com E-COMMERCE do que os varejistas de origem” || Créditos: Roberto Selton

O carioca Stelleo Tolda, número 2 do Mercado Livre, comanda a mais importante operação da empresa que é o maior shopping virtual da América Latina

por Paulo Vieira  para PODER de outubro

Se no futebol costuma-se dizer que o vice não é ninguém, na política brasileira o segundo é que está por cima. Sarney, Itamar, Temer, Alckmin, Kassab, os exemplos de quem chegou ao poder depois de fazer carreira nos Jaburus da vida parecem se reproduzir em looping. Só não perdemos todos porque os comentaristas políticos têm frequentes oportunidades para fazer blagues com a famosa frase do 18 Brumário, de Karl Marx, aquela que fala de farsa e, mais propriamente, de tragédia.

No mundo empresarial, contudo, estar indefinidamente à sombra pode não ser a maneira mais inteligente de galgar o lugar ao sol quando a hora chegar. Nas corporações podem ser muitos os VPs, e ganhar destaque no meio dessa pequena multidão é essencial. O carioca Stelleo Tolda, 48 anos, número 2 do Mercado Livre, ou COO (Chief Operating Officer) – diretor de operações, segundo o léxico corporativo – é um vice-presidente que está em uma posição privilegiada. Em certo sentido, mais privilegiada que a de seu chefe, o argentino Marcos Galperin, que fundou a empresa de tecnologia voltada para o varejo, em 1999, e hoje é seu CEO.e no futebol costuma-se dizer que o vice não é ninguém, na política brasileira o segundo é que está por cima. Sarney, Itamar, Temer,
Alckmin, Kassab, os exemplos de quem chegou ao poder depois de fazer carreira nos Jaburus da vida parecem se reproduzir em looping. Só não perdemos todos porque os comentaristas políticos têm frequentes oportunidades para fazer blagues com a famosa frase do 18 Brumário, de Karl Marx, aquela que fala de farsa e, mais propriamente, de tragédia.

Todos os 18 países da operação latino-americana do Mercado Livre, além de Portugal, estão sob responsabilidade de Tolda. E o Brasil é o pote de ouro, com mais da metade da receita líquida global de US$ 357 milhões do primeiro semestre de 2016. Se é pertinente julgar o poder de um governante pelo tamanho de seu palácio, Tolda é um sultão, um emir, um governador-geral: ele acaba de se mudar com os demais 1.200 funcionários de São Paulo para a nova sede do Mercado Livre, que a empresa trata como campus, chama de “Melicidade” e que tem espaço oito vezes maior que o do escritório de onde despacha Galperin, em Vicente López, município da região metropolitana de Buenos Aires.

Grandes proporções

Espaço é mesmo mato na Melicidade (Meli, contração de Mercado Livre, é a sigla utilizada nas operações em bolsa), que foi projetada para comportar até 2 mil pessoas e tem 17 mil metros quadrados de área construída em terreno duas vezes maior, onde antes havia uma metalúrgica. Inspirada em empresas do Vale do Silício, que tem grande relação com o mundo universitário – daí guardarem semelhanças com os campi acadêmicos –, a Melicidade lembra também um Sesc Pompeia vitaminado, com galpões e galpões cheirando a novos, diversas salas fechadas de reunião que se parecem com ocas de bienais de arte contemporânea, um auditório de 200 lugares, enormes áreas de entretenimento e de convivência – brilham no quesito a academia de ginástica e as salas para serviços estéticos. Coerente com o espírito “west coast”, a cafeteria está bem no centro do principal galpão de trabalho. É o lugar, enfim, que você sempre pediu a Deus para trabalhar, mesmo situado em uma  região nada atraente, ainda que de fácil acesso (e de aluguel baixo), na divisa de Osasco com São Paulo.

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Nova sede do Mercado Livre em Osasco || Créditos: Roberto Selton

O espaço é imenso, mas Tolda, em linha com seus pares da nova economia, não é de ostentar. Não tem uma sala ou paredes a separá-lo dos subordinados, embora trabalhe todos os dias em seu mesmo canto de eleição. Seria realmente demais exigir uma afetação nobiliárquica do COO. Filho de um casal de classe média que fez a vida no Rio, Stelleo teve uma juventude normal, bastante dedicada ao estudo em colégio americano – o curso de graduação em engenharia já foi em Stanford, no Vale do Silício. Seu pai, o português José Fonseca Tolda, foi sócio de uma famosíssima loja de discos especializada em bossa nova, a Modern Sound, em Copacabana. Discreto, Tolda-pai ficou à sombra do sócio sempre lembrado da casa, Pedro Passos.

Tecnologia na veia

Se para muitos varejistas tradicionais o e-commerce ainda é uma ferramenta de gigantesco potencial eternamente por ser domada, para o Mercado Livre, que se define como uma empresa 100% de tecnologia, ele é seu lugar natural. “Acho que temos mais capacidade de lidar com o e-commerce do que os varejistas de origem, pois nascemos fazendo isso”, diz Tolda a PODER, sentado em uma das muitas poltronas que circundam a cafeteria da Melicidade. Trata-se de um e-commerce bastante específico, já que o Mercado Livre explora o marketplace, em que os produtos negociados são todos de terceiros, e cada transação fechada rende 10% de comissão. “Aqui não temos de nos preocupar com estoque, com centro de distribuição, com logística. É isso uma vantagem.”

Tolda não demonstra ansiedade ao comentar o ataque dos grandes varejistas a sua praia. O Magazine Luiza, por exemplo, que já tem um e-commerce responsável por 22,5% de seu faturamento, inaugurou o próprio marketplace em junho, permitindo o acesso de outros comerciantes a sua plataforma digital. E tem mais gente entrando nessa. “As grandes redes brasileiras já despertaram para o marketplace, para as vantagens de congregar diferentes marcas em seu ecossistema. É necessário um investimento razoável na plataforma tecnológica. Ela tem de prover uma experiência de uso robusta para o consumidor, mas há ganhos, por exemplo, na capilari dade do atendimento”, afirma Hercules Maimone, líder do setor de varejo e agrobusiness da consultoria PwC Brasil, usando os jargões do mercado de tecnologia.

Mesmo pressionado por gigantes mundiais como o Alibaba e agora também pelos varejistas brasileiros, Tolda vê muito espaço para crescer exatamente onde está. Segundo a consultoria global eMarketer, será preciso esperar 2018 para que menos de 5% de todas as vendas do varejo brasileiro aconteçam por e-commerce. Mas os valores envolvidos são crescentes. Tolda prefere citar dados de outra consultoria, a Euromonitor International, que vê um salto de US$ 19,6 bilhões, em 2015, para US$ 28 bilhões, em 2020, na riqueza movimentada pelo e-commerce brasileiro.

Outro setor de grande potencial do Mercado Livre é o de sistema de pagamentos, o Mercado Pago, a moeda usada em todas as transações e que agora começa a se expandir para fora dele. Além disso, mais áreas vêm se destacando, como a de classificados de automóveis, de imóveis e de serviços (a cobrança aqui é um valor fixo) e o sistema de gestão de envios, o Mercado Envios, que atua em parceria com os Correios.

Satisfação garantida

Desde 2012, o Mercado Livre abriu parte de sua plataforma tecnológica para estimular a criação, por desenvolvedores independentes, de aplicativos que melhorem a performance de todo o ecossistema. Um dos parceiros recentemente homologados atua justamente na área de envios – por meio de um software, encontra pessoas comuns dispostas a levar imediatamente os produtos vendidos no Mercado Livre até a agência dos Correios mais próxima. Por incrível que pareça, isso é crítico, já que a satisfação do consumidor também depende do tempo de entrega, e há vendedores que procrastinam esse ato tão trivial.

Os números de crescimento do Mercado Livre no Brasil são auspiciosos. Nos últimos cinco trimestres, a taxa média ficou em 52%. O site é o décimo mais acessado do país, atrás do Google, Facebook, MSN, Yahoo e de famosos portais de comunicação, mas é o primeiro de e-commerce. Em junho, foram 42 milhões de visitas únicas, segundo medição da comScore. Quando surgiu, o Mercado Livre fazia exclusivamente leilões (a eBay americana, não por acaso, é importante acionista da empresa, com 18% de participação), mas, hoje, 98% das transações são feitas a preço fixo – e 85% dos produtos comercializados são novos.

Qualidade de vida é uma das metas da empresa || Créditos: Roberto Selton
Qualidade de vida é uma das metas da empresa || Créditos: Roberto Selton

Mas a métrica realmente festejada, ainda mais em tempos de crise, é a da expansão do número de funcionários, justamente a razão de existir da Melicidade. Nos últimos 12 meses, segundo a empresa, ela é de 38%. Antes, os trabalhadores ficavam em escritórios distintos em Alphaville, na Grande São Paulo. Colocar todos em um único local com enorme quantidade de distrações, como é a Melicidade – um funcionário, aliás, cochilava sossegadamente em um sofá no dia em que a equipe de reportagem esteve lá para fazer fotos e entrevista –, pode significar um risco para a produtividade geral, ainda que um risco calculado. Afinal, funcionários de níveis distintos cumprem metas e têm direito a bonificações por desempenho. “Como regra geral, o ambiente de trabalho promove a criatividade, não a produtividade, que melhora quando os colaboradores atuam mais concentrados. Só que a capacidade de concentração humana, segundo estudos feitos no Vale do Silício, dura períodos máximos de 90 minutos”, diz o jornalista e palestrante Alexandre Teixeira, autor do livro Felicidade S.A., sobre as relações de trabalho contemporâneas. “É importante oferecer condições que permitam a descompressão, e na Melicidade há isso.”

Produtividade e criatividade são valores relevantes para qualquer empresa, mas o novo “campus” do Mercado Livre também impacta na criação e na consolidação de uma cultura corporativa, algo que pode parecer um tanto etéreo, mas que conta muito na hora de atrair (e de manter) o melhor capital humano disponível no mercado. Nesse sentido, a Melicidade vem cumprindo bem a função. “Nunca recebi tantos chamados no LinkedIn de pessoas interessadas em trabalhar aqui quanto agora, com as notícias da estreia da nova sede”, diz Stelleo. Ao que consta, a beleza de Osasco não teve influência nesse movimento.

Cidade verde

Em uma construção nova do porte da Melicidade, seria natural que diversas soluções de sustentabilidade fossem pensadas e aplicadas. Foi o que aconteceu. Situada em uma região fabril, sem prédios elevados na vizinhança, a luz farta incidente, captada por 2 mil painéis fotovoltaicos, se transforma em metade da energia distribuída no complexo, segundo a empresa. Além disso, há quatro tanques para aproveitamento da água da chuva, que é destinada à irrigação do jardim e ao uso em bacias sanitárias. Materiais reciclados se tornaram carpetes para utilização dos funcionários e uma composteira opera para fazer, de sobras de alimentos, adubo orgânico. Embora o estacionamento seja grande e o acesso à empresa a partir da zona oeste de São Paulo, fácil, há incentivo à implantação de um sistema de carona entre os funcionários. Quem preferir ir para o trabalho de trem pode utilizar o veículo gratuito do Mercado Livre para encurtar e tornar mais segura a caminhada de 15 minutos que separa a empresa da estação Presidente Altino da CPTM.

Preferências nacionais

Os consumidores do Brasil, da Argentina e do México, os três principais países da operação comercial do Mercado Livre, têm preferências distintas na hora de utilizar a plataforma para comprar e vender. Enquanto no Brasil a categoria de produtos mais comercializados é a de acessórios para veículos, no México a menção honrosa vai para celulares e smartphones. Artigos para casa, móveis e jardim são os que mais fazem a cabeça dos argentinos. Segundo a empresa, em 2015 foram vendidos 36,8 milhões de produtos nos 19 países em que o Mercado Livre atua. O número compila todas as vendas do site, inclusive as feitas pelas grandes redes varejistas presentes no marketplace do Mercado Livre. No Brasil, dentre as centenas de lojas oficiais estão, para citar algumas, Adidas, Casas Bahia, Ricardo Eletro, Polishop, Extra e Mercedes-Benz.

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