Presente em 58 países, o sueco Spotify é o aplicativo de streaming de música mais popular do planeta. Ao lado de plataformas semelhantes, rádios on-line e downloads, já responde por cerca de 40% do faturamento do mercado fonográfico nacional
Por Caroline Mendes para a revista PODER de abril
O Spotify não divulga faturamento. “Para evitar especulações no mercado financeiro”, diz Gustavo Diament, CEO da empresa sueca para a América Latina. Mesmo assim, o aplicativo para ouvir músicas on-line instantaneamente, ou seja, sem a necessidade de downloads, consegue provar que é o maior do mundo por meio de outros números – todos impressionantes, diga-se de passagem. Diariamente, mais de 20 mil músicas se juntam às mais de 30 milhões já existentes no catálogo do aplicativo e cerca de 5 milhões de playlists são criadas pelos mais de 60 milhões de usuários ativos, que ficam em média duas horas e meia por dia no Spotify nos 58 países em que ele opera. “Quando entramos no mercado brasileiro, há pouco menos de um ano, tivemos o lançamento mundial mais bem-sucedido em número de registros e de usuários ativos. Desde então, só estamos crescendo”, afirma Diament.
Não só o Spotify, mas todo o segmento de música digital vem ganhando cada vez adeptos no Brasil. Lançado ano passado, o último relatório da Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD) mostrou que o consumo de música on-line por meio de downloads pagos em plataformas como o iTunes e de streaming em aplicativos como Deezer, Napster, Rdio e o próprio Spotify já respondem por 36,46% do faturamento anual da indústria fonográfica nacional. Só na Sony Music Brasil, mais da metade da arrecadação de 2014 veio do meio digital. “Ano passado, a receita de streaming cresceu 29% nos Estados Unidos, ultrapassando a da venda de CDs. É uma tendência, não tem como fugir disso”, afirma Alexandre Schiavo, presidente da Sony Music Brasil, citando dados de um relatório recente da Associação da Indústria de Gravadoras da América. “O digital é tão importante para nós que criamos uma incubadora 100% on-line, na qual lançamos primeiro alguns artistas e produtos, que, se tiverem boa aceitação no mercado, podem migrar para as mídias físicas. Isso garante segurança financeira para os dois lados”, defende Schiavo.
CAIXA REGISTRADORA
Quem adere ao Spotify pode optar pela versão gratuita ou paga, que oferece benefícios como ausência de propaganda entre as músicas, troca ilimitada de faixas e a possibilidade de ouvi-las mesmo sem estar conectado à internet. “A maior parte de nossa renda – 85%, para ser exato – vem de assinaturas e 15%, de publicidade”, explica Diament. Do faturamento total da empresa, 70% são gastos com direitos autorais, sendo que mais de US$ 2 bilhões já foram pagos mundialmente, desde que o Spotify foi lançado em 2008. O valor que o artista recebe é diretamente proporcional a sua audiência. Para se ter uma ideia, a cantora pop americana Taylor Swift chegou a faturar US$ 6 milhões em um ano quando tinha suas músicas disponíveis no aplicativo – ela se desvinculou em 2014.
Quando o Spotify passou a operar no Brasil, a Sony Music adaptou seus contratos com os artistas e, hoje, quase todos estão disponíveis gratuitamente no aplicativo. A exceção é o rei Roberto Carlos que, de acordo com seu empresário Dody Sirena, pretende estrear no serviço de streaming ainda neste ano, em comemoração aos seus 50 anos de carreira. “Finalmente chegou a hora de entrarmos no digital de forma contundente para continuar renovando nosso público e dar nossa contribuição para alavancar ainda mais esse complexo e envolvente mercado. Foi uma estratégia pensada, discutida, que aposta na evolução e crescimento do streaming”, afirma o empresário.
APERTE O PLAY
Apesar da crescente popularidade da música digital, porém, ainda há artistas que resistem ao streaming e ao download de faixas individuais. A explicação de alguns é que, ao isolar uma canção de seu álbum original e colocá-la em playlists com dezenas de outras músicas de artistas e gêneros variados, perde-se toda a unidade artística de um CD. O rapper Rael, eleito uma das apostas do Spotify para o Brasil em 2015, não assume uma postura tão radical. “Eu acho sensacional a mistura de rap, samba, rock, reggae… O mundo está assim, as pessoas estão mais abertas e também mais ansiosas, começam a ouvir um CD inteiro e logo desistem”, diz. Diament, do Spotify, concorda: “É assim que o usuário final quer escutar música. Então, não dá para ir contra, independentemente do que a indústria ou o artista desejam”.
Rael tem contrato com a gravadora Laboratório Fantasma, comandada pelo também rapper Emicida e seu irmão e produtor Evandro Fióti, que diz não ter medo do streaming: “Sou o maior fã”. No lado profissional, ele também vê pontos positivos, pois acredita que para seus artistas seria ruim estar fora de plataformas como o Spotify. “Mas, para estrelas como Taylor Swift, por exemplo, pode não fazer diferença pelo tamanho e a quantidade de fãs que eles têm”, pontua. “Na verdade, cada artista e gravadora deve adotar sua estratégia. Só precisamos avançar no que diz respeito à clareza de royalties e à prestação de contas. Tudo ainda é muito subjetivo. Não dá para saber como vai estar a indústria da tecnologia e da música no futuro”, finaliza.
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