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Irene Singery em sua passagem por São Paulo||Créditos: Marcelo Saraiva
Irene Singery em sua passagem por São Paulo||Créditos: Marcelo Saraiva
Irene Singery em sua passagem por São Paulo||Créditos: Marcelo Saraiva

Anfitriã da ilha mais bem frequentada de Angra dos Reis nos anos 1980, a socialite  carioca Irene Singery reuniu um grupo de amigos paulistanos para um jantar que ela chamou de “Chega de Saudade”

Por Paulo Sampaio para a Revista J.P

A socialite carioca Irene Singery diz que tem dificuldade para memorizar o nome da rua Gabriel Monteiro da Silva, no Jardim América, em São Paulo, endereço das lojas de decoração mais sofisticadas do país. “Vivo me confundindo. Já chamei até de Gabriel García Márquez”, diverte-se  ela, no táxi, a caminho da casa da amiga Brasília Arruda Botelho, onde estava hospedada em recente visita à cidade. Uma possível explicação: “Acho que é por causa do Silva. Não combina…”. Para alguém que passou a vida frequentando os Nabuco, os Monteiro de Carvalho, os Marcondes Ferraz, os Garavaglia, os Bardella e os Alves de Lima, um Silva pode soar mesmo deplacé. O sobrenome dela própria, adquirido no casamento com o banqueiro Robert Singery, seu primeiro marido, tornou-se sinônimo de badalo não só pela assiduidade com que saía nas colunas sociais, como pela associação com a Ilha da Piedade, em Angra dos Reis, de seu segundo marido, Luiz César Magalhães. “A Irene sempre foi uma anfitriã maravilhosa. Chegou a adaptar o píer especialmente para receber o barco do meu avô”, lembra Trix Moura Andrade Araújo, neta de Dirceu Fontoura (do Biotônico), proprietário do famoso Atrevida, de 110 pés. Ela foi ao jantar “Chega de Saudade”, no Iate Clube de Santos, em Higienópolis, representando a mãe, Veroca Moura Andrade, amiga-irmã de Irene. “Passei momentos bárbaros na ilha. Estava sempre em Angra no Carnaval”, lembra Vera Bardella. “A Irene tinha muita presença. Numa época  em que as pessoas eram  bem mais comportadas, a aparição dela tinha o efeito de um terremoto”, conta Gregorio Kramer.

Anos depois, em um momento digamos, mais pop, Irene Singery alugou a Piedade para uma editora, e então surgiu a Ilha de Caras, beeem menos exclusiva. Ela conta que não deu para manter o acordo com a editora. “Aquilo funcionou até um certo ponto, mas aí descobri que abusaram do chamado ‘direito de imagem’. No contrato, eles poderiam publicar apenas seis edições da revista, no período do Carnaval, mas isso não foi obedecido. Eu, como estava sempre fora do Brasil, viajando, perdi o controle.’’ Atualmente, Irene se mudou do apartamento no Jardim de Alah, em Ipanema, para a ilha, que tem 17 mil metros quadrados e fica a dez minutos do continente. Para chegar até lá, ela costuma pegar carona nos helicópteros dos “amigos ricos”, ou, se não consegue, vai de carro ou ônibus. Tem um Peugeot SW ano 2000, que mandou equipar com cilindros para funcionar a gás: “Gasto R$ 14 para ir e voltar”, afirma. “Pra que eu preciso de carro novo se o meu tem 45 mil quilômetros?” Ela se mudou para a ilha, em grande parte, para fugir da violência do Rio. Conta que chegou a ser assaltada em casa por dez traficantes. “Não sei como eles foram parar lá”, diz ela, que tinha como vizinho Aécio Neves.

Irene durante o jantar no Iate Clube de Santos||Créditos: Paulo Freitas
Irene durante o jantar no Iate Clube de Santos||Créditos: Paulo Freitas

COUNTRY CLUB

Apesar de viver intensamente o chamado desbunde dos anos 1970 e 1980, quando as colunáveis bebiam, cheiravam, se esbaldavam noite adentro, Irene Singery diz que nunca usou aditivos. “Primeiro, porque sou medrosa. Segundo, porque amo ser livre. Terceiro, porque prezo ter a coluna dorsal sempre em pé, jamais curvada em cima da mesa ou diante de uma latrina.” Assídua frequentadora da crônica social carioca, ela lembra que sua vida era festa de domingo a domingo. Quando? “Ah, faz tempo.” Idade é algo insondável na conversa com Irene. “Guess?” Toda vez que se tenta aferir com exatidão uma data: “Quanto tempo durou seu primeiro casamento?”, ela desconversa com respostas tipo: “O fim  (do marido) foi muito triste, ele teve aquela doença… (ela diz ‘cân-cer’ sem emitir nenhum som, apenas mexendo a boca)”. Até ele receber o diagnóstico, “tudo era diversão”. Os dois se conheceram no Country Club do Rio, ele era 15 anos mais velho e a encantou de saída. “Sempre gostei de (homens) mais velhos. Robert adorava beber, viajar, dançar, era animadíssimo.” A única filha, Cláudia, casou-se com o empresário da construção naval Helio Paulo Ferraz, que assumiu a presidência do Flamengo em 2002, quando Edmundo dos Santos Silva sofreu impeachment. Os dois netos dela, Maria Antônia e Pedro Paulo, estudam fora: a menina faz um “master in art” na Christie’s, em Nova York, e o garoto cursa filosofia e literatura na Université Americaine de Paris, na França – tudo dito com o devido accent. Irene conta que, entre um marido e outro, se apaixonou muito, mas com o tempo descobriu que era “apaixonada pela paixão”. “Tudo é tão lindo no início, depois fica uma porcaria. Mas, como diz o francês, ‘Ça vaut le voyage’.”

SÃO PAULO, EU TE AMO

Irene veio a São Paulo para o casamento de Sofia Derani, neta da  amiga Vera Salem. Aproveitou para reunir amigos antigos em torno do  jantar no Iate. Para dar uma ideia de sua admiração pela cidade, ela conta que toda vez que está para vir, instintivamente procura o passaporte. “É outro país. A relação com dinheiro, a qualidade dos serviços, os restaurantes. Fiz uma dieta antes de vir, emagreci 5 quilos, porque  já sabia que os amigos iam me levar para comer em lugares maravilhosos. Já engordei tudo de novo”, conta ela, com uma sacola cheia de bacalhau na mão. Antes da entrevista, o amigo Claudio Bardella a levou para conhecer o Mercado Municipal, no centro. Almoçaram frutas, pastéis, ela admirou a arquitetura do lugar, adorou o passeio. Em seu périplo pela cidade, elegeu a Tartuferia San Paolo, nos Jardins, como o melhor restaurante visitado. “O Chiquinho (Scarpa) colocou o motorista à disposição para nos levar. Que alma delicada a do Chiquinho…”

A entrevista acontece em uma padaria estilizada que, para sinalizar o requinte desencanado, foi batizada de padoca. Irene quer um chá. Aceno para a garçonete, mas a moça não vê. “Por favor, meu bem!”, chama Irene, alto, como um personagem do núcleo rico de novela de Gilberto Braga. Em seguida, levanta as mãos como um sultão e bate duas palmas. A garçonete anota o pedido e traz um copo de mate gelado. Irene olha para o copo com desgosto e diz: “Bom, ela trouxe um chá que não é chá, para uma Irene que não sou eu”. (A propósito de Gilberto Braga,  é alguém que ela conhece “antes de ser Gilberto Braga”:  “Quando meu marido morreu, eu não queria que minha filha perdesse o francês. Então, fui à Aliança e pedi para frequentar algumas aulas. Queria escolher um professor em quem eu pudesse confiar essa parte da educação da  Cláudia. Um dia, entrei numa sala onde os alunos aprendiam não só francês, mas arte, literatura, filosofia. Fiquei encantada. O professor era o Gilberto. Ficamos muito amigos.”) Na crônica carioca, todo mundo tem uma história com algum famoso. E aí, o professor vira novelista, a socialite vira artista: Irene chegou a trabalhar em novela (“Próxima Atração”, de Walther Negrão) e se apresentou em um show de canto e dança,  em dobradinha com o bailarino Lennie Dale (a quem ela se refere como  “o maravilhoso Leonardo La Ponzina!”), dirigido pela dupla Miele e Bôscoli, na boate Zoom. “Meu lugar é o palco”, empolga-se.

A conversa vai parar em política, tema com o qual uma socialite stricto sensu jamais gastaria dois minutos do seu tempo. Mas agora é preciso mostrar-se atualizada. Ela declara todo o seu desprezo por Dilma Rousseff: “Votaria no Fernandinho Beira-Mar, no Popeye, mas não nela! É uma mulher sem cultura, sem dignidade. Não sabe falar nem quando tem um ponto no ouvido!”. Aí, Irene passa a despejar seu requintado ideário: “O dia 15 [quando houve um ato nacional contra o governo Dilma] abriu uma comporta. Você viu a quantidade de gente na avenida Paulista? Foi um recado. Como disse o Obama: ‘Yes, we can!’ Ou foi o Martin Luther King? Enfim, no dia em que os paulistas disserem: ‘Agora chega!’ e fecharem o estado, fecharem as fábricas, fecharem tudo, aí acaba! Ou eu tô louca?”. Apesar do súbito envolvimento com a política, Irene localiza nos anos 1950 a “grande revolução social de todos os tempos”. “Não teve a ver com Marx, Lenin, nada disso. O que nivelou todo mundo foi  o jeans. O príncipe Charles se veste igual ao açougueiro. É fantástico! Ou eu tô louca?”

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