Publicidade

Por Isabel de Barros para revista Joyce Pascowitch de novembro

Sergio Kamalakian é a zebra da família, toma Rivotril todas as noites desde os 14 anos por conta da hiperatividade e é tímido a ponto de não gostar de aparecer. Já Sergio K. é um empresário de sucesso, acorda todos os dias às 11 da manhã e tem mais de 100 mil seguidores no Instagram. Acrescente a essas duas versões coexistentes em nosso personagem mais uma: Easy, como é conhecido pelos amigos, obcecado por anões, desbocado desde sempre e um anfitrião nato. Aos 29 anos, Sergio acomoda essas e outras facetas em sua pessoa, que tem semblante muito parecido com o do tenista suíço Roger Federer. Não à toa, o moço leva cantadas de homens e mulheres onde quer que esteja: de Salvador a Novo Hamburgo, passando por Ribeirão Preto e Brasília.

Paulistano de família rica, Sergio apareceu de fato para o mundo há nove anos, quando abriu sua marca e adotou o nome Sergio K. “Meus pais não queriam que eu usasse o sobrenome por conta da exposição, da segurança, então abreviei”, diz. Depois de tentar cinco faculdades sem sucesso e de trabalhar na empresa de eventos da família, ele percebeu que o mercado de moda masculina tinha um buraco: ou os sapatos eram importados e caros ou nacionais e ‘chulés’. “Vendi um relógio que tinha ganhado do meu avô por R$ 8 mil e comecei meu negócio [o modelo em questão era um Piaget].” Foi para Franca, no interior de São Paulo, comprou sapatos que acabaram não exportados – “tudo com prazos de pagamento” – e passou a vender para os amigos. Quando surgiu o ponto na Oscar Freire, ele era vendedor, caixa e ouvido dos clientes. “Coloquei uma garrafa de uísque na loja e foi um sucesso. Os clientes iam todos os dias”, diz o empresário, que com o tempo começou a oferecer também gravatas, camisetas, carteiras e, depois, uma linha para crianças, marcas internacionais e até acessórios para casa.

 

Primeiro susto

Tudo o que ganhou nesses primeiros dois anos foi parar no seu segundo ponto, no Shopping Iguatemi. “No primeiro dia da nova loja os bombeiros precisaram intervir de tanta gente que tinha lá dentro.” Foi aí que veio o susto: era 2006 e Eliana Tranchesi (1955-2012) tinha sido presa há uns seis meses. “Nunca contei isso para ninguém, mas a minha gerente me ligou falando que a polícia estava lá. Eles queriam saber se eu iria até a loja ou se eles deveriam me buscar em casa.” De fato, a empresa não era regular e Sergio foi à Receita Federal. “Paguei tudo, legalizei minha marca e hoje ela está 100% em ordem.” Atualmente são 20 lojas próprias espalhadas pelo país e 300 pessoas que trabalham em seu time. Sergio faz visitas diárias às unidades de São Paulo (cinco no total), atende a seus clientes antigos pessoalmente e, entre 1º e 24 de dezembro, bate ponto o dia todo na loja do Iguatemi – a mais rentável de todas. “Adoro ficar no caixa. É onde a banana come o macaco, onde tudo acontece.”

Descendente de armênios, ele é do tipo que pede desconto em tudo. “Quando você tem dinheiro é tudo mais difícil, mais caro. Você pede desconto e ninguém entende. Mas eu negocio preço e depois de todas as reduções, ainda pergunto qual abatimento à vista.” Na sua marca, Sergio pensa em cada investimento que faz com essa mesma cabeça: “Não participo da Fashion Week porque não dá retorno. Prefiro gastar com presentes para meus clientes a fazer um desfile e ter na primeira fila blogueiras, cabeleireiros e estudantes de moda”.

 

Medos e vitórias

Mas nem tudo são flores. Em 2010, Sergio viu uma piada no Twitter da marca virar assunto de jornais de todo o Brasil: ‘Pobre é igual a papel higiênico; se não tá no rolo, tá na merda’ era a frase em questão. “Tinha acabado de fazer uma linha para a C&A e fui mal interpretado”, diz ele, que na época pediu desculpas em nome do estagiário que havia escrito aquilo. O empresário confessa que não se arrepende do ocorrido. “Gosto de humor, de fazer as pessoas rirem e não vi maldade. Foi uma brincadeira, como falam de loiras em mesa de bar.” Suas campanhas, sempre polêmicas, fotografadas há anos pelo americano Terry Richardson, são fruto desse humor. “Minhas campanhas me fazem rir. Uma pena que são proibidas em alguns lugares.”

O outro lado do humor também está presente na sua personalidade: “Quando vem a depressão, saio gritando, expulso a tristeza com meus berros”. Ele tem muitos medos: da solidão, da noite, da morte. Para não correr o risco de ficar sozinho, nunca, tem quatro celulares, um iPad, um Apple TV e assina 24 horas todo e qualquer reality show. A paixão é tanta que ele até organizou um churrasco para o Gominho, participante do programa A Fazenda 6. Festas, aliás, só em casa. “Gosto de receber, mas não curto sair à noite. Só tem cheirador e eu odeio cocaína”, diz ele, que enumera três razões para tal: “Você não dorme, não come e fica broxa”. As festas chez Sergio são no seu apartamento nos Jardins, que tem tudo o que precisa: quarto, sala e piscina – nem mais, nem menos. “Existem casas de ricos que parecem Inhotim. A minha nem quarto de empregada tem.” De fato, seu apartamento é na medida para um solteiro, mas não poupa frufrus na decoração, incluindo lustre máxi, poltronas de veludo e quadros assinados. “Gosto de coisas boas, mas dou valor a elas, sei quanto custam. Essa juventude de excessos não combina comigo”, enfatiza. “Tem adolescente que chega na minha loja com cartão black. Hoje tudo é muito rápido.” Para Sergio, ser rico é ter tempo. “No momento tem um grupo estrangeiro querendo explorar o on-line da marca por cinco anos.” Apesar de ainda não querer vender a grife, ele não descarta a possibilidade. “Vendi minha juventude ao abrir o negócio. Tenho medo de chegar aos 40 e ter adolescência tardia.” Mas a veia proativa de Sergio não para de pensar: “Se vender, mudo de ramo. Abro uma padaria”. A gente não duvida.

[galeria]594861[/galeria]

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter