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Sebastião Salgado na abertura do  Festival do Rio 2014

“O Sal da Terra”, documentário sobre Sebastião Salgado dirigido por Juliano Salgado, filho do fotógrafo, e Wim Wenders, foi o filme escolhido para abrir o Festival do Rio 2014, nessa quarta-feira no Oi Casa Grande. Salgado, sempre recluso, abriu uma exceção e falou sobre a experiência – e de quebra citou algumas passsagens curiosas de sua vida em família.

Filho de peixe

“Fui economista, depois virei fotógrafo, e foi uma carreira intensa, com muitas viagens. O Juliano era pequeno e, na verdade, foi a Lelia [mãe] que o criou. Quando ele cresceu, comecei a levá-lo comigo. A gente deu para ele uma LeicaR6, que era a câmera mais legal da época, e a escola deixava ele viajar se depois mostrasse o que viu para a turma. ”

Choque cultural

“Juliano era criança ainda quando fomos para Ruanda, pouco antes do genocídio, mas a tensão já estava lá. Depois fomos para o Rajastão, na Índia, onde, uma vez, tinha uma mulher com um bebê que se engasgou e parecia que ia morrer. O marido dela pegou uma espada e sacrificou um cabritinho que estava lá perto. Depois me disseram que se não tivesse cabrito ele teria sacrificado um de nós, provavelmente o mais novo.”

“O Sal da Terra”

“Foi complicado quando decidimos fazer o documentário. Ele [Juliano] disse: ‘pai, vou só com uma câmera Canon 5D’. Quando chegou o dia da viagem, parecia o dia do meu casamento com Lelia… Com todo aquele vestido e as coisas na cabeça, só tinha sobrado o rosto. Foi isso com a câmera. Ele chegou com várias outras coisas acopladas… Lentes, microfone… Sou instintivo, um puro sangue na crista da onda. Vocês, cineastas, são intelectuais. Quando Wim Wenders chegou, era um carnaval em volta de mim. Mas consegui sobreviver.”

Sebastião por Juliano

“Meu pai viajava muito, mas voltava cheio de histórias pra contar. Dá muito medo estar aqui hoje, e é ao mesmo tempo, é super excitante. O filme é um relato das experiências de Sebastião, fala sobre a vida dele, com o olhar dele. Ele não sabe se defender, não tem limite e criava relações muito fortes com o que estava fotografando. No Ártico, fomos quase comidos por um urso polar.”

E sobre Wim Wenders?

“O documentário demorou para ser montado porque eu tinha uma visão do documentário diferente da de Wim. Mas ele é de uma generosidade incrível, um talento muito grande.”

(por Michelle Licory)

Juliano, Sebastião e Wim Wenders

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