Itamar Vieira Junior, o escritor baiano é hoje o nome mais incensado da literatura contemporânea e virou assunto de todas as rodas com o best-seller “Torto Arado” (Todavia), ganhador do Prêmio Jabuti 2020. Lançando o esperado “Doramar ou a Odisseia” (Todavia), no qual segue dialogando com as questões sociais, e isolado em sua casa em Itapuã, onde vive com um irmão, dois cães e quatro gatos, o autor fala sobre manias, memórias, talentos, saudades e revela sua maior extravagância.
Por Carol Sganzerla
J.P:O SUCESSO DE TORTO ARADOME TROUXE…
ITAMAR VIEIRA JUNIOR: Muito mais trabalho, o que é bom. Para um autor em começo de carreira, essa grande divulgação é algo de muito sonho. Mas meu vínculo com a literatura antecede tudo isso. Esse sucesso não pode ser um peso para os próximos.
J.P:QUAL A MELHOR HORA PARA ESCREVER?
IVJ: Pela manhã muito cedo. Quase nunca consigo por causa das obrigações do dia. Acaba que só escrevo à noite.
J.P: SEU PRÓXIMO LIVRO EM UMA PALAVRA?
IVJ: Odisseia. A vida humana é uma odisseia e a gente não se dá conta disso. Por mais banal que seja, cada vida carrega nela uma odisseia e é isso que ocorre com os personagens de Doramar.
J.P:LÊ TODOS OS DIAS?
IVJ: Sim. É meu ansiolítico, preciso de leitura. A gente vive num mundo com tantas distrações, os livros nos ajudam a concentrar em uma história, em um pensamento.
J.P:QUAL A MEMÓRIA MAIS FORTE DA SUA INFÂNCIA?
IVJ: A da liberdade para brincar, para viver na rua. Tenho uma lembrança muito bonita da leitura. Não tinha acesso a livros e um amigo que estudava em uma boa escola particular me trazia. Tudo isso me estimulou.
J.P: FIGURA HISTÓRICA QUE ADMIRA?
IVJ: Tenho admiração profunda por Nelson Mandela.
J.P:MOMENTO QUE VOCÊ LEVA PARA A VIDA?
IVJ: Todas as vezes que fui capaz de perdoar e que fui perdoado. Isso mostra como somos capazes de superar adversidades. É como se o perdão fosse a possibilidade de recomeçar.
J.P: COMO DEFINE O MUNDO ATUAL?
IVJ: Um mundo em que é necessário cada vez mais que as pessoas tomem consciência e passem a tratar os seres, a fauna e a flora com sentimento de equidade. Precisamos romper com esse ciclo de destruição e pensar numa vida menos predatória.
J.P: UMA EXTRAVAGÂNCIA?
IVJ: Comer. Gosto de comer coisas saborosas. Se você abrir meu armário, vai ver que as roupas têm cinco, dez anos. Comida é minha extravagância.
J.P:UM TALENTO QUE NINGUÉM CONHECE?
IVJ: Gosto de cuidar de plantas, de mexer com a terra. Se não escrevesse, talvez fosse jardineiro.
J.P:UM LUGAR NO MUNDO?
IVJ: Salvador. É onde moro, em Itapuã, mas parei de circular pela cidade por conta da pandemia. Tenho saudade.
J.P: MANIA?
IVJ: De limpeza. Todo dia passo aspirador de pó e pano molhado. Até aos domingos. Uma mania que herdei da minha mãe. Tínhamos pouco recursos, os móveis eram herdados, mas ela tinha muito cuidado para que a casa fosse um lugar agradável para a família.
J.P:PERGUNTA QUE MAIS FAZEM PARA VOCÊ?
IVJ: Não fizeram diretamente, mas soube pela roteirista do ‘Conversa com Bial’ que a pergunta que mais buscam no Google é se sou casado. Fui ver e, de fato, aparece. Penso que, se pesquisam se eu sou casado é porque só podem querer fazer alguma proposta, né?
J.P: UMA SAUDADE?
IVJ: Das pessoas que se foram. Meu avô, avó, pai… até dos bichinhos. Quando a gente descobre o significado da palavra saudade, é algo que não tem retorno, que deixa um vazio. Essa ausência permanente é que suscita saudade.
J.P:DO QUE SE ARREPENDE?
IVJ: De não ter sido mais livre, ousado, principalmente na adolescência. E esses anos de experiência não voltam mais, tem coisas que não têm a mesma graça quando acontecem em outro tempo. Tem gente que não se arrepende de nada, eu sou mais humilde [r i s o s].
J.P:UMA FRASE?
IVJ: Sobre a terra há de viver sempre o mais forte. Escrevendo o romance ‘Torto Arado’, tive a consciência de que o mais forte é quem resiste a tudo.
J.P:COMO GOSTARIA DE MORRER?
IVJ: Em um dia ensolarado, na minha cama, com a janela aberta… Não queira entrar na cabeça de alguém que escreve, você vai ficar doida com o que vai encontrar.
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