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Por Bruna Narcizo para PODER

Os versos imortalizados na canção “O Barquinho”, de João Gilberto, que narram uma imagem contemplativa de um fim de tarde à beira-mar, não se aplicam a Torben Grael. Um dos principais velejadores brasileiros, ele diz que calmaria não é bom sinal. “Em uma competição, não temos tempo para relaxar no barco. Estamos sempre trabalhando a bordo.” Com cinco medalhas olímpicas no currículo (duas de ouro, uma prata e duas de bronze), Torben tem, ao lado de outro iatista, Robert Scheidt, a maior quantidade de conquistas brasileiras em Jogos Olímpicos.

Aos 52 anos, e sem previsão para se aposentar, Torben traz na pele, principalmente no rosto, as marcas de anos a fio dedicados ao mar. As rugas de expressão e o jeitão calado, com tom de voz baixo e tímido, não lembram em nada o “marinheiro” que enfrenta tempestades e ondas grandes sem medo na vela oceânica. Se sentir poderoso com o feito, no entanto, não é fácil. “No meio de uma tempestade é quando eu me sinto mais insignificante. Com o mar tem de ter respeito, quanto mais a pessoa se sente poderosa, mais imprudente fica”, explica.

Mas o homem tímido dá lugar ao sorriso fácil com os olhos verdes ainda mais brilhantes quando o assunto traz à tona as regatas “volta ao mundo” – ele disputou duas – na primeira, chegou em terceiro, e, na segunda, foi o campeão. São cerca de nove meses de competição. Cada etapa dura em média 20 dias e são seguidas de duas semanas de descanso. “Vivíamos em um intenso efeito sanfona. Como a comida a bordo era daquelas desidratadas com aparência de risoto, mas sabor de lavagem, a gente emagrecia”, diverte-se. O jeito era aproveitar as paradas para “comer bastante carne e tomar cerveja e vinho e engordar de novo”. A próxima edição será em setembro de 2014, mas Torben ainda não sabe se vai competir novamente. Segundo ele, existe um projeto de um barco brasileiro, que já está atrasado. “Só participo se for em uma equipe com chances de ganhar. Se for oba-oba, estou fora.”

Embora tenha sido um dos principais defensores para a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016, Torben argumenta que pouco viu a favor do esporte no Brasil. “Não teve muito investimento e agora não dá mais tempo para formar um atleta de ponta”, fala. Outra frustração vem do cancelamento de sua categoria, a Star, como modalidade olímpica. Existe, porém, a chance do retorno. “Se voltar eu vou tentar competir.” De qualquer forma, os Grael serão representados. Os dois filhos do iatista estão correndo atrás do índice olímpico. Martine, de 22 anos, é a líder no ranking mundial da categoria 49er feminino. Marco, de 23 anos, ficou em terceiro na mesma categoria – só que masculino – na pré-olímpica do Brasil.

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