O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, que aconteceu na noite dessa terça-feira, no Theatro Municipal do Rio, foi marcado por uma série de protestos contra o governo Temer. A grande maioria dos premiados que subiu ao palco deixou o seu recado contra o presidente. Anna Muylaert, diretora de “Que Horas Ela Volta?”, filme mais premiado da noite, com sete categorias: melhor longa-metragem ficção, melhor direção, melhor atriz para Regina Casé, melhor atriz coadjuvante – para Camila Márdila -, melhor montagem de ficção, melhor roteiro original e melhor longa-metragem de ficção por voto popular, começou seu discurso já em forma de protesto: “Primeiramente, Fora temer. Na eleição em São Paulo nós tivemos um dia triste, mas acho que quando a gente elege por voto direto, temos que respeitar”.
A diretora ainda lembrou que começou a escrever o filme há 19 anos. “Querer falar de maternidade e de separatismo social era muito importante e eu não tinha maturidade na época. Todo meu processo como roteirista e como diretora desembocou nesse filme, que eu considero meu trabalho mais maduro”. Já Camila Márdila subiu ao palco para receber o prêmio de melhor atriz coadjuvante, também por “Que Horas Ela Volta?” com um cartaz escrito: “Jamais Temer”. “Quero dedicar esse prêmio às Jéssicas. Isso resume muito o que a Anna Muylaert escreveu e me deu de presente, por isso sou eternamente grata. As Jéssicas são esses corpos livres e a utopia de quem deseja andar livremente, sem fronteiras e sem abismos, de pessoas que querem tomar suas decisões de acordo com o que elas querem fazer na vida, e não de acordo com sua classe social, lugar onde onde nasceu ou preferência social”. Ela terminou dizendo ainda: “Espero que o Rio tenha mais sorte que São Paulo, que é onde eu voto. Freixo, 50”.
Daniel Filho, que foi o grande homenageado da noite, fez ainda uma defesa das leis de incentivo no cinema.”Para um filme se contrata, desde quem pinta o cenário, quem dirige o carro, no mínimo de 600 a 700 pessoas, depois ainda tem lançamento, exibição… Então não é um dinheiro que a gente põe no bolso, roubando do povo brasileiro. O mínimo que a gente dá é essa coisa importante que é identidade nacional”, discursou o diretor de filmes como “A Partilha”, “Chico Xavier” e “Se Eu Fosse Você”.
Regina Casé também foi bastante aplaudida ao levar o prêmio de melhor atriz. Em seu discurso, ela disse que voltar a ser atriz foi maravilhoso e que o filme, entre muitos outros temas, fala principalmente sobre a maternidade. “O Roque [seu filho] tinha acabado de chegar e, naquele momento, a única coisa que eu queria era ser mãe, mas eu queria tanto voltar a ser atriz. eu estava tão apaixonada pela Anna, pelo roteiro e pela Val [sua personagem, uma empregada doméstica], eu viajei a vida toda, eu conheci tantas Vals, estava transbordando até aqui de Val e achava que não ia ter oportunidade de colocá-las para fora”.
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O segundo filme mais premiado da noite foi “Chatô – O Rei do Brasil”, de Guilherme Fontes. O longa sobre o empresário e jornalista Assis Chateaubriand, com cinco estatuetas: melhor roteiro adaptado, melhor figurino, melhor maquiagem, melhor direção de arte e melhor ator para Marco Ricca. “Muito obrigado, isso é a realização completa da minha vida. Metade da minha vida profissional eu usei produzindo esse filme e desenvolvendo esse roteiro, que foi uma árdua tarefa, 700 páginas, milhares de personagens que a gente reduziu para 11 figuras imprescindíveis para que pudessem marcar o momento e a importância do Chatô para a história do Brasil. Por maneiras diversas e estranhas, o filme demorou mais tempo do que eu gostaria, mas pelo menos chegou”, disse Guilherme ao subir no palco pela primeira vez, no prêmio de melhor roteiro adaptado. Para quem não sabe, o filme é o mais longo de todos os tempos: levou 20 anos para estrear.
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Domingos Oliveira foi o único a ser aplaudido de pé pela plateia. Ele levou o prêmio de Melhor Longa Metragem Comédia por “Infância”. Andando com dificuldade até o palco, o diretor brincou: “Façam 80 anos e vocês vão ganhar muitos prêmios”.
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A noite contou ainda com três apresentações musicais: um tributo a Cássia Eller, com a atriz que a interpreta no musical “Cássia Eller”, de Paulo Henrique Fontenelle – indicado a melhor longa documentário- ; Flávio Renegado com rap em homenagem às personalidades mortas no último ano e Matheus Vk, que contou com uma dupla trans para cantar “O Meu Amor”, de Chico Buarque. Aliás, “Chico – Um Artista Brasileiro”, de Miguel Faria, ficou com o prêmio de melhor longa documentário na noite.
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O último prêmio a ser entregue foi o Melhor Longa Metragem Ficção, que mais uma vez ficou com “Quer Horas Ela Volta?”. O elenco e toda a equipe do filme tomaram o palco com uma grande festa. “Todo mundo é algum personagem nesse filme. Só que essa história nunca tinha sido contada e foi revelada de uma maneira tão incrível. É como se você tivesse acendido todas as luzes. O que a gente vê ali é mais íntimo que uma cena de sexo”, finalizou Regina Casé. (Por Denise Meira do Amaral)
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Veja a lista completa dos finalistas e vencedores do 15º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro:
Melhor longa-metragem de ficção
“Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert
Melhor longa-metragem documentário
“Chico – Artista brasileiro”, de Miguel Faria Jr
Melhor longa-metragem comédia
“Infância”, de Domingos Oliveira
Melhor longa-metragem animação
“Até que a Sbórnia nos separe”, de Otto Guerra
Melhor direção
Anna Muylaert (“Que horas ela volta?”)
Melhor atriz
Regina Casé (“Que horas ela volta?”)
Melhor ator
Marco Ricca (“Chatô – O rei do Brasil”)
Melhor atriz coadjuvante
Camila Márdila (“Que horas ela volta?”)
Melhor ator coadjuvante
Chico Anysio (“A hora e a vez de Augusto Matraga”)
Melhor direção de fotografia
Adrian Teijido (“Órfãos do Eldorado”)
Mauro Pinheiro Jr (“Sangue azul”)
Melhor roteiro original
Anna Muylaert (“Que horas ela volta?”)
Melhor roteiro adaptado
Guilherme Fontes, João Emanuel Carneiro e Matthew Robbins (“Chatô – O rei do Brasil”)
Melhor direção de arte
Gualter Pupo (“Chatô – O rei do Brasil”)
Melhor figurino
Rita Murtinho (“Chatô – O rei do Brasil”)
Melhor maquiagem
Maria Lucia Mattos e Martín Macias Trujillo (“Chatô – O rei do Brasil”)
Melhor efeito visual
Robson Sartori (“A estrada 47”)
Melhor montagem ficção
Karen Harley (“Que horas ela volta?”)
Melhor montagem documentário
Diana Vasconcellos (“Chico – Artista brasileiro”)
Melhor som
Bruno Fernandes e Rodrigo Noronha (“Chico – Artista brasileiro”)
Melhor trilha sonora original
Zbgniew Preisner (“A história da eternidade”)
Melhor trilha sonora
Luiz Claudio Ramos, a partir da obra de Chico Buarque (“Chico – Artista brasileiro”)
Melhor longa-metragem estrangeiro
“O sal da terra”, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado
Melhor curta-metragem de animação
“Égun”, de Helder Quiroga
Melhor curta-metragem documentário
“Uma família ilustre”, de Beth Formaggini
Melhor curta-metragem ficção
“Rapsódia de um homem negro”, de Gabriel Martins