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Ilustração: Bruna Bertolacini
Ilustração: Bruna Bertolacini
Ilustração: Bruna Bertolacini
Ilustração: Bruna Bertolacini

Entre as exigências impostas na separação judicial, ela incluiu duas viagens internacionais por ano, uma cirurgia plástica e banco de horas para voos de helicóptero. Argumentou, chorosa, que havia sido traída – embora soubesse disso desde a lua de mel

Por Paulo Sampaio para Revista J.P fevereiro de 2017 | Ilustrações Bruna Bertolacini

À saída do suntuoso escritório de advocacia Alves Guimarães & Cristiano Vianna Associados, a designer de joias Ana Maria “Mana” Soares de Sá, 42 anos, tira de sua Birkin Bag um par de óculos de sol Dior So Real e o coloca no rosto. Armação grande, lentes meio espelhadas, meio dégradée, os óculos dão a Mana a fisionomia de uma mulher sofisticada/abalada, exatamente o que ela pretende no encontro com o marido, o empreiteiro Josias “Zico” Gomes Feitosa, 53, e os advogados que formalizaram a separação judicial do casal. A máscara dramática reforça o tom cerimonioso, e os acessórios servem para mostrar, na hora de fechar valores, que Mana Soares é uma mulher cara. Zico pediu a separação depois de anos sendo pressionado pela amante, Marcela Oliveira, 35, e mesmo sabendo que lhe custaria muito dinheiro. “Acho que foi o melhor que a gente tinha a fazer”, disse Mana, apertando demoradamente a mão do ex-marido, com ares de heroína de novela das 9.  Deu umas fungadas discretas, a título de choro, mas não conseguiu produzir lágrimas.

A negociação no escritório de advocacia tomou a manhã inteira de Mana. Encerrados os ajustes, ela se dirigiu ao Mini Cooper que ganhara de Zico quando descobrira que ele havia dado um para Marcela. Claro: Mana não se contentou apenas com o carro. Simulou um escândalo, e o marido deu a ela a Birkin. Na verdade, mais uma. O modelo agora era de “croco”, com fecho de diamante: ele pagou US$ 80 mil em espécie. Nada comparável ao que Mana conseguiu naquela manhã de primavera. Não é todo dia que uma mulher tem a oportunidade de ser deixada por um marido empreiteiro. Graças aos dois filhos gêmeos, Lorenzo e Catarina, 15 anos, os valores foram capitalizados em níveis estratosféricos. Os dois estavam casados em regime de separação total de bens, e isso deu a ela a possibilidade de colocar no pacote de exigências itens inimagináveis, sob o título de “pensão alimentícia”. Ficou estabelecido que Juca desembolsaria US$ 200 mil por ano para as viagens internacionais da mulher; R$ 184 mil em um pacote de 40 horas de voo de helicóptero e R$ 70 mil para cirurgias plásticas. Além da manutenção do físico, ela teve garantidas a casa de mil m2 – incluindo motoristas, seguranças, babás, jardineiro e piscineiro –, troca de carros a cada dois anos e “last, but not least”, como ela disse, a pensão das filhas. “Um valor simbólico”, ela classificou, como se o resto não fosse.

Ao entrar no Mini Cooper, Mana estava exultante. Soltou um grito de lutador de caratê. “RÁÁÁÁÁÁÁ!” Em seguida, expirou lentamente e ligou para Enzo. Ela sabia que um relacionamento com outro homem poderia colocar tudo a perder, por isso estava preparada para jamais deixar que seu caso com o amante configurasse uma união estável. Não seria um grande problema. Os dois poderiam se ver regularmente, namorar à vontade, viajar como amigos no helicóptero e para fora do Brasil. Só não morar juntos – mas quem queria? Enzo Furfante era um importador italiano de 60 anos que negociava com marcas de carros de luxo. Estava encrencado com o Fisco, mas mantinha o porte alegadamente nobiliárquico. Apresentava-se como “conde na Itália”. Costumava atribuir a culpa dos próprios delitos à desorganização no Brasil: “In Brasile il più soldi è dovuto guadagni (No Brasil, quanto mais se deve, mais se ganha)”, dizia ele, bufando a fumaça de um charuto. Mana achava o sotaque dele o máximo. Adorava dizer às amigas que “o homem italiano é diferente”. Furfante era casado há 20 anos com a socialite Glorinha Albuquerque de Macedo, 45, que ele conheceu quando ela estudava “línguas” em Milão. O temperamento aventureiro do conde o trouxe ao Brasil, e ele desembarcou fazendo o papel de “namorado italiano da Glorinha”. A princípio, viveu “dela”.  Cheio de ideias, não conseguia realizar nenhuma. Quebrou todos os negócios que iniciava: restaurante, sorveteria, confecção masculina…

Os dois casais eram amigos do clube de golfe, e Furfante achava que Zizo até suspeitava de seu caso com a mulher dele, mas no fundo dava graças a Deus que alguém se ocupasse dela. Assim ficava livre para atender às demandas de Marcela. Zico também havia saído com Glorinha, mas não foi nada sério. A diferença agora é que a separação de Zico e Mana envolvia muito dinheiro. Apesar de ter concordado com as exigências dela, o empreiteiro era sabidamente pão-duro. E certamente ficaria furioso se soubesse que seu dinheiro estava indo parar nas mãos de um italiano conversador. Cedeu às exigências de Mana, em grande parte, porque ela ameaçou chamar a imprensa e contar “tudo” (o que sabia sobre o propinoduto que ligava empreiteira e parlamentares). Furfante tomou um Viagra para comemorar com Mana. “Ti voglio tanto bene!”, disse, muito cabotino, enquanto abria uma garrafa de Brunello di Montalcino. Depois de dois goles, Mana já acreditava em tudo. No amor (e no tesão) do amante, no empreendedorismo dele. Nossa amiga agora só pensava em comemorar seu novo status. Ela acabava de adquirir uma nova função: tornou-se uma ex-mulher profissional.

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