É hora de aumentar o som e dançar sem parar: estreia nesta sexta-feira, no Teatro Bradesco Rio, o musical “O Frenético Dancin’Days”, baseado nos áureos tempos da boate que dá nome à peça. O espetáculo conta com roteiro assinado por Nelson Motta e Patrícia Andrade, e marca o debút da coreógrafa e bailarina Deborah Colker na direção de um espetáculo teatral. Motta idealizou o Frenetic Dancing’Days Discotheque, no Rio, junto com os amigos Scarlet Moon, Leonardo Netto, Dom Pepe e Djalma Limongi. Durante os quatro meses em que funcionou, na década de 1970, o hotspot era encontro de todos os ‘seres livres’ e deixou muitas histórias para contar. Mais de 40 anos depois, o jornalista, produtor musical e agitador cultural bate um papo com Glamurama, e não só revive os tempos da ‘disco’, como também os compara com os dias atuais. Tudo sem saudosismo, algo que ele não gosta.
Glamurama: Como recriou o universo ‘disco’ para o musical “O Frenético Dancin’ Days”?
Nelson Motta: “O texto é meu e de Patrícia Andrade. A entrada dela foi muito importante porque tenho a memória de ter vivido tudo aquilo e ela não, então trouxe uma fantasia à história. Não queria fazer um Globo Repórter sobre o Dancin’ Days, então metade é fato, metade é fantasia, com personagens reais e inventados. Isso vem de uma antiga ideia que tinha, mas quem botou para frente mesmo foi a minha filha, Joana Motta, produtora da peça. E com a entrada da Deborah [Colker] mudou tudo. Ela é completamente inovadora, audaciosa e vai além. Não faz cópia da Broadway. Ela participou bastante da criação do texto, acrescentando e tirando cenas. Tudo isso deu um equilíbrio importante.”
Glamurama: Como evitar estereótipos da Broadway em uma produção como esta, que envolve tantas cores e músicas?
Nelson Motta: “Não é uma reconstrução de época. É um espetáculo, melhor até do que a história real, que já é maravilhosa. Neste musical, Deborah encontrou a oportunidade de fazer um show brasileiro, dela. É bem tropicalista e tem um perfeccionismo impressionante. Da coreografia às músicas e figurino, tudo é original.”
Glamurama: E a parte musical?
Nelson Motta: “As músicas são maravilhosas, clássicos da ‘disco’, de Gloria Gaynor e Donna Summer, Disco Inferno, além de várias brasileiras, sendo que quatro são das Frenéticas. A história delas também é contada na peça.”
Glamurama: Como foi reviver os dias da icônica boate? Bate saudade?
Nelson Motta: “Não sou saudosista, raramente converso sobre esses assuntos, mas era trabalho. Me acho um privilegiado por ter vivido essa aventura. Foram quatro meses de um delírio que nasceu de um fracasso. Depois do prejuízo do Festival de Saquarema (1976), que foi parar na TV, o Shopping da Gávea me ofereceu um espaço de graça, pois eles queriam chamar a atenção para o lugar que ninguém conhecia. E bancaram tudo: cenografia, decoração… em um espaço que comportava 600 pessoas. Eu tive por anos um projeto no Morro da Urca, às sextas e sábados, ao ar livre, e sabíamos que se chovesse, f***, mas o Dancin’ era dentro de um shopping, um fantasma praticamente, sem nada de lojas. Na época era um absurdo, mas acabou sendo confortável porque tinha um baita estacionamento, totalmente vazio, de graça, onde as pessoa podiam deixar seus carros, uma comodidade que hoje é impossível oferecer.”
Glamurama: Dá para comparar a cena noturna dos anos 1970 com a de hoje?
Nelson Motta: “Não tenho como porque não tenho vida noturna há muitos anos. Na verdade, até os meus 40, 42, vivi não só na noite como da noite. Tive cinco casas noturnas, adorava, mas cansei, mudei de vida e passei a caminhar na praia, dormir cedo… saio pouco, não tenho a menor noção do que está acontecendo nesse cenário. O que eu sei, é que a época é muito diferente pelo ambiente em volta, pela cidade. Naquele tempo as pessoas iam a pé nesses lugares, não acontecia nada, segurança total e hoje têm medo de sair… Era festa toda noite, apesar de Nova York estar em alta por causa da era ‘disco’, o Rio era muito menor, então todo mundo se conhecia, não só o pessoal do teatro, mas na mesma praia circulavam jovens socialites, coroas, surfistas, garotinhas de praia, patricinhas, piranhas, doidões, jornalistas, estrelas da Globo, um mix total já que havia poucas opções de lazer. Hoje isso seria impossível, tudo está muito mais disperso. Seria um pesadelo administrar algo desse porte. Atualmente a diversão se baseia muito mais em festas, é um business. Meu neto Joaquim Motta faz muitas, é meu sucessor nisso.”
Glamurama: Conte alguma curiosidade daqueles tempos.
Nelson Motta: “Colocamos na peça algumas situações reais e outras que aumentamos para o bem da comédia. A linguagem do musical é muito livre. Tem a história de uma vizinha do Dancin’, professora, que dizia que não conseguia dormir por causa do som da boate, mas como ela morava no sétimo andar a gente não acreditava nisso, até que fomos até lá e vimos que realmente o som chegava. Trouxemos esse episódio real para o espetáculo, ela virou uma personagem, Dona Dayse, interpretada por Stella Miranda, e acaba se tornando sócia da boate – o que na vida real não aconteceu. Outro caso que contamos é sobre a forma totalmente clandestina como o Dancin’Days funcionou, sem licença, alvará, PIS e Cofins, não tinha p@##a nenhuma, e a gente foi empurrando com a barriga, dizendo que era temporário, e ate hoje é proibido ter casa noturna naquele bairro.”
Glamurama: Sem redes sociais, como as pessoas se promoviam? Como se sabia das festas, das fofocas, do que acontecia no jet set?
Nelson Motta: “Na praia. Quem não fosse lá estava f&%@#o, não ia saber de nada – onde era a festa, quem namorava quem, qual era o show… As redes sociais eram as redes de vôlei da praia. Não tinham tantas na época e acabavam no Leblon, então cada verão o point era um posto diferente. E todo mundo ia lá, não tinham outras opções e todas as tribos se misturavam naquele pedaço. Quem aparecia aos sábados sabia de todas as novidades.”
Glamurama: Além do musical, está envolvido em outros projetos?
Nelson Motta: “Tenho uma série de TV de 13 programas sobre meu livro ‘101 Canções que Tocaram o Brasil’, que está em fase de finalização e vai ao ar em novembro pelo canal Curta, em que falarei sobre oito canções por episódio. E um outro trabalho inédito na GloboNews, o “Em Casa com Nelson Motta”, em que me apresento sozinho na minha casa contando histórias sobre diversos artistas. A primeira temporada terá 10 programas e estreia após as eleições. O primeiro programa é sobre a Rita Lee, o segundo sobre Maria Callas, outro de Shakespeare, Nelson Rodrigues, Tom Jobim, depois um só sobre Marisa Monte.” (Por Julia Moura)
“O Frenético Dancin’Days”
Estreia: 24 de agosto (sexta)
Temporada: até 21 de outubro
Horários: Sextas: 21h / Sábados: 17h e 21h / Domingos: 18h
Teatro Bradesco Rio (Avenida das Américas, 3900 – loja 160 do Shopping VillageMall – Barra da Tijuca)
- Neste artigo:
- Entrevista,
- nelson motta,