Ícone do Carnaval, Maria da Penha Ferreira Ayoub, conhecida como Pinah, a careca da Beija-Flor e a Cinderela Negra, segue ativa no Carnaval, mas com menos intensidade. “Eu já nasci no Carnaval, nunca parei, só deixei de ter destaque na escola.” Hoje, há mais de 40 anos de seu auge, sua participação se dá como conselheira da Beija Flor, mas, como mora em São Paulo, acompanha as decisões do comitê de longe – muitas vezes por meio de vídeos na página do Facebook da escola -, mas pouco opina. Só vai para o Rio para se divertir e defender o pavilhão.
Para ela, que trata o Carnaval com toda seriedade, a festa perdeu sua essência: “Acho que hoje eles fazem Carnaval só pra turista ver. É um negócio diferente. Digo que existe o Carnaval pré e pós Joãosinho Trinta. Antes era muito mais gostoso, tinha uma emoção diferente. Hoje, você vai ao desfile para ver e ser visto.” Seu momento favorito da folia curiosamente não é exatamente na Sapucaí. É quando a Beija-Flor desfila 15 dias depois do Carnaval em Nilópolis, cidade em que foi fundada. “Lá não tem o status da Sapucaí, são só as senhorinhas que acompanham a Beija-Flor desde o começo. Há um espírito de comunidade muito bom.”
“O povão pensa que Carnaval é um monte de maluco pulando sem eira sem beira. Não é. Carnaval é coisa muito seria, tem começo, meio e fim. O lema da Beija-Flor deste ano, ‘Monstro é aquele que não sabe amar’, fala muito disso.” Nos últimos anos, Pinah reunia familiares e amigos em camarote próprio que tinha no Rio e em São Paulo. Regalia que lamenta ter abandonado nos últimos dois anos. “Agora não tenho mais nada de camarote. No nosso país não tá dando mais pra ter esses exageros. Este ano fiquei no camarote da prefeitura, onde até água é preciso pagar”, reclamou ela,
A eterna musa relembrou a noite de 1978 que mudou sua vida, quando dançou e impressionou o príncipe Charles. “No momento exato do acontecimento eu achei que o príncipe era na verdade o chefe de segurança dele, porque a burocracia foi tão grande em torno da vinda dele, que nunca imaginava que aquilo pudesse acontecer.” Pinah só foi se dar conta do ocorrido no dia seguinte, quando a imprensa estava plantada na porta de sua casa.
Quem pensa que Pinah mantém um rico acervo de fantasias se engana. “Não tenho nenhuma. A última que eu tinha guardada como relíquia, emprestei pra uma escola de samba e roubaram a minha roupa.” Entre as poucas coisas que guarda está o adereço de cabeça que usou quando dançou com o príncipe. “Pensei em doar, mas por insistência da minha filha, Claudia, acabei guardando…”.
Sua vivência fora do país durou pouco. Morou apenas seis meses em Paris e voltou. “Uma coisa é você ser gari no seu país, outra coisa é ser imigrante lá”, comparou. Há mais de 30 anos Pinah Ayoub, contadora por formação, atua como empresária no Brasil. Hoje, passa boa parte de seu tempo às voltas com sua empresa Palácio das Plumas, que fornece aviamentos para fantasias. Sua filha Claudia carrega seu legado e, assim como Pinah foi um dia, é atualmente destaque da Beija-Flor. Questionada se a filha a representa, Pinah dispara: “Acho que ela conquistou o espaço dela. Começou desfilando no chão e depois virou destaque.”
Sobre a escolha atual de boa parte das escolas por rainhas de baterias que sejam figuras famosas, ela prefere não opinar, mas fala com orgulho: “Na Beija-Flor, todas são da comunidade.” Para bom entendedor… (Por Julia Moura)
- Neste artigo:
- beija-flor,
- Carnaval,
- Entrevista,
- Pinah,