Pedro Benoliel, 28 anos, é um dos grandes nomes da nova safra de chefs cariocas. Judeu, serviu ao Exército de Israel, onde aprendeu a cozinhar. Mesmo sendo filho da banqueteira Monique Benoliel, antes disso ele só entrava na cozinha da mãe “para comer”. “Sempre soube desde criança que eu queria fazer isso, mas não assumia. Por orgulho. Ah, é a profissão da minha mãe… Essas coisas, sabe?” O jovem estreia o programa de culinária “Cozinha na Laje”, no canal pago Food Network, nesta terça-feira. “Eu era virgem de câmera, mas todo mundo sempre falou pra mim que eu tinha que tentar algo na TV. Sou espontâneo e língua solta.”
Sim, Pedro é tudo isso e está hilário no primeiro episódio, que Glamurama viu antes. Aparece até tomando banho em uma caixa d’água, na comunidade do Vidigal. “Nada erótico”, avisa. Os pratos que ensina… Todos simples. “Não tenho tesão de fazer alta gastronomia. Comida não precisa ser blasé.” Sobre o sucesso que faz com as mulheres… “Não me acho um cara bonito: olha o tamanho do meu nariz e da minha boca! Mas tenho meu charme, consigo enganar bem e não tenho vergonha. Tenho esse poder de envolvimento e isso ajuda [na profissão]. Mas fico muito preocupado em provar pra quem eu estou cozinhando que tenho capacidade e não sou só um bonitinho.” Vem conhecer mais sobre Pedro na nossa entrevista, aqui embaixo! (por Michelle Licory)
Soltinho, soltinho
“Sou falastrão, mas sou de poucos amigos. Não sou de galeras. Mas sempre fui espontâneo, língua solta. Todo mundo sempre falou pra mim que eu tinha que tentar algo na TV, nesse segmento. Não procurei, aconteceu mesmo. Uma amiga minha me indicou para a produtora. Fiquei meio na expectativa, nervoso quando soube que existia a exposição, mas vamos lá, vamos encarar. A oportunidade não bate na porta duas vezes. Fiquei confortável de fazer, sei que sou eu no vídeo, então não tem do que em envergonhar. A intenção é passar uma coisa bacana, engraçada, que seja eu.”
“Nunca tive problema com subir morro”
“Fazer o programa com esse gancho de laje foi uma proposta do canal. Já ta tudo gravado, são 10 episódios, toda terça-feira. Estou aberto para outras temporadas, sim. A ideia agora é trabalhar, correr atrás. Ver se corresponde às expectativas. O Carlão, dono da laje que serviu de locação, no Vidigal, era nossa conexão com a comunidade e nos introduziu por lá. Subir com câmera… As pessoas ficam meio cabreiras. Mas tendo alguém local com você é tranquilo. Ele disse: ‘Não se preocupem.’ Sempre fomos muito bem tratados, bem recebidos. Caminhamos por toda a comunidade. Não tivemos nenhum problema. Fui criado em São Conrado, entre a Rocinha e o Vidigal, então nunca tive problema com subir morro. Tinha funcionários que moravam lá, já tinha ido, me senti confortável naquele ambiente. Apesar dos contrastes do Rio, de ser muito segregado, o contraste está na nossa cara, então o carioca fica habitué disso.”
“Tive que tirar a roupa”
“A gente não fez muito barulho, mas não senti preconceito. Só senti um desconforto quando fui gravar a cena da caixa d’água [ele aparece tomando banho lá na abertura do programa]. Tive que tirar a roupa, ficar só de cueca. Uma galera da comunidade olhando… Mas a gente explicou que não era nada que desrespeitasse as mulheres deles, nada erótico, era para fazer uma abertura bem humorada. E eles entenderam. Curtiram e no final bateram palma. Ficamos 15 dias gravando na laje. Nesta primeira temporada, o programa se compõe nas receitas, no lifestyle carioca, alguns gostos pessoais meus e sempre uma banda. Não consigo mentir: sou muito transparente. Então a minha transparência se reflete no programa. Está muito natural pra mim. Consigo lidar bem com a câmera, e olha que eu era virgem de câmera. Foi uma experiência totalmente nova.”
Como tudo começou
“Fui morar em Israel. Passei dois anos lá. Trabalhei de cortador de carne numa churrascaria brasileira. Cansei, pedi pra ir para a cozinha, fiquei como ajudante de cozinha. Depois passei um ano no Exército. Aí voltei para o Brasil, e minha mãe [Monique Benoliel] falou: ‘Acabou a brincadeira. Você está com 20 anos, tem que começar a estudar. Fica à vontade para escolher qualquer coisa.’ E eu só sabia cozinhar, ou achava que sabia. Na verdade, não sabia nada. Me matriculei na faculdade. Estagiei no Zazá Bistrô [de Zazá Piereck, em Ipanema] e no Le Pré Catelan. Tive alguns problemas pessoais, de família, então tive idas e vindas no restaurante. Uma semana depois de formado, estava em Paris. Fui aprender francês, fiz um curso de quatro meses na Sorbonne. E fui trabalhar em restaurantes lá que me deram uma visão de comida, uma conhecimento de produto… Algo que eu não imaginava ter. Técnica. Fiquei 1 ano em Paris. Tinha ido passar o o meu aniversário em Barcelona. Pensei: ‘Essa cidade é maravilhosa, quero morar aqui, é o Rio de Janeiro que funciona… Jesus Cristo.’ Aí passei um ano em Barcelona, fazendo um curso de sobremesa empratada. Voltei para o Brasil e já entrei na engrenagem do buffet da minha mãe.”
“Sou o hortelã da limonada dela”
“Antes de Israel, só entrava na cozinha da minha mãe para comer. Sempre soube desde criança que eu queria fazer isso, mas não assumia. Por orgulho. ‘Ah, é a profissão da minha mãe…’ Essas coisas, sabe? Hoje trago, sim, um frescor para o buffet dela. É de propósito, uma estrategia. Eu e ela temos um diálogo muito aberto, ela me dá total liberdade. Deposita muita confiança em mim em relação ao ritmo do buffet e onde ele vai parar. Hoje faço seleção de cardápio, treinamento de pessoal, toco os eventos, mas existe uma tendência à renovação. Se a gente estagnar… Bom, um buffet que tem mais de 20 anos de história, é uma marca tida como tradicional, e eu acho que eu sou o hortelã da limonada dela, venho para dar esse frescor. Paralelamente, tenho meus eventos pessoais, jantares que faço por mim, fora do buffet. Dentro de um buffet você se limita muito. E poder sair um pouco da casinha, isso está me dando um sentimento muito bom porque consigo me preencher e ajudar a minha mãe ao mesmo tempo, tocar as duas coisas.
“Não sou só um bonitinho”
“Não me acho um cara bonito: olha o tamanho do meu nariz e da minha boca! Gigantes. Mas tenho meu charme. Consigo enganar bem. Não tenho vergonha. Tenho esse poder de envolvimento e isso ajuda [na profissão]. Mas fico muito preocupado em provar pra quem eu estou cozinhando que tenho capacidade e não sou só um bonitinho.”
“Não tenho tesão de fazer alta gastronomia”
“Comida pode ser sofisticada, mas não precisa ser blasé, nem chata. Existe uma galera que eu respeito, mas não tenho tesão de fazer alta gastronomia. Não me sinto bem. Passei um tempo em Paris e Barcelona porque tinha que conhecer, ter base. Mas o buffet não é sofisticado. Vai direto ao ponto: simples, bem feito, saboroso, para agradar gregos e troinanos dentro da mesma arena. Na Casa Glamurama Rio [ele foi nosso ‘chef oficial’, durante o verão] não fiz nada sofisticado, mas molhos bem feitos, carnes bem temperadas, com meu toque.”
“Antes de poder aposentar a velha, deixa-la ganhando mesada em casa”
“Moro com minha mãe, graças a Deus. Ela sempre teve esse sentimento de que eu seria o único filho que seguiria na profissão e no mercado. Ficou amarradona. Mas foi um longo processo até eu começar a assumir as coisas. Ainda não estou preparado para assumir tudo e isso é uma coisa muito clara na minha visão. Ainda tenho que aprender muita coisa antes de poder aposentar a velha. É um processo natural. Se Deus quiser, vou conseguir assumir toda a história e deixa-la descansar, ganhando mesada em casa.”
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