por Roberta Sendacz
O erotismo parece ser algo universal. Falado em todos os tempos, em todas as línguas. A passagem do século XVIII para o século XIX marca um fato importante, o fim de uma era que privilegia a universalidade (atemporal), para ser substituída por outra mais histórica, com um pé realmente na temporalidade (em que tudo tem fim). O livro “Poesia erótica em tradução”, de José Paulo Paes, nos dá a impressão deste “falar a mesma língua de todos os tempos”, mesmo trazendo poeminhas que vão desde a Antiguidade clássica até os dias de hoje. Só que sabemos: toda forma de expressão artística traz sempre alguma marca de sua época. Assim sendo…
Adivinhe de onde e de quando é o poema “Jogo”: “Se a beijar, conte quinze vasas;/ Trinta se lhe tocar a teta;/ Se chegar ao monte em brasa/ Quarenta e cinco de gorjeta./ Mas se lhe puser na greta/ O que às mulheres mais convém/ Vossa mercê (não conto peta)/ Ganhou o jogo. Parabéns”. Trata-se de um texto francês, anônimo, do século XV. Não se nota. Embora traga marcas de expressões da época, é absolutamente compreensível. Beijo, teta e até greta, todos entendem o que são.
No livro, há textos de grandes nomes da literatura mundial. Tem os dos especialistas, mas também daqueles não especializados em erotismo como Pablo Neruda, La Fontaine, Goethe, Baudelaire, Rimbaud que, no entanto, na coletânea, se rendem a falar coisa feia. O legal da edição é que vem com textos explicativos sobre cada autor e a sua relação com o erotismo. É muito sedutor!