A apresentadora e empresária Ticiana Villas Boas passou um dos melhores fins de ano de sua vida navegando pelo rio Negro: mergulhou nas ilhas do arquipélago de Anavilhanas, provou de tambaqui a matrinxã e se deslumbrou com a sabedoria dos ribeirinhos que criam seus filhos brincando na natureza.
Em depoimento a Carol Sganzerla para a revista J.P
Passei o Réveillon com meu marido, filhos e enteados navegando pelo rio Negro. E, olha, foi um dos melhores fins de ano da minha vida. Surpreendente é a palavra que define. O barco em que ficamos, o Untamed Amazon, era como se fosse uma balsa adaptada, todo envidraçado e com vista deslumbrante, além de ter ar-condicionado, quartos e roupas de cama confortáveis.
O nosso guia, Samuel, é uma espécie de líder comunitário e referência para os povos ribeirinhos, um indígena muito culto e conectado com o mundo, que nos deu verdadeiras aulas sobre a floresta e seu povo. Esse contato foi um grande diferencial, aprendi muito e ele nos fez ficar ainda mais encantados com tudo o que víamos e vivíamos. Viajar com boa informação é sempre especial.
Também adorei fazer caminhadas pela floresta, percorrer os igarapés nas “voadeiras”, nadar com os botos cor-de-rosa e passar o dia em comunidades ribeirinhas. Almoçamos a comida feita pelos locais, conhecemos suas escolas e as crianças aprenderam a fazer farinha (toda comunidade ribeirinha tem uma casa de farinha, que é importante tanto para as refeições como fonte de renda). O que mais chamou a atenção das crianças foi a oca e o jeito que os indígenas vivem. “Não tem armário? Não tem onde guardar as coisas?”, eles perguntavam. Por tudo o que a gente está acostumado, com excesso de roupas, sapatos, brinquedos, foi um choque de realidade. Lá, as brincadeiras são com a natureza, no rio, na areia, e as casas não têm tantas coisas: são só as redes. E eles são felizes.
Entre as descobertas, ainda, a comida foi uma atração à parte. Apesar de eu ser baiana do litoral, nunca fui fã de peixe, só comia frutos do mar, mas na viagem experimentei os peixes amazônicos. Simplesmente deliciosos. Provei o tambaqui, o pirarucu e o matrinxã, que nunca tinha ouvido falar, mas que é tão bom quanto os dois primeiros.
O que mais me chamou a atenção, no entanto, foram as ilhas de areia branquinhas, no meio do rio. Passamos a maior parte do tempo no arquipélago de Anavilhanas. Centenas de ilhas de banco de areia com águas quentinhas e limpas. Um banho de rio delicioso. E a equipe do barco montava toda uma estrutura, com almofadas e tendas na praia, churrasqueira, bebidas geladas e música. Fizemos um luau inesquecível.
Uma outra coisa que não fazia ideia, e adorei, é que o rio Negro não tem mosquitos! A imagem que eu tinha da Amazônia era de um calor imenso e um monte de mosquitos, mas o rio tem uma brisa gostosa e suas águas escuras são por causa da grande quantidade de matéria orgânica – é um rio de água com pH ácido –, o que faz com que não tenha insetos. Voltamos sem nenhuma picada e nem precisamos passar repelente.
As crianças simplesmente enlouqueceram. Tenho certeza de que nunca esquecerão. Entrar na floresta foi uma aventura, ainda mais à noite. Lá, eles chamam de focagem de jacaré: capturam os animais para vermos de perto e depois os devolvem ao rio. Imaginem como os pequenos ficaram? Sair naquela escuridão só com o guia em um barquinho para “caçar jacaré” na floresta amazônica?
Esta foi a minha terceira ida para a Amazônia. A primeira vez fui a trabalho como repórter do Jornal da Band para cobrir uma cheia histórica, em 2009, experiência que passou longe do turismo… Foi inesquecível, uma visão real das dificuldades que o povo de lá enfrenta, mas na viagem de agora e na do ano passado, quando fiquei hospedada no Mirante do Gavião Amazon Lodge, tive oportunidade de conhecer a estrutura de hotéis e me surpreender com o serviço. No Mirante, nós chegamos de hidroavião. Pousamos na água do rio Negro, bem em frente ao hotel, que fica numa região com várias opções de passeios de barco rápido. A arquitetura era linda, superdiferente e original, com todas as construções de madeira de lei certificada. Outra vantagem era a proximidade da cidade de Novo Airão, que vale muito a pena conhecer. Lá tem vários projetos sociais interessantes destinados a indígenas e ribeirinhos, como a Fundação Almerinda Malaquias, ONG na qual a população local aprende o ofício da marcenaria por meio do reaproveitamento de madeiras descartadas.
Acho que nós, brasileiros, temos que conhecer e valorizar mais nossas riquezas. Nossa floresta tem um potencial imenso, o povo de lá merece oportunidades e investimentos. E é perfeitamente possível a região se desenvolver e ter avanços econômicos com a floresta em pé.
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