O papo da live dessa terça-feira foi com Ilona Szabó de Carvalho, colunista da Folha de SPaulo, âncora do podcast “Você Pode Mudar o Mundo” e palestrante do TED. E muito mais… É uma liderança renomada internacionalmente em questões de controle de armas, política de drogas, violência policial, ação cívica e climática. É cofundadora e presidente do Instituto Igarapé, um ‘think and do tank’ independente que trabalha na intersecção de pesquisas, novas tecnologias, comunicação e políticas públicas. Nomeada uma das 50 maiores pensadoras da atualidade pela Revista Prospect em 2020, e Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial em 2015, Ilona é mestre em Estudos Internacionais pela Universidade de Uppsala na Suécia, fellow de políticas públicas na Universidade de Columbia em Nova York e pesquisadora afiliada do Brazil Lab da Universidade de Princeton. Ufa! Ela também é autora dos livros ‘A Defesa do Espaço Cívico’, ‘Drogas: as histórias que não te contaram’ e ‘Segurança pública para virar o jogo’, e foi co-roteirista do documentário ‘Quebrando o Tabu’, dirigido por Fernando Grostein. “Comecei a me interessar por esses temas quando fui estudar no Rio de Janeiro. A angustia de olhar a cidade, a questão da violência, me moveu nesse sentido. Comecei a perceber que tinha algo muito errado nisso tudo e decidi estudar isso a fundo”, lembra ela que, por causa de ataques de ódio e ameaças, acabou indo passar um tempo e estudar em Nova York. A pandemia chegou e, em vez de voltar para o Brasil, Ilona e o marido optaram por ficar no Canadá, de onde ela toca seu trabalho no instituto Igarapé e outros projetos.
Sobre armar a população
“A política ostensiva de liberação de armas do governo Bolsonaro é muito preocupante. Todas as pesquisas robustas no mundo mostram que quanto mais armas em circulação, mais mortes. Somos o país com maior índice de homicídios por armas de fogo. Numa democracia a gente não terceiriza a segurança. É obrigação do governo prover isso à população. Mas a liberação das armas sempre foi uma das prioridades do político Jair Bolsonaro, antes mesmo de chegar à presidência. Acabou virando uma questão política.”
“Há 20 anos trabalhando na sociedade civil, não imaginei que a deterioração do país ia ser tão rápida e tão perigosa como está sendo nos últimos dois anos. A democracia é um exercício diário. Por mais que as elites possam pagar pela saúde e educação, pela segurança não dá. Quem acha que vai se proteger se blindando, se fechando, contratando seguranças… queremos construir uma sociedade de muros? Porque as pessoas viajam para fora do país para se sentirem seguros, mas não fazem nada para traz essa segurança para cá. É uma cilada pensar que a segurança pública não importa. Estamos num momento em que a polarização não ajuda. Passar por cima de diferenças, desde que o objetivo final seja o bem coletivo, ajudaria a construir pontes, superar dificuldades. Hoje estou muito ativa em alertar para a política de armamento, que é péssima para o ser humano e péssima para o país. Vi isso acontecer na Venezuela, no Haiti, na Itália, com Mussolini. Se tivéssemos lideranças inspiradoras e responsáveis, tudo seria diferente. Vamos ter que cuidar do nosso país que está doente, com paciência, união e resiliência.”
Luciano Huck presidente?
“Vejo ele como uma pessoa muito preocupada com o país e que quer contribuir. Enquanto cidadão, ele tem sido muito ativo. O Luciano é hoje uma liderança cívica. Qualquer outro passo será uma decisão dele, e muito difícil.”
Discriminalização das drogas
“Como trabalhava com a violência, acabei estudando também a questão das drogas no Brasil. Mergulhei no tema e percebi que a justificativa que todos queriam dar era que as drogas ameaçam a democracia na América Latina. Na verdade, a política de drogas ameaça a democracia em qualquer lugar do mundo. O consumo é um problema de saúde pública. Uma política moderna foca na educação e no controle do abuso. O aparato que foi criado pra lidar com as drogas hoje é mais danoso que a própria droga. É enxugar gelo. O foco tem que ser no crime organizado, nos crimes violentos…”
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