J.P embarcou em uma viagem a bordo do Al Andalus, trem de luxo criado originalmente em 1920, para desbravar uma de regiões mais místicas e cheias de cultura da Espanha: a Andaluzia.
Por Morgana Bressiani para J.P Dezembro de 2016
Os motivos para se apaixonar pela Espanha são muitos – gastronomia, vinhos, paisagens e cultura armazenada em séculos de história. Com um roteiro de apenas uma semana pelos trilhos do país, passando pelas principais cidades com partida e chegada de Sevilha, encontramos grande parte de toda a simbologia local: a arquitetura magnífica, o flamenco e as touradas, além da forte influência árabe e cigana.
Com decoração original de seus primeiros anos, em estilo vitoriano, o trem Al Andalus possui um vagão-bar, dois lounges, dois vagões-restaurantes e sete dormitórios, confortáveis como um ótimo hotel. Além de um banheiro muito bem equipado, guarda-roupa e cofre, ar-condicionado, uma pequena mesa e criado-mudo, há uma cama de casal com vista para duas janelas que enquadram os melhores cenários da viagem, que passa por campos de oliveiras a ruínas de casarões antigos. Lugar ideal para acompanhar o pôr do sol enquanto o trem percorre o caminho de uma cidade a outra.
Café da manhã e jantar são servidos a bordo, enquanto nos almoços pode-se conhecer a culinária da região. Famoso no mundo inteiro pelo seu sabor singular, o jamón é definitivamente umas das estrelas servidas pela manhã. Já durante a noite, o chef apresenta pratos locais, como o pescado do Mar Mediterrâneo. Tudo acompanhado pelos melhores vinhos da região. As noites no trem ainda são embaladas por música ao vivo, cocktails e, para encerrar a viagem, uma festa que transforma o vagão-bar em pista de dança. Ao roteiro!
Sevilha
Capital e principal cidade da região, é parada obrigatória em qualquer viagem pela Andaluzia. Por ali, nos perdemos pelas ruas, observando o casario e lojinhas das mais encantadoras, entrando em becos e ruelas até chegar a La Giralda, magnífica torre, parte da maior catedral gótica do mundo. No interior da catedral encontra-se uma grande recompensa de tesouros de arte e artesanato, incluindo a impressionante tumba de Cristóvão Colombo. Depois, passamos pela Plaza de España, onde é preciso um momento para recuperar o fôlego, reflexo de estar diante de algo tão grandioso, neste caso com 50 mil m2. O lugar foi cenário para a Theed, cidade capital do planeta Naboo, em dois episódios da franquia Star Wars. Ao lado da praça está o Parque Maria Luisa, que, inicialmente, era os jardins privados do Palácio de San Telmo, um verdadeiro oásis para quem enfrentou os 51 graus – recorde de temperatura do país –, no começo de setembro.
Jerez de la Frontera
O segundo dia começa com parada estratégica na adega González Byass, em Jerez de la Frontera, onde é produzido o vinho Tio Pepe, um dos mais famosos e mais vendido do país. Empilhados nas várias adegas – que lá ficam sobre a terra –, estão incontáveis barris da bebida assinados por grandes personalidades, entre elas José Saramago, Steven Spielberg, Ayrton Senna e até a realeza da Espanha. Os cavalos da Escola Real Andaluza de Arte Equestre também são famosos, como revelam as exibições hípicas de alta doma. O programa é dispensável pela brutalidade, mas um passeio pelo gigantesco jardim que cerca o local ou pelo Museu da Arte Equestre são bons refúgios.
Sanlúcar de Barrameda
Se você é da turma dos programas ecológicos, acrescente Sanlúcar de Barrameda a sua lista de must go. A cidade está na foz do rio Guadalquivir, o maior de Andaluzia, estuário de natureza privilegiada, com muitas áreas de preservação como o Parque Nacional de Doñana, declarado reserva da biosfera pela Unesco. Indispensável provar por lá os frutos do mar do restaurante Casa Bigote, para degustar enquanto se aprecia a vista do litoral de praias imaculadas com areias brancas e águas claras.
Cádis
O terceiro dia de nossa viagem foi para se perder pelas ruas charmosas e cheias de história de Cádis. Segundo a mitologia, a cidade mais antiga da Europa, de 3 mil anos, foi criada por Hércules. A paisagem é tão encantadora que parece mesmo ter saído de uma fantasia. Perder-se pela parte antiga, construída em uma península, que preserva muito do visual do passado, com praças abertas e grandiosas, becos dos marinheiros e casas altas, com torres, é a melhor forma de conhecer a cidade cheia de mistério. É indispensável passar pela Praça das Flores, o Forte de Santa Catarina – erguido numa ponta rochosa da praia de La Caleta que ainda preserva canhões da antiguidade – e o mercadão, onde encontramos todo tipo de frutos do mar. E mesmo quem não se considera fã do alto barroco vai se encantar com a enorme Catedral Nueva, do século 18.
Ronda
Com uma posição privilegiada, a quase 800 metros acima do nível do mar, Ronda é cercada por paisagens de tirar o fôlego. As Puente Nuevo, Puente Viejo e Puente Árabe atravessam os rios da cidade e oferecem vistas espetaculares. De todas as construções históricas de Ronda, a Plaza de Toros é sem dúvida a mais expressiva. Construída em 1785, é uma das mais antigas arenas de tourada da Espanha. Na parte nova da cidade fomos às compras na Quinta Avenida, calçadão longo com todo tipo de loja, lugar certo para encontrar de pequenos souvenirs a bolsas e chapéus de grife. Depois de um tour pelas ruas, almoço no Parador Nacional de Turismo com a vista estonteante do penhasco da Puente Nuevo.
Granada
Se já estávamos totalmente admirados até este ponto da viagem, Granada guardava um tesouro magnífico: o Alhambra, construído durante a ocupação moura em Andaluzia. O complexo é formado por uma fortaleza, um jardim gigantesco, incontáveis fontes, muralhas, o Patio de los Leones e o Palácio de Carlos 5º, além do Patio de los Arrayanes. Faltam palavras para descrever a magnitude do lugar, tudo com detalhes árabes ainda preservados. De suas muitas janelas é possível ver o encantador Bairro de Albaicín, listado como patrimônio da humanidade pela Unesco. Perder-se por suas ruelas e travessas é um dos programas mais recompensadores, sempre com a possibilidade de encontrar um mirante ou uma pracinha cercada dos famosos bares de tapas – lugar ideal para assistir a uma apresentação de flamenco. Aliás, o programa é obrigatório para sentir a alma arrepiar com a emoção dos cantores e dançarinos.
Úbeda y Baeza
Em visitas rápidas, feitas na mesma manhã, as ruas de Úbeda e Baeza são uma verdadeira aula de história. As duas cidades mostram todo o poder renascentista da Andaluzia dos séculos 16 e 17 com imponentes igrejas e palácios. Ambas foram listadas como patrimônio da humanidade pela Unesco.
Córdoba
Depois de uma semana viajando a bordo do trem, nos despedimos com uma última parada: Córdoba. Entre as construções mais impressionantes que visitamos está a mesquita-catedral, fusão entre as culturas islâmica e cristã. Construída por volta do ano 785, pelo emir Abderramão 1º, foi parcialmente destruída quando a cidade foi tomada pelo rei Fernando 3º, em 1236, sendo reconstruída como uma catedral. Ao lado está o bairro judeu Judería com seu comércio, no qual podemos encontrar joias, souvenirs, roupas e temperos dos mais variados. As ruas estreitas desembocam em pequenas praças com bares e cafés. Para o adeus, Córdoba nos presenteou com um pôr do sol dos mais belos da viagem, completando a paisagem da Ponte Romana sobre o rio Guadalquivir.
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