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Ilustração de Sandra Javera

Por Julia Furrer, para a Revista J.P

Entra ano, sai ano, e continua sendo impossível encontrar alguém que não queira ser feliz. A felicidade, mais do que qualquer outro valor, sintetiza tudo o que perseguimos – e talvez seja a razão pela qual acordamos todos os dias. É por querer ser feliz que começamos relacionamentos, planejamos viagens, trocamos de emprego e compramos uma casa nova.

Enquanto para Maria felicidade é passear com os cachorros e para Paulo é assistir a um show de uma banda que gosta muito, para Camila é simplesmente meditar. Ou seja, cada um define a felicidade a seu modo, o importante é saber que, mais do que um estado de espírito, ela é uma sensação. Não dá para reproduzir, explicar, muito menos fazer durar para sempre. “Nós só temos a noção de felicidade porque ela não é algo perene”, diz o filósofo Mario Sergio Cortella no documentário Eu Maior. “É por meio da carência que a entendemos.” O filósofo americano Robert Wright, que pesquisou o assunto, fala que a felicidade é projetada para evaporar. “Se a alegria que vem após o sexo não acabasse nunca, os animais acasalariam apenas uma vez na vida”, disse para a revista Time.

A motivação para ser feliz, de alguma forma, sempre existiu. Se antes uma forte lógica cristã pregava que Deus era o responsável pelo bem-estar de cada um e que a vida nada mais era que uma preparação para o paraíso, hoje, influenciados pela cultura bastante rentável da autoajuda, acreditamos que a felicidade é possível e depende apenas dos esforços de cada um. Mas aí mora um problema: quem não está feliz sente uma culpa terrível. E nem é preciso ir muito longe, basta olhar as redes sociais – em que todos estão sempre sorrindo – para sentir a própria vida miserável. O mundo virtual ajuda a intensificar o eterno desejo de querer sempre mais, quase natural do ser humano. Sabe aquela história de que a grama do vizinho é sempre mais verde? “As pessoas veem seus contatos em festas e sentem que precisam competir, precisam mostrar que também estão bem. Acontece que isso é tudo superficial e todo mundo sente um vazio”, fala o professor de cabala Shmuel Lemle.

BE HAPPY

A psicanalista Maria Lucia Homem diz que vivemos na era do imperativo, em que o “be happy”, “be cool”, “be vegan” e por aí vai reinam. “É um modo de viver extremamente opressor. O “be happy”, diferentemente do que possa parecer, não é um modelo gentil”, conta. Ele impõe que as pessoas têm de estar sempre se divertindo, viajando, sendo amadas, curtindo todos os momentos como se fossem os últimos, sorrindo, cantando. Acontece que é impossível sentir isso o tempo inteiro. O psicanalista Ricardo Goldenberg vai além, diz que sofrer ficou brega. “É por isso que os psiquiatras estão milionários prescrevendo remédios contra a infelicidade e que tratamos paixões como doenças a serem curadas”.  Claro que a felicidade deve continuar a ser perseguida. “A busca é o que nos move para frente”, diz o psicanalista Pedro De Santi. O que faz a diferença é ter consciência dos momentos felizes. “A condensação da sensação de felicidade acontece apenas naquele momento, mas se você o reconhece como conquista, consegue sustentar essa percepção”, explica Maria Lucia. Ficar feliz por conseguir reunir amigos em uma festa de aniversário, por exemplo, pode ser um sentimento momentâneo, mas aquilo se perpetua se for entendido como a realização de algo que foi plantado e cultivado. “Alguns momentos felizes podem ser transformadores, não são só picos de heroína”, diz Maria Lucia. Por um 2015 com doses homeopáticas de felicidade. (Por Julia Furrer)

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