O Festival do Rio mostrou nesse sábado o documentário “O dia-a-dia do pornô” ou “9 to 5: Days in Porn”, do diretor e roteirista Jens Hoffmann, realizado em parceria com a produtora brasileira Cleonice Comino. Hoffmann passou um ano e meio pesquisando, e outro ano e meio filmando em San Fernando Valey, mais conhecido como Porn Valey, na Califórnia. Acompanhou personagens como a musa do cine pornô, Beladonna, e seu marido diretor; o casal de atores Audrey e Otto, que além de atuar também dirige e produz seus filmes; um empresário que se diz amoroso e paizão das atrizes, mas é chamado de pimp pelo produtor Tom Herald; uma menina de 18 anos , Mia Rose, totalmente imbuída em seu sonho "wanna be a porn star" e outras figuras deste naipe.
O esforço do filme é mostrar o cotidiano da trupe, apresentando o trabalho na indústria pornô como um emprego bem remunerado, que tem suas dores e delícias, como qualquer outro. Percebemos claramente a derrocada de Audrey, que vai ficando bêbada e inchada ao longo do filme, mas não temos dela nada além de um close ultra-expressivo dos olhos durante uma cena de sexo em que ela está totalmente fora de si, e prestes a pifar. O mesmo acontece com Mia Rose, a adolescente topa-tudo, que não se priva de nada, adora sexo e todo tipo de variações e análises combinatórias que ele pode proporcionar. Seu entusiasmo nos contamina e queremos dela mais perversão, mais poses, mais loucura e depoimentos, que também nos são negados.
A ambição meio maluca de tratar o cotidiano de quem ganha a vida transando, apanhando, batendo, simulando violações como um empreguinho básico e a opção por cortar altos e baixos, faz com que o “O dia-a-dia do pornô” perca em dramaturgia e se torne um filme mediano. A contrapartida interessante são os depoimentos da ex-diva pornô e atual doutora Sharon Mitchell, cabeça da AIM Healthcare Foundation, uma associação sem fins lucrativos que cuida da saúde dos profissionais do sexo nos EUA. São dela as observações mais realistas sobre a profissão, que muitas vezes vêm ilustradas com cenas dos filmes que ela protagonizou nos anos 1970. De qualquer maneira, “O dia-a-dia do pornô” é interessante por mostrar de forma tão “desglamourizada” as pontas da lança de uma indústria que fatura US$ 12 bilhões por ano. Mas não espere muito pornô porque o filme é um documentário. Ou seja: bem mais cabeça do que corpinho.
Por Luciana Pessanha