por Adriana Nazarian para revista MODA
Se Jay Gatsby, o icônico personagem criado por F. Scott Fitzgerald em 1925, fosse real, ele certamente teria cruzado o caminho de Louis Comfort Tiffany (1848-1933). Artista multifacetado e famoso por seu trabalho com vidro, o filho do fundador da Tiffany&Co. era um festeiro nato. Suas noitadas, muitas vezes para mais de mil pessoas e marcadas por fantasias mirabolantes, viraram lenda em Nova York. “Ele não só estava nas festas, mas era quem dava as festas”, contou Jon King, vice-presidente executivo da Tiffany, em entrevista a MODA, em Nova York. Com um senso estético apurado, o americano decidiu, inclusive, projetar e construir cada detalhe de uma casa em Long Island, conhecida como Laurelton Hall, para sediar celebrações que duravam o fim de semana todo. Com vista para o mar, o Éden privado de Louis Comfort misturava natureza e exotismo e tinha oito andares com 84 quartos repletos de obras de arte criadas pelo próprio dono.
Do outro lado, agora na ficção, está a conhecida história de O Grande Gatsby, contada pela primeira vez por Fitzgerald e outras tantas no cinema. Para quem não se lembra, Jay Gatsby é um milionário extravagante e festeiro. Seu estilo de vida impressiona seu novo vizinho, Nick Carraway, um aspirante a escritor que deixa o meio-oeste para viver ao lado de sua charmosa prima Daisy e do marido, Tom Buchanan.
A bola da vez é o remake dirigido pelo australiano Baz Luhrmann (Romeu e Julieta), que chega às telas brasileiras no próximo mês. Não é de se estranhar, portanto, que a Tiffany, fundada em 1837, tenha sido escolhida pelo diretor para criar, em parceria com sua esposa, a premiada figurinista Catherine Martin, as joias usadas na nova versão do longa. Entenda: a história de Gatsby se passa nas redondezas da Nova York dos anos 1920, época em que a joalheria já era símbolo de glamour entre os americanos e via suas criações presentes nos eventos mais comentados do circuito cult. O próprio Fitzgerald, veja só, era cliente assíduo da joalheria. E mais: era a Nova York dos “loucos” anos 1920, tempo de liberdade, época em que as mulheres ganharam espaço – e centímetros a menos nas saias – e o jazz agitou o cenário marcado por restaurantes undergrounds, bebidas ilegais, prosperidade econômica e mudanças sociais. “Fitzgerald tinha um amor enorme pelo moderno. Ele estava sempre de olho no futuro. E o jazz tinha algo de subversivo, foi quando todas as regras que ele conhecia foram quebradas”, contou Catherine Martin para MODA em Nova York.
Catherine teve passe livre para vasculhar os arquivos da joalheria e elaborar, ao lado de um time seleto de designers, as peças do filme. “Baz deixou claro que não queria retratar os anos 1920 de maneira nostálgica, mas moderna. Tive a sorte de contar com a força da história e um time de design que podia ver o futuro”, contou. Catherine ainda contou com Miuccia Prada, amiga de longa data dela e de Baz, para criar o figurino – inspirado em coleções antigas da Prada e da Miu Miu – sob uma exigência: evitar o ar caricato de gângsteres e melindrosas. O resultado da parceria com a Tiffany, que MODA conferiu em primeira mão na flagship na Quinta Avenida, faz parte da versão 2013 da coleção Blue Book, a mais especial da marca. Estavam lá o headband usado por Daisy, personagem de Carey Mulligan, que promete virar febre nas ruas, o adorno de mão marcado por micropérolas e outras joias de encher os olhos. Por conta da parceria com o filme, toda a Blue Book 2013 é inspirada no glamour da era do jazz e tem um perfume déco. Destaque para peças como o colar usado por Anne Hathaway no último Oscar e a linha feita com a tanzanita, pedra adorada pelos brasileiros. O catálogo, que a Tiffany lança desde 1845 anualmente, é composto por cerca de 200 peças “one of a kind” que levam até três anos para ser concluídas. Detalhe: cerca de 75% delas costuma ser vendida em poucas semanas. O critério para fazer parte da seleção? “A raridade e qualidade das pedras e o caráter artesanal”, explicou Jon King. De fato, MODA acompanhou os artesãos da grife americana elaborando, in loco, peças feitas à mão que parecem obras de arte. Afinal, já é tradição da marca prezar pelo excepcional. A prova? Quando o Tiffany Diamond, diamante amarelo mais famoso do mundo, foi encontrado em uma mina da África do Sul, o fundador da marca, Charles Lewis Tiffany, não hesitou: “Corte a pedra pela beleza. Não se preocupe em perder peso”.
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