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A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

A tentativa constante de explicar o inexplicável, movida pela incapacidade veemente de aceitar o absurdo, produziu muitas obras na literatura universal sobre o holocausto, escritas de diversas perspectivas. Desta vez, o escritor canadense Yann Martel, em Beatriz & Virgílio – que a Nova Fronteira está lançando aqui no Brasil –, mesclou realidade e ficção numa complexa alegoria sobre o assunto.

* A obra é uma inusitada representação do holocausto por meio de uma fábula protagonizada por uma mula ? Beatriz ? e um macaco ? Virgílio, que têm os mesmos nomes de personagens da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Martel recorre ao mundo animal para desenvolver sua narrativa, pois acredita que tal artifício facilita a comunicação com o leitor:

* “Nada como a fantasia para fazer as pessoas acreditarem”, explica. “Se eu for contar a história de um dentista da Bavária ou da província de Saskatchewan, vou ter de lidar com as ideias que os leitores têm sobre dentistas da Bavária ou de Saskatchewan, com todos os preconceitos e estereótipos. Mas se for um rinoceronte dentista da Bavária ou de Saskatchewan a situação será inteiramente diferente. O leitor vai prestar mais atenção, já que não tem qualquer ideia preconcebida sobre rinocerontes dentistas”, afirma Martel.

* A trama apresenta Henry, um escritor que alcançou o sucesso com uma obra anterior e tenta publicar um novo livro, desta vez sobre o holocausto. Após receber uma carta de um misterioso taxidermista e aspirante a escritor, ele decide visitá-lo a fim de ajudá-lo na conclusão de uma peça. Conforme penetra no mundo daquele homem calculista, Henry se vê cada vez mais envolvido pela história de Beatriz e Virgílio e pela a jornada épica e comovente que leva os dois animais à Taxidermia Okapi.

* Juntamente com “Beatriz & Virgílio”, a Nova Fronteira está lançando uma nova tradução de “A Vida de Pi” ? que deu a Martel o Man Booker Prize 2002, o mais importante prêmio literário para obras na língua inglesa. Após o naufrágio de um navio cargueiro, resta um único bote salva-vidas deslizando sobre a superfície azul e selvagem do Pacífico. A tripulação da embarcação sobrevivente consistia em uma hiena, um orangotango, uma zebra de pata quebrada, um tigre-de-bengala de mais de duzentos quilos e Pi Patel, um menino indiano de dezesseis anos de idade.

* Vale lembrar que, quando ganhou o Man Booker Prize, Martel foi acusado de plágio e assumiu ter se inspirado em um argumento do livro “Max e os Felinos”, do brasileiro Moacyr Scliar (1937-2011). Na época, Martel questionou numa entrevista ao jornal “Estado de São Paulo”: “Será que haveria o mesmo escândalo se eu dissesse que me inspirei na Arca de Noé?” Faz sentido. Seria o mesmo que agora achar que ele plagiou Dante, por causa dos nomes dos personagens.

Yann Martel recorre ao mundo animal para que os leitores acreditem em suas histórias

Por Anna Lee

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