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PRETEXTO

No início desta semana, recebi um aviso por e-mail da editora Bertrand sobre o “aniversário” de Virginia Woolf (1882-1941) na terça-feira, dia 25 de janeiro. Fiz as contas rapidamente e conclui que não se tratava de nenhuma data redonda, tipo 100, 150 anos, quando as editoras costumam fazer homenagens a escritores, publicando novas edições de seus livros ou coisa parecida. Tratava-se dos 129 anos da escritora. Na verdade, a Bertrand queria divulgar a biografia de Woolf, “Sou Dona da Minha Alma”, escrita pela anglicista Nadia Fusini, e lançada aqui no Brasil no ano passado.

* Eu sabia que tinha o livro na minha biblioteca. Fui até a estante de biografias e, como imaginei, lá estava o “Sou Dona da Minha Alma”. Ao folheá-lo, lembrei de alguns relatos que Nadia Fusini retirou dos diários de Virginia, das anotações de seus romances, de suas cartas. Por exemplo, quando ela fala da profunda tristeza que a escritora mergulhou, por conta do abandono de Vita, seu verdadeiro amor.

* “Assim que conheceu Vita, alguém lhe advertiu: ‘Vita é uma lésbica, ré confessa, fique atenta; já está de olho em você’. Diante da advertência, o que fez Virginia? Não se iludiu: ‘Esnobe como sou, não saberei resistir a ela. ’ E depois, como e por que resistir a paixões que, no caso de Vita, tinham ‘o timbre romântico de um vinho ambreado, envelhecido’?”

* Poucos anos antes do suicídio, em 1941, quando, sofrendo de uma grave depressão, Virginia encheu os bolsos de pedra e entrou em um rio perto de sua casa, ela havia tentado deter a própria vida na memória ao invés de escrever sua autobiografia. Mas logo se deu conta de que o projeto lhe escapava. Afloravam em sua mente impressões de sons e imagens, sensações auditivas e táteis que remontavam à infância. No tocante às recordações, entretanto, era inundada de dúvidas, de incertezas quanto a seu conteúdo de verdade. De todo modo, não eram mais suas: ela as emprestara aos personagens de seus romances. Sua própria vida estava literalmente vertida em sua obra.

* Bom, para quem deseja ler uma biografia de Virginia, ao invés de ler seus livros – o que, não posso deixar de dizer, não sei se é um bom negócio – vou aproveitar o pretexto do e-mail da Bertrand para indicar “Sou Dona da Minha Alma”. Voilà: não é um texto de Virginia, mas é uma boa opção.

Woolf não fez uma autobiografia, mas Nadia Fusini escreveu “Sou Dona da Minha Alma”

Por Anna Lee

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