PROPOSTAS
A Cia. das Letras lança esta semana uma edição revista e ampliada do livro “Cinema Brasileiro: Propostas para uma História”, do crítico de cinema Jean-Claude Bernardet, que marcou época quando foi publicado originalmente em 1979, e estava esgotado há muito tempo.
A obra, curta, ousada e original, examina a presença do cinema no cenário cultural do Brasil desde o final do século XIX até os anos 1970 e, agora, traz também uma coletânea de artigos publicados pelo autor ao longo dos últimos trinta anos.
Bernardet faz uma espécie de registro da história política do cinema brasileiro, mostrando como, durante boa parte do século XX, o Brasil foi um país sem produção cinematográfica industrial e com dificuldade de engendrar uma expressão cultural própria. Segundo o autor, a produção nacional surgiu do esforço de um grupo de pessoas com diferentes interesses na área do cinema e respondeu tanto ao apelo nacionalista como ao desejo de criar uma área de ação no país. Com isso, o livro suscita e alimenta o debate sobre cinema e política cultural, discutindo as principais características que marcaram e atravessaram a sétima arte no Brasil. Mas faz mais do que isso: ajuda a pensar a indústria cinematográfica do país neste século XXI e coloca em pauta questões atuais de nosso setor cultural. Por isso, continua sendo uma leitura necessária.
E POR FALA EM…
… cinema e reedição, fica aqui a sugestão para que a Cia. das Letras relance “1001 Noites no Cinema”, de Pauline Kael (1919-2001), uma das mais influentes e respeitadas críticas de cinema dos EUA. Nesse livro, uma quase bíblia não só para especialistas, mas também para os amantes amadores da sétima arte, Kael, com suas resenhas escritas ao longo de três décadas, faz um resumo da própria história do cinema ao tratar de clássicos, indústria de Hollywood, cinema europeu, cinema comercial, entre outros assuntos. Pode se dizer que ela criou uma crítica inovadora ao manifestar em seus textos não apenas uma opinião técnica sobre os filmes, mas também sua visão subjetiva deles, a maneira como era afetada pessoalmente por eles.
Pauline Kael era adepta do antiintelectualismo, não perdoava filmes presunçosos e expressava uma opinião não preconceituosa do cinema. Os filmes europeus da virada dos anos 1950 para os 1960 estavam entre os que mais a entusiasmavam. A partir da década de 1980, quando deixou o jornalismo, afastou-se do cinema, cujo “empobrecimento estético e mental não tem fim”, e dedicou seu tempo aos romances, à ópera, ao jazz, ao rock e ao rap.
Dica: caro leitor, ao se deparar com um exemplar de “1001 Noites no Cinema” em um sebo, não hesite. Compre. É uma preciosidade.
Por Anna Lee
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