O PRESIDENTE E AS PALAVRAS
A proposta de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, ao escrever o “Dicionário Lula – Um Presidente Exposto por Suas Próprias Palavras” (recém-lançado pela Nova Fronteira) era expor, para usar palavra do próprio título, todo o pensamento político de Luiz Inácio Lula da Silva, verbalizado e sem a mediação de assessores.
* E mais: que houvesse o máximo de objetividade e nenhum julgamento ideológico e moral. Este último um pressuposto improvável já que não há isenção possível. Afinal o fato de Kamel decidir fazer o livro já é por si só parcialidade: ele julgou que havia algo nas palavras improvisadas do presidente da República que precisava ser mostrado, ou que pelo menos poderia ser deduzido pelo leitor.
* De qualquer forma isso não invalida o esforço do jornalista para compor o “léxico Lula”: foi colocado num arquivo de computador tudo o que presidente falou entre janeiro de 2003 e março deste ano – um total de 1554 textos (847 discursos, 503 entrevistas e 204 programas radiofônicos), e, por intermédio do software TextStat – disponível gratuitamente na internet –, verificou-se a frequência com que certas palavras apareciam. Depois disso, as palavras foram não apenas contadas, mas localizá-las e relacioná-las, permitindo que Kamel chegasse a um vocabulário básico das 540 palavras mais usadas por Lula. Finalmente, o autor fez uma seleção (olha aí como não há possibilidade de isenção total; o próprio ato de viver é uma escolha) e chegou aos 345 verbetes que compõem as 627 páginas do livro. Não há dúvida de que o “Dicionário Lula” merece ser lido nem que seja por curiosidade. Agora, Kamel só não poderá esperar ter seu protagonista como leitor, se é como o Publishnews publicou em seu twitter: “Leio pouco porque cansa. Me dá sono. Gosto é de ver bobagem na TV” – Presidente Lula em entrevista ontem, 18/8/09.
OLHOS DE RESSACA
A sala Cecília Meirelles (Rio) estréia, na sexta-feira, 21, uma programação para amantes de música e literatura. A Orquestra Sinfônica Brasileira apresentará “Olhos de Capitu”, obra baseada no romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, que foi composta originalmente para o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão do ano passado, quando se lembrou o centenário de morte do escritor.
POR FALAR…
… em Machado de Assis, a 14ª Bienal Internacional do Livro do Rio (de 10 a 20 de setembro) apresentará para o público jovem dois ícones da literatura brasileira no debate “Euclides da Cunha e Machado de Assis para Jovens Leitores”, com Luiz Antonio Aguiar e Luciana Sandroni. O evento será realizado no dia 12, numa sessão do Café Literário. Vale lembrar: neste ano, completam-se 100 anos da morte de Euclides.
Por Anna Lee
- Neste artigo:
- Dom Casmurro,
- Machado de Assis,