MAIS DOS MESMOS
No dia 24 de agosto, quando tiver início a 13ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (RS), será anunciado o vencedor da sexta edição do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura. Entre os 48 finalistas, anunciados nesta semana, vários escritores concorrem também ao II Prêmio São Paulo de Literatura e ao Portugal Telecom, como Milton Hatoum, Moacyr Scliar, João Gilberto Noll, Contardo Calligaris, Carola Saavedra, entre outros. O escritor português António Lobo Antunes, que foi sensação durante a Flip, não sem razão, está indicado pelo romance “Ontem Não Te Vi em Babilônia”, pelo qual também concorre ao Portugal Telecom. O “Era no Tempo do Rei”, de Ruy Castro, aparece na lista de Passo Fundo como uma espécie de estranho no ninho, ou seja, não concorre a nenhuma das outras duas premiações citadas acima. Na verdade, esse livro foi indicado ao Portugal Telecom no ano passado, e é uma leitura que esta coluna recomenda.
ERA NO TEMPO DO REI
O jornalista Ruy Castro é reconhecido pelas biografias que já escreveu como as de Garrincha e Carmem Miranda, mas, nessa sua segunda investida no terreno da ficção – a primeira foi “Bilac Vê Estelas” (2000) –, ele teve a sacada genial de fazer de D. Pedro I, quando ainda era um garoto de 12 anos, e de Leonardo, também um adolescente que é personagem do clássico da literatura brasileira “Memórias de um Sargento de Milícias” (1854), de Manuel Antônio de Almeida, protagonistas de seu livro. Com isso, ele misturou história do Brasil e ficção, o que não é exatamente original, criando uma estratégia narrativa bastante interessante. Uma decadente cortesã de nome Bárbara dos Prazeres é outro personagem real da história brasileira, verificável em livros sobre o período pós-chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, que Ruy Castro traz para sua obra, assim como o Rio de Janeiro daquela época.
Agora, o mais delicioso de ler “Era no Tempo do Rei” é descobrir um Ruy Castro descolado da busca da verdade incontestável dos documentos, que é o que se vê em suas biografias, e se permitindo acreditar que a realidade também pode ser inventada.
AINDA FALANDO DE PASSO FUNDO
Chico Buarque também está concorrendo ao Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, com seu último livro “Leite Derramado”, que não foi indicado ao II Prêmio São Paulo de Literatura nem ao Portugal Telecom. Vale lembrar que Chico já ganhou o prêmio de Passo Fundo em 2005 com “Budapeste”, e sua presença é sempre celebrada, aonde quer que vá. E ele tem ido a festivais literários sempre arrastando multidões, vide o que aconteceu durante a Flip deste ano. E foi em Paraty que se pôde vêlo diante de sua obra, lendo um trecho de “Leite Derramado” para uma plateia atenta. Depois, foi a vez de Milton Hatoum, que dividia a mesa literária com ele, ler um trecho de “A Cidade Ilhada”. Não foi possível dizer que Chico Buarque é melhor escritor do que músico e compositor.
MEMÓRIA
Há cinquenta anos, em 17 de julho de 1959, morria Billie Holiday, o mito do jazz entre as décadas de 1930 e 1950 que marcou a carreira de uma série de cantoras norte-americanas, como Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald. A editora Jorge Zahar publicou no Brasil a autobiografia da cantora “Lady Sings the Blues” (2003), lançada originalmente em 1956, na qual ela faz um relato pungente de sua vida conturbada: suas mazelas amorosas, os meandros do submundo das drogas e do showbiz, seus percalços com a polícia. Billie Holiday morreu pobre, viciada em heroína e já praticamente sem voz. Somente depois de morta foi reconhecido o papel de vanguarda que ela teve na criação e popularização de um estilo musical que conquistou adeptos no mundo todo. O texto final da autobiografia é do jornalista William Dufty, do New York Post, que era amigo da vocalista, e a tradução em português foi feita pelo também jornalista e crítico de música Roberto Muggiati – o que é garantia de excelente qualidade.
PETIT TRIANON
Durante a próxima semana, de 20 a 23, a Academia Brasileira de Letras vai sediar o ciclo de palestras “A França volta ao Petit Trianon”, no qual oito intelectuais franceses vão falar sobre filosofia, literatura, historiografia, antropologia e sociologia. Entre eles, estão Jacqueline Penjon, professora de Língua, Literatura e Civilização Brasileira e diretora do Departamento de Português na Universidade de Paris III, e Roger Chantier, diretor da École de Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris. O evento é aberto ao público.
EM TEMPO
Para quem perdeu as palestras de Gay Talese, expoente do chamado “new journalism”, na Flip e nos eventos pós-Flip, em São Paulo e no Rio, ainda tem a chance de assistir na segunda, 20, às 22h10, a entrevista que ele deu para o “Roda Viva”, da TV Cultura. O jornalista disse que o governo Bush não foi um bom período para o jornalismo.
Por: Anna Lee
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