NOTÍCIAS DE PARATY
Se Deus é um delírio ou não é um problema de cada um, até porque, como já disseram, religião – ou a falta dela, acrescento – não se discute. Indiscutíveis são a convicção e a paixão com que o biólogo queniano Richard Dawkins, educado na Inglaterra, sustentou seu ateísmo e a teoria da evolução de Charles Darwin, em sua palestra na Flip nessa quinta-feira, 2. E não se pode deixar de comentar a simpatia de Dawkins que, vestido com camisa de motivos florais em preto-e-branco, não deixou ninguém duvidar de que coloca em prática o conselho que, lá pelas tantas, deu à plateia: “Aproveite cada momento da sua vida porque essa é a única que você tem, não haverá outra”. A vinda de Dawkins à Paraty teve como mote o bicentenário da morte de Darwin e sesquicentenário do livro “A Origem das Espécies”, no qual esse naturalista lançou a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural.
* No Brasil, o último livro de Dawkins, publicado pela Cia. da Letras, é “Deus, um Delírio”, mas ele abriu sua palestra, mediada pelo jornalista Silio Boccanera, falando de sua obra mais recente: “A Grande História da Evolução. O Maior Espetáculo da Terra”, que deve ser lançado aqui em outubro deste ano. “Este é um livro sobre as evidências incontestáveis de que a evolução é um fato. Não tem por fim ser um livro antirreligioso. Já fiz um desses, este é outra coisa e não é lugar de bater na mesma tecla”. De acordo com o biólogo, ele resolveu escrever “A Grande História da Evolução” de trás para frente, num percurso que parte do ser humano atual e vai até seus ancestrais, para mostrar que o homem é apenas parte da evolução e não o seu ápice: “Ao longo desse trajeto regressivo vamos encontrar inúmeros companheiros de viagem, como minhocas, caramujos e insetos”.
* Mesmo que evolucionista fervoroso, Dawkins se colocou contra o darwinismo social, segundo o qual existiriam características biológicas e sociais que determinariam o fato de uma pessoa ser superior a outra, e quem se enquadrasse nesses critérios seria mais apto a sobreviver. Ele admitiu que havia traços racistas e também sexistas em Darwin, e se disse antidarwinista em termos da política e “na maneira como levamos a vida”. Sobre a questão da religião, o biólogo afirmou que “das coisas mais cruéis que se pode fazer como uma criança é dizer para ela: você é católica, ou judia, ou protestante, ou mulçumana. Não existe uma criança religiosa, na verdade, seus pais é que são adeptos de alguma religião”.
* As histórias bíblicas, segundo Dawkins, funcionam enquanto literatura, mas não como prova da existência de um Deus, que sustenta crenças religiosas. E qual a relação da ciência com a literatura, já que estamos num evento de livros?, quis saber o jornalista Silio Boccanera. “Às vezes quando leio ou escuto uma poesia fico arrepiado. Não sei explicar isso, mas, se tudo que nos acontece tem origem nas atividades do cérebro, significa que a literatura e a ciência têm ligação. Tento juntá-las”, respondeu o biólogo. Pode ser que Dawkins nunca consiga provar a interseção entre ciência e literatura, e ainda que Deus não existe, ou pode ser que seus livros não tenham valor literário, e que sua certeza ao afirmar que “nenhum leitor imparcial fechará ‘A Grande História da Evolução’ duvidando de que a evolução é um fato seja abalada, mas uma coisa é certa: ele fez sua platéia da Flip delirar, ah, isso ele fez.
Por Anna Lee
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- Richard Dawkins,