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FLORES

O escritor mexicano Mario Bellatin já declarou que os mitos que alimentam o universo da literatura como o mito da página em branco, ou da criatividade ilimitada do escritor, ou ainda dos personagens que surgem e não deixam o autor pensar, pois querem vida própria e nada se pode fazer a não ser seguir esses impulsos, são a parte menos interessante e menos importante de seu trabalho. Ele diz que, no exercício de sua literatura, apenas senta e escreve, e que o próprio texto vai gerando os personagens e as situações. Segundo ele, é no resultado disto, no que surge a partir do uso da linguagem, que está o valor literário.

* Em “Flores” (2001), por exemplo, livro que Bellatin está lançando agora no Brasil pela Cosac Naify, os personagens que surgiram durante seu processo de escrita são solitários e ambíguos, como o grotesco enfermeiro norte-americano que inocula o vírus da Aids no filho indesejado, ou os improváveis gêmeos Kuhn – crianças nascidas sem braços nem pernas que são disputadas a tapas por mães adotivas –, ou então um esquisito escritor coxo que ganha a vida pesquisando sexualidades alternativas num lugar chamado Hell Kitchen. Sendo que fragmentos da vida destes personagens são apresentados em narrativas curtas (todas com nomes de flores: “Rosas”, “Camélias”, “Gerânios”, “Trevos”, “Lírios”, “Copos de Leite”, e assim por diante.), que se relacionam, mas não se completam. Não só “Flores”, mas, de modo geral, os romances de Bellatin (seu outro livro publicado aqui é “Salão de Beleza”, pela editora Leitura XXI em 2007) apresentam escrita direta, que embaralha as fronteiras entre realidade e ficção, e com a qual constrói um mundo muito particular, povoado por seres anômalos cujos corpos são extraordinários (castrados, paralíticos, mutilados).

Flores de Mario Bellatin

O próprio autor de certa forma vive a experiência de incompletude de seus personagens, pois nasceu sem a metade do braço direito, possível vítima da talidomida, medicamento que provocou malformações em fetos durante as décadas de 1950 e 1960. Mas que fique claro que apesar de projetar essa contingência pessoal nos protagonistas de seus romances, Bellatin em nenhum momento se rende ao exercício banal de um biografismo. Bellatin estará na Flip, em Paraty, na sexta-feira, 3, às 17h, dividindo a mesa literária “O Eu Profundo e Outros Eus” com o escritor brasileiro Cristovão Tezza. No dia 6, ele lança seu livro em São Paulo e, no dia 7, no Rio.

LITERATURA E TEATRO

Simultaneamente à Flip, de 1º a 5 de julho, e até o dia 12, acontecerá a 2ª Edição do Festlip – Festival do Teatro da Língua Portuguesa, no Rio, com apresentação de 11 espetáculos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal, que se alternarão no Teatro Sesc Ginástico, Espaço SESC e Teatro Sesc Tijuca. O homenageado deste ano é o escritor moçambicano Mia Couto, um dos maiores expoentes da literatura africana atual, que fará a palestra “Metamorfose da Literatura para o Teatro”, no dia 3, às 19h, no Teatro Sesc Ginástico. Em sua passagem pelo país, o escritor também lançara o livro “Antes de Nascer o Mundo” (Cia. das Letras).

Por Anna Lee

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