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Tizuka Yamasaki e Tomie Ohtake nas filmagens de “Tomie” ||  Crédito: Divulgação

Tomie Ohtake morreu nesta quinta-feira, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Ela tinha 101 anos e estava internada há mais de uma semana em decorrência de uma pneumonia. Glamurama presta homenagem à mulher e à artista que ela foi e relembra a entrevista de dezembro de 2014 com a diretora Tizuka Yamasaki sobre o documentário “Tomie”, que conta a vida artista.

Glamurama – Fazer um filme sobre a Tomie era um desejo antigo?

Tizuka Yamasaki – A Tomie é uma pessoa admirável, uma artista admirável, que só tem a nos ensinar. E colar ao lado de uma pessoa desse porte, você acaba aprendendo muito. Se eu pudesse, passaria o tempo todo ao lado de pessoas que admiro.

Glamurama – Qual foi o enfoque que você quis dar no documentário?
Tizuka Yamasaki – Foquei mais no lado pessoal da Tomie, que é o que o grande público desconhece. Mas que era o lado que eu conheço, quando a gente se encontrava nas festas da comunidade [japonesa] e nos jantares. Ela é  animadíssima, muito bem humorada e muito sorridente, em qualquer ambiente. Os filmes sempre mostraram uma Tomie austera. Ela não é nada austera. Queria mostrar esse lado rico que são as entrelinhas, as piadas, as manifestações de afeto.

Glamurama – Como você a descobriu no decorrer das filmagens? Na intimidade?
Tizuka Yamasaki – A Tomie é muito ligada, presta atenção em tudo. Sempre perguntava se eu já tinha tomado um cafezinho. É mãe, né? Criou dois filhos praticamente sozinha. Ela só começou a pintar depois que os meninos estavam adultos. Ela também é sempre pontualíssima.

Glamurama – Quais são os momentos mais bonitos no documentário?
Tizuka Yamasaki – Tem um olhar dela para a comida em um jantar na galeria Deco que é impagável. Aquele olhar que ela olha a comida, só vendo (risos).  Outra coisa engraçada foi que eu levei uma intérprete, porque achei que a Tomie poderia se sentir mais à vontade falando em japonês. E ela disse que não queria falar em japonês. “Tá muito bom assim. Vocês é que perguntam demais . E eu não gosto de falar” (risos).

Glamurama – Você enfrentou alguma dificuldade por causa da idade de avançada de Tomie?
Tizuka Yamasaki – Não, pelo contrário. Quando a gente estava filmando no porto de Santos, iria ter um intervalo no horário do almoço. Pedi para a produção arrumar um hotel para que ela pudesse descansar. Mas ela não quis, de jeito nenhum. E quase se sentiu ofendida.

Glamurama -Qual é o próximo projeto de Tomie?
Tizuka Yamasaki – Ela está pintando para uma nova série. Ela disse que está trabalhando três vezes por semana nela, mas ainda são texturas.

Glamurama – A sua ascendência japonesa facilitou em algum sentido?
Tizuka Yamasaki – A Tomie não tem esse tipo de problema. Ela é muito aberta. Tanto é, que os filhos dela não falam japonês. Minha mãe tentou muito que eu falasse, que eu tivesse esse compromisso com a cultura japonesa. Mas não conseguiu muito (risos).

*

Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, em novembro de 1913. Fez seus estudos no Japão e, em 1936, veio ao Brasil para visitar um irmão que morava por aqui. Impedida de voltar, com o início da Guerra do Pacífico, acabou ficando no Brasil. Casou-se, teve dois filhos e depois de cumprir os deveres de mãe, começou a pintar, com quase 40 anos, por incentivo do artista japonês Keiya Sugano. Em 1968, naturalizou-se brasileira. A partir dos seus 50 anos, sua carreira atingiu plena efervescência com mostras individuais e prêmios na maioria dos salões regionais. Ao todo são 28 prêmios, cerca de 70 individuais e quase 250 coletivas no Brasil e no exterior, além de ter concretizado mais de 30 obras públicas em importantes cidades brasileiras e no Japão.(Por Denise Meira do Amaral)

O velório será nesta sexta-feira, no Instituto Tomie Ohtake, das 8 às 14 h, e será aberto ao público. O Instituto fica na Rua Coropés, 88, no bairro de Pinheiros, São Paulo. Aperte o play e confira teaser do documentário “Tomie”.

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