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Miguel Falabella || Créditos: Maurício Nahas
Miguel Falabella || Créditos: Maurício Nahas

Miguel Falabella apaga 64 velinhas neste sábado com bom humor e a mente criativa que continuam afiados mesmo em tempos de cortinas de palco temporariamente cerradas. Sobre os dias atuais, ele acha que o mundo está acabando (“graças a Deus”) e descobriu que é uma ótima companhia para si mesmo. A saída da Globo, após 38 anos, foi marcada com uma tatuagem de Fênix no peito como símbolo de renovação.

Por Fernanda Grilo para revista Joyce Pascowitch

J.P: Se pudesse mudar alguma coisa, o que seria?
MIGUEL FALABELLA: Na juventude, fui a um vidente na França e ele disse com todas as letras: “Você jamais vai ter problemas na carreira que escolher, fará sucesso em qualquer lugar”. Não acreditei, voltei para o Brasil e hoje faço live com aborígenes.

J.P:Como define o mundo atual?
MF: O planeta está acabando, graças a Deus. Deu tudo errado. Quando acabar a Covid vem outra, não se iluda. O homem mexe na natureza e acha que vai ficar impune.

J.P: Quando mente?
MF: O tempo todo, vivo disso! Já disse que meu avô era sapateiro austríaco, assassino que fugiu para o Brasil. Aprendi com a Barbra Streisand, que no começo da carreira falou que era nascida no interior da África achando que não ia dar em nada e acabou com todo mundo lembrando disso até hoje.

J.P:Como anda a criatividade na quarentena?
MF: Muito boa. Demorei um pouco, mas depois engrenei. O chato é que o mundo em volta acha que a gente não está fazendo nada, à vontade para fazer lives o dia inteiro.

J.P: O melhor e o pior da pandemia?
MF: Pior tem sido essa desmonetização dos artistas porque acham que a gente tem que ficar aparecendo e todo mundo fica colocando a bunda na janela de graça. Acham que live não é trabalho, então, viro o antipático, mas até ontem eu vivia disso. A desculpa é sempre ajudar alguém.

J.P: A primeira coisa que vai fazer quando a pandemia acabar?
MF: Voltar para o palco. Muita saudade.

J.P: Teatro on-line vale?
MF: Teatro é teatro e vamos esperar um pouco. Não vou fazer em outros lugares, filmado. Não tem graça, não é esse o veículo, não foi feito para isso…

J.P: O que aprendeu durante o isolamento?
MF: Que sou uma ótima companhia para mim mesmo. Excelente, tenho até medo de ver alguém. Atualmente, só assisto a coisa de bicho: Animal Planet, Largados e Pelados, Natureza Revelada… Gente não me interessa.

J.P: Papel inesquecível?
MF: Na TV foi As Noivas de Copacabana. Me deu muito trabalho e satisfação, e é sempre bom quando a gente consegue.

J.P: Do que sente saudade?
MF: Da Broadway.

J.P:Um talento que ninguém conhece?
MF: Sou ótimo professor. Dei aula de teatro muito tempo, sei descobrir as zonas de perigo da pessoa.

J.P: Mania?

MF: Andar. Adoro, por isso gosto de Nova York, cruzar Paris. Desisti de andar na Lagoa Rodrigo de Freitas depois de quase morrer sufocado com a máscara. Uma tristeza!

J.P: Vício?
MF: Tive o cigarro por muito tempo. Quando decido largar algo, consigo. Isso já faz uns cinco anos e hoje só penso em como conseguia viver com os cinzeiros lotados.

J.P: Uma extravagância?
MF: Comprei uma casa enorme sem precisar e agora quero vender e não consigo. Isso vira um caos porque você cria laços com as pessoas e preciso demiti-las, não tem como manter. O que quero é bater a porta e viajar.

J.P: O que não sai da sua cabeça?
MF: Teatro, penso 24 horas.

J.P: Momento mais brilhante…
MF: No palco. Sou uma persona artística, como pessoa, não sou interessante, me acho melhor no palco.

J.P: Qual comida te faz sair da dieta?
MF: Doce, adoro, recebi uma banoffee, que quase morri de tão boa. Sou infantil nessas coisas de cremes e merengues.

J.P: O que sua nova tatuagem de fênix representa?
MF: Depois de 38 anos trabalhando no mesmo lugar, pensei: não posso sentir mágoa disso. Vou tatuar uma renovação, senti a dor da feitura, me libertou, já foi.

J.P: Para quem falaria “cala a boca, Magda!”?
MF: Para todos os homens do poder, eles não têm respeito pela nação. Não há mais degraus a descer. E a internet veio para piorar, é uma boa invenção, mas mal usada.

J.P: Uma frase?
MF: O riso é a gasolina do espírito.

J.P: Uma pessoa?
MF: Machado de Assis. Todos deveriam ler, é um dos maiores escritores e orgulho para o Brasil. Mas a questão hoje é que se alguém ler já está de bom tamanho.

J.P: Como gostaria de morrer?
MF: Dormindo, igual ao José Wilker. Saudades.

J.P: A eternidade existe?
MF: Não, nada de missão, aqui é pancadaria.

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