Marjorie Estiano é – ao lado de Julio Andrade – protagonista de “Sob Pressão”, nova série da Globo, com estreia prevista para o dia 25. Os dois são médicos de um hospital público que, como na “vida real”, sofre com falta de recursos, equipamentos, profissionais… A partir daí se desenrolam os dramas com os pacientes. “Brasileiro tem mania de ter esperança, e a Carolina, minha personagem, se dedica a cuidar do paciente, e não da doença”, resume a atriz, em entrevista ao Glamurama. A conversa caiu em temas como corrupção no nosso sistema de saúde, fragilidade da vida, morte, fé, atração por colegas de trabalho e até o direito à eutanásia. Vem ler! (por Michelle Licory)
“Uma mudança significativa no sistema”
“É muito mobilizador contar essa história em outro lugar que não o jornal, que a gente vê todo dia e está quase que banalizado, mesmo sendo de uma ordem tão necessária e básica. Minha expectativa é de poder atingir e transformar. Fico muito feliz e honrada com o fato dessa nossa intenção poder gerar alguma mudança significativa no sistema. A gente fica sabendo diariamente dos desvios de dinheiro da saúde, da falta de atendimento, recurso, estrutura. Isso é sabido já. Mas a série aprofunda, te coloca em contato com o drama desses pacientes e médicos, mostra a que você está sujeito quando falta um medicamento, um exame, um material cirúrgico. Pra mim, que fiz laboratório no Miguel Couto e no Alberto Torres, veio um entendimento maior desse ofício e da vulnerabilidade do paciente, de quem precisa, de quem conta com o serviço público de saúde”.
“É tipo fazer bazuca com cartolina e fita adesiva”
O novo trabalho já mudou a percepção da atriz. “Esses médicos são super-heróis. Eles não têm recurso nenhum para exercer aquela função. E retratar isso na série é um paralelo a um filme de ação americano. As soluções que eles precisam dar para tentar salvar uma vida é tipo fazer bazuca com cartolina e fita adesiva. É muito delicado: quem opta por essa profissão tão gloriosa se responsabiliza por aquela vida, é fundamental ali, e faz o necessário dentro daquela realidade. Quando você vê na prática, a consistência é outra. Ver o que acontece é muito mais mobilizador, te afeta bem mais do que apenas ler a respeito. Não é uma série militante, mas acaba sendo uma crítica porque a gente vive mesmo cheios de lacunas… Políticas, éticas, sociais”.
“O espírito pode criar tanto a doença quando a cura”
Marjorie explicou como entende os limites entre fé e ciência. “Nunca estive em nenhuma situação em que fui colocada tão próxima da morte. Minha personagem não é religiosa, é crédula. Acredita que existe algo além da matéria. Concordo com ela: pra mim, a alma… O espírito pode criar tanto a doença quando a cura. Medicina e espiritualidade… É tudo integrado”.
“Ver aquilo tudo aberto, funcionando, os órgãos, sangue, músculos…”
“Nunca passei por cirurgia. Levei apenas quatro pontos no queixo quando criança. Mas nunca tive muito problema com sangue. Mesmo assim, no começo do laboratório para esse papel, ver um corpo aberto foi impactante. A gente tem uma relação com nosso corpo de cuidado, zelo, é nossa casinha e é tudo muito delicado. Se você esbarra em algo, já fica com hematoma. Ver aquilo tudo aberto, funcionando, os órgãos, sangue, músculos… É algo bem forte. Mas com a frequência, vira um ofício de fato, você percebe que são pecinhas de um jogo que você vai montando e elas funcionam dentro daquele sistema, como uma máquina. Nas filmagens, não é nada de verdade, usamos próteses. E temos assessoria para não ter equívoco, ser bem fidedigno”.
Relacionamentos com colegas de trabalho
Na história, os dois protagonistas acabam se envolvendo amorosamente. “É normal. A gente está mergulhado nisso e se relaciona com as pessoas que mais frequenta. É assim com todo mundo, não só com médicos. É natural que se desenvolva algum tipo de sentimento, não só amor de homem e mulher. Mas a vida pessoal dos personagens aparece bem pouco na série”.
Se esticar muito…
Séries “hospitalares” costumam fazer muito sucesso, aqui e lá fora. “House”, “Grey’s Anatomy”, “ER”… E se “Sob Pressão” virar tipo “A Grande Família”, com mais de dez temporadas? Será que Marjorie encara? “A gente espera com o andar dos episódios conseguir transformar tanto que não tenha mais assunto. Eu ia achar ótimo provocar uma mudança considerável no sentido de mais exigência de retorno dos impostos que a gente paga”. Mas se esticar muito… “Estou animada, muito feliz de fazer coro para esse discurso. E faço a segunda temporada se tiver, sim”. Já com uma terceira ou quarta, ela preferiu não se comprometer.
Eutanásia: “Você deve ter o direto sobre a sua vida”
Um tema bastante controverso da medicina é a eutanásia. “Quando você vai parar em um hospital, não importa a gravidade, você se percebe finito. E acaba dando um outro significado a muita coisa. Já discuti em outra série da Globo [‘Justiça’] a questão da eutanásia. Naquele caso [uma bailarina fica tetraplégica e não vê mais sentido em viver por conta disso], na minha opinião, foi precipitada a decisão, no fervor da situação. É um tema meio polêmico, mas deve ser discutido. Acho que você deve ter o direto sobre a sua vida, acho que o direito é seu”.
Próximos passos: “uma porrada de filmes”
Glamurama quis saber das novidades na carreira de Marjorie. “Estou com uma porrada de filmes muito especiais para serem lançados, e sentindo bastante expectativa. Não sei se ainda vão estrear neste ano ou só no ano que vem, mas estou ansiosa. E agora vou dar uma isolada para me reciclar, me relacionar com composição, meus projetos de música”.
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