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Maria Homem
Foto: Divulgação

É possível ter um encontro singular, profundo, daqueles que acendem algo em você e acabam se tornando uma relação real? Segundo a psicanalista Maria Homem, a resposta é “sim”. Mas para isso é necessário conhecer a si mesmo antes de tentar desvendar o outro.

Quem ainda duvida que o amor é uma das grandes questões humanas? Não por acaso, a psicanalista Maria Homem, uma estudiosa do assunto, está lançando um novo curso: O Enigma do Amor. “A gente é o outro. Qual é o grande inferno, como diria Sartre? Os outros. E o grande paraíso também. É elo, é relação. Nascemos da relação. Não somos sozinhos, não somos indivíduos. Isso é uma ficção. A gente já nasce grudado. Não existe só um bebê. Você sempre vê uma mãe e um bebê. Somos seres de conexão, de linguagem.” E tudo começa com o encontro… “Uma relação envolve o ser e quem sou eu, todas as camadas da minha história, infância, adolescência etc. Somos como camadas geológicas. Por que, apesar disso, a gente se sabota ou não consegue ter um encontro? Porque muitas vezes estamos ligados a estruturas que nos colocam num determinado lugar… pode ser de cegueira, de projetar demais, de achar amor em qualquer canto. Na verdade, é muito difícil discernir.

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Eu acredito que há encontro possível entre dois seres humanos, fora da magia, do romantismo. É possível ter um encontro muito específico, muito singular, quando você tem algo profundo que te move, um impulso. Algo que acende, que liga.
Isso demora pra gente descobrir na vida. Não é óbvio. Esse ‘algo’ é misterioso porque vem da fonte da pulsão. É aquela coisa estúpida e profunda. Sensação de alegria, de estar vivo, que se dá quando você consegue encontrar um interlocutor que se alinha com você. O essencial é essa intersecção que te coloca na mesma vibração que o outro. O encontro é isso, é ‘ânima alma’, faz a alma ficar feliz. A vida ganha outra perspectiva e isso não acontece todos os dias. Tem quem nunca vai passar por isso. E por que, às vezes, a gente perde essa oportunidade? Porque a vida é caótica. É comum não sabermos nem de nós mesmos. Não sabemos onde está nossa vibração… como posso reconhecer isso no outro?”

A Relação

“Quando descobrimos ou permitimos essa vibração, ficamos naquela tempestade dopamínica, achando tudo ótimo e incrível. Mas as pessoas são capazes de se enganar sobre esse encontro. Têm aquelas que se apaixonam todo o tempo, comum hoje em dia com as tecnologias, é só dar match, porque nosso sistema gira em torno do consumo de coisas, experiências, e estamos sempre querendo forçar a barra para estarmos apaixonados. É o consumismo dessa sensação. Nossa cultura está vendendo prazer. É a mercadoria central. Quando a coisa se aprofunda, surgem questões não tão prazerosas e aí é hora de procurar outro objeto de prazer. Algumas pessoas vivem um tipo de autoalienação, são apaixonadas pela paixão e não
pelo outro. Para a manutenção da vibração/paixão é necessário que dois sujeitos estejam ancorados em si mesmos, no seu próprio eixo, e compartilhem de um mesmo projeto de vida. É um pacto. Relações dão trabalho. Se aprofundar no relacionamento com o outro exige disponibilidade e coragem.”

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Nos dias de hoje

“É cada vez mais difícil termos esse encontro no atual funcionamento social. Este ano vai ser um marco histórico. Um 2022 louco. Estamos em uma estrutura pandêmica, com guerra, medo, paranoia, sentimentos persecutórios… a gente tem tudo para desconfiar e para fugir do outro. Para ficar só no consumo superficial e descartar logo. O batidão da vida está sendo esse. É a era da desimplicação subjetiva. A culpa é sempre do outro. Não está fácil para o amor. Mas a gente quer. Temos que parar de fazer o tipo blasé. É raríssimo um humano que diz ‘eu quero ser só e permanecer só’. De verdade. Porque é a não completude. Mas dá muito medo a gente dizer ‘eu quero um amor’. Já batemos tanto a cabeça, deu tanta coisa errada, que não temos nem coragem de nos assumir desejantes. De qualquer maneira, precisamos do outro. Faz parte da essência do ser humano.”

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