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por Paulo Sampaio para revista Joyce Pascowitch

O que deu em Marcos Mion? Muitos dos 480 mil seguidores do ator no Instagram perguntam-se a mesma coisa quando se deparam com fotos dele de tanquinho de fora fazendo pose de lutador de UFC e carão de modelo de anúncio de cueca. “Ele pirou”, comenta-se. Chegou-se a pensar que fosse mais uma piada de um dos precursores da stand up comedy no Brasil, mas que nada.

Mion acredita que a distorção não está nele e, sim, nos olhos das pessoas que o avaliam. Para provar que seu preparo físico não é novidade, apresenta  credenciais de malhador emérito. “Eu treino há 14 anos, sou assim a vida inteira; minha matrícula na academia foi uma das primeiras, tem só três dígitos”, garante.  É incrível que ninguém tenha reparado antes no peitoral bombado de Mion.  Ele reconhece que o Instagram precipitou a revelação do marombeiro que urrava dentro dele. “Foi a minha saída do armário. Assumi esse lado bodybuilder.” Porém, faz questão de deixar claro que não publica fotos descamisado no aplicativo para se exibir. Em uma das imagens mais emblemáticas que postou, ele aparece com os gomos do abdome rasgados, suados e depilados, acompanhada da seguinte mensagem: “Essa foto não é pra me mostrar, não é pq eu sou exibido e muito menos pq ‘eu me amo’. Infelizmente ouvi essas coisas recentemente de pessoas do mercado publicitário, alegando que essas fotos não estavam passando uma ‘imagem legal’…perplexo não?”. Num tom indignado, pergunta a seus seguidores: “Se ser saudável, praticar atividades físicas, se preocupar com alimentação e inspirar pessoas a se cuidarem, a se amarem e terem autoestima para vencer os desafios da vida não é uma imagem legal, alguém me explica o que é?”.

Apresentador talentoso, revelado no programa “Piores Clipes do Mundo”, que a MTV passou a apresentar em 2000, Marcos Mion sempre esteve mais associado ao escracho do que à disciplina. Daí a surpresa ao dar com ele no Instagram tão milimetricamente esculpido. Mion alcançou a consagração fazendo humor com improviso, em um formato até então pouco explorado por jovens na TV. Depois do “Piores Clipes”, ele mudou várias vezes de emissora e criou programas como “Descontrole”, “Descarga MTV”, “Legendários” e “Ídolos”, que apresenta na Record. Polêmico desde o começo, mesmo assim Mion tem conseguido sobreviver profissionalmente. Fez comédias de sucesso no teatro e novelas. Mas o Instagram o projetou de uma maneira inteiramente nova.

Funil e Glutamina
Às 9h da segunda-feira, o apresentador já está na imensa sala de musculação da academia, levantando 45 quilos, a carga máxima do aparelho. Executa o chamado tríceps pulley, para turbinar a parte posterior do braço. Diariamente, são duas horas dedicadas ao corpo; a primeira, puxando ferro, a outra com exercícios aeróbicos. “Uuuuhaowm!”, ele grunhe, enquanto se entrega à primeira de três séries de oito repetições.

Entre uma e outra, saca um funil da mochila, ajusta na boca de uma garrafa d’água e despeja ali um pozinho meio acinzentado. Sacoleja até que o líquido se torne verde. O tom é semelhante ao da colônia Alfazema e, por mais improvável que possa parecer, isso indica que tem sabor de limão. Ele explica que há na mistureba seis substâncias, entre elas proteínas variadas, glutamina, BCAA (Branched Chain Amino-Acid) e… “Eu prefiro não dizer todas, porque vai ter gente tomando sem orientação, não é legal.”

Além de ingerir a poção fortalecedora antes e depois do treino, à tarde ele enche outra garrafa plástica com mais doses. Toma goles de quando em quando. A cada três horas, come refeições prontas e acondicionadas em pacotinhos de plástico que ele tira de uma bolsa térmica vermelha. Parece comida de astronauta, mas ele se mostra felicíssimo com a possibilidade de carregar sua dieta para baixo e para cima. “Justo hoje não tem batata-doce”, lamenta, explicando que se trata do “carboidrato mais completo que existe”.  Enquanto monta o prato com arroz integral, frango e espinafre no vapor, fala com empolgação da empresa que prepara seu cardápio. Diz que, antes desse advento, costumava se pegar grelhando frango de madrugada e dividindo as porções pelos dias da semana. Sócio de um restaurante japonês, ele mantém no local uma balança de alta precisão para medir o peso exato das porções de sushi (200g) e sashimi (300g) que ingere em uma refeição. Nunca come doce. “Quero viver 100% até os 100 anos. Ter bisnetos.”  Filho de um nefrologista e uma psiquiatra, ele conta que seus pais não veem problema no rigor de sua rotina alimentar nem na ritualização do treinamento hipertrófico.

A nutricionista Adriana Kachani, que lida com transtornos alimentares no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, afirma que o conceito de saúde engloba não só o aspecto físico, mas o mental e o social. “Mesmo que tudo o que está na marmita seja saudável, levar ao extremo o hábito de comer apenas aquilo pode ter impacto no convívio com as pessoas.” Mion acredita que não agride ninguém “modificando o cardápio dos restaurantes”, como ele diz, e pedindo ao maître sistematicamente que providencie franguinho grelhado com arroz integral. Para ele, é um exemplo de vida. A nutricionista explica que um dos sintomas apresentados por seus pacientes é enxergar apenas benefícios na própria conduta. “Por mais que pareça saudável levar a própria comida quando se vai com os filhos a uma lanchonete de fast- food, por exemplo, espera-se de um pai que ele compartilhe aquele momento com as crianças. E isso inclui comer o que elas estão comendo.”

Suplementação de Patrocínio
Apesar dos comentários infelizes das “pessoas do mercado publicitário”, Mion não pode se queixar de falta de retorno. Patrocinado por duas empresas de roupas e acessórios esportivos, ele foi procurado também por fabricantes de  suplementos alimentares. Sempre que pode, faz uma sincera preleção sobre “a maior loja de suplementação do Brasil”. “Fica no interior de São Paulo!”  Um dos quatro profissionais que o acompanham, o instrutor Norton James Murayama, 49 anos, elogia a disciplina de Mion: “Ele não chega a ser bitolado, mas é extremamente sistemático”. Norton tem 1,67 metro de altura, 90 quilos e diz que, se subisse em uma balança convencional para aferir o peso, seria considerado obeso. Entretanto, “é tudo massa muscular”. Só de perímetro de braço, o orientador de Marcos Mion tem 48 centímetros.

Regata Cavada
Mion veste uma capa de náilon roxa, short preto por cima de uma espécie de legging idem (para esquentar os músculos) e tênis estilo bota abóbora cítrico. O fotógrafo pede que ele tire a capa, para produzir imagens de seu abdome. Ele resiste. Repete que sua intenção não é parecer exibido. Finalmente, consente em tirá-la. A cena é impactante. Por baixo, ele veste apenas uma camiseta regata preta megacavada, que expõe seus braços cheios de tatuagens. Os desenhos são homenagens a seus três filhos, Romeo, 8 anos, Donatella, 4, e Stefano, 3; e à mulher, a designer Suzana Gullo, 36.

Ele declara constantemente seu amor a ela, e diz que, se demorou até encontrar uma companheira, “foi para escolher bem”. “É a mulher com quem quero viver até o fim da vida.” Suzana é uma morena alta, magra, pele muito lisa, cabelos cintilantes, dentes grandes e alvos. Não malha. Nem precisa. Mion o faz pelos dois: “Quero ela do jeito que é, sem mudar nada. A Su é mulher, não tem de estar forte. Deixa isso pra mim”, ele diz. Suzana não vê problema na malhação desenfreada do marido, nem mesmo quando precisa aguardar enquanto ele treina. Os dois contam que certa vez, em uma temporada de férias num vilarejo perto de Maceió, Mion dirigia diariamente duas horas para ir e voltar até uma academia adequadamente equipada. “Ouço tantas amigas reclamando que os maridos não desgrudam. Eu não tenho esse problema. Além disso, fui criada em uma família de homens golfistas, que saíam para jogar e passavam o dia longe”, conta ela, que tem origem napolitana e diz adorar “um bom prato de massa”. Suzana ensinou o marido a pedir “salada caprese” nos restaurantes, quando o casal viaja para a Itália. Invariavelmente, ele come a salada e peixe. Ela prefere algo como polenta e risoto, e isso confunde os garçons na hora de servir os pratos. “Eles sempre pensam que o risoto é do homem, a salada da mulher”, ri.

Preconceitos de identidade sexual são frequentes em relação a homens que cultivam demasiadamente o físico. Muitas mulheres costumam fazer comentários machistas, do tipo “isso é coisa de gay”, especialmente sobre os mais exibidos. Mion acredita que o físico “não pesa quando uma mulher está apaixonada por um homem”. “Não treino para agradar os outros, e, sim, para me sentir bem. Não seria feliz se tivesse barriga.” Para Suzana, “o físico do Marcos é só um bônus que acompanha o homem mais inteligente que eu conheço.”

Apesar de fazer charme para tirar completamente a camiseta na academia, Mion se deixa fotografar sem constrangimento durante as gravações do “Legendários”, paramentado como a funkeira Anitta, de cinta-liga, top de spikes e sapato alto. Quando o fotógrafo se aproxima, ele enrijece os músculos. Explica que se submeteu à depilação definitiva por uma questão de “gosto pessoal”. “Detesto pêlos.” O curioso é que, na hora do ensaio, ele não provoca graça como qualquer homem vestido de mulher. O tempo todo MM parece preocupado em alongar-se com acuidade. Olha-se no monitor da TV com admiração, encolhe a barriga, e imita Anitta com tanta perfeição que o quadro perde um pouco da comicidade. Aparentemente, o comediante passou a se levar a sério.

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