A semelhança física impressiona, mas Luiza Lemmertz não teme as comparações com a mãe, Júlia Lemmertz. “A gente troca muito na vida, sempre. Somos extremamente amigas e amamos conversar sobre nossa profissão e sobre tudo. Não tenho porque ter medo ou querer negar. Tenho o maior orgulho”, fala Luiza, dona de um rosto exótico, um pouco andrógino, herdado da mãe e da avó Lilian Lemmertz, assim como o talento em cena. Aos 30 anos, acaba de estrear a quarta peça de seu currículo no Rio de Janeiro, “Grande Sertão: Veredas”, com direção de Bia Lessa – antes passou por temporada em São Paulo -, fez seu primeiro filme “A Casa do Girassol Vermelho” – rodado em 2017 e com estreia prevista para este ano – e tem desejo de experimentar a televisão. “É um modo de fazer, atuar, de produzir diferente, tem um alcance imenso e a possibilidade de falar coisas importantes pra muita gente”, reflete ela, que vem de uma escola muito teatral, passando por Zé Celso Correa, Antunes Filho e, agora, Bia Lessa.
“Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, em que Luiza interpreta Diadorim, exigiu total dedicação, e ela precisou contar com o apoio da mãe e do marido, o músico Cairê Rego, nos cuidados com seu bebê, Martin, de um ano e dois meses. “É bem difícil (conciliar), mas tenho uma família e um marido que me ajudam muito, entendem, e acho que só assim é possível. Sem estrutura não dá, porque fiquei imersa durante os ensaios”, conta Luiza. Confira o que mais a a atriz falou para o Glamurama!
Glamurama: Como é participar desse espetáculo?
Luiza: Pra mim é uma benção. É um espetáculo muito diferente de todas as coisas que eu já fiz e vi. Fazê-lo requer uma potência, uma força, que só aprendi fazendo, antes não sabia. Acho que o Guimarães tem algo absurdamente especial nesse texto, nesse livro.
G: Vocês do elenco parecem sair exaustos da peça, pois é uma entrega…
L: É… Uma entrega que vai além… Mas só dá pra fazer indo nesse “lugar”, não tem como ser menos. O espetáculo é quase uma coreografia onde nossos corpos se transmutam em bichos, plantas e humanos o tempo todo. Exige que os atores sejam um pouco atletas.
G: Já tinha lido o livro antes?
L: Tinha lido, mas não estava muito preparada. Quando passei por ele, era muito nova e reli pra fazer o projeto. A história entrou em mim e me arrebatou completamente. Fiquei tomada por ele e ainda reverbera em mim todos os dias. Sei que vai ficar pra minha vida…
G: Você tem um filho pequeno…
L: Tenho, de um ano e dois meses.
G: Como consegue conciliar a vida de mãe de bebê com a peça?
L: É bem difícil, mas tenho uma família e um marido que me ajudam muito… Acho que só assim é possível. Sem estrutura não dá, porque no período de ensaios fiquei imersa. Entrei no fim do projeto, não participei de todo o processo e tive que abdicar da minha vida inteira, de cuidar de tudo, mas eles seguraram a onda.
G: Você pede dicas pra sua mãe quando vai fazer um trabalho?
L: A gente troca muito na vida, sempre. Somos extremamente amigas e amamos conversar sobre nossa profissão e sobre tudo. Mas nessa peça não. Ela assistiu a um ensaio geral, quando fomos estrear em São Paulo, e achei engraçado porque ela falou pro meu marido “Cairê está tudo bem com a Luiza, agora eu entendi o que está acontecendo”. Todo mundo achou que eu estava maluca (risos), porque estava fora da vida. Mas aí ela me disse “que lindo, vai fundo”, e me deu o maior apoio.
G: Você já fez cinema, teatro, tem desejo de fazer televisão?
L: O ator tem esses três lugares que são bem diferentes entre si e acho que a TV é uma linguagem que, como nunca explorei, tenho curiosidade de fazer. É um modo de atuar, de produzir diferente, tem um alcance imenso e a possibilidade de falar coisas importantes pra muita gente. Com as séries, a TV está se modificando, a linguagem, a fotografia, acho interessante e dá vontade de fazer, sim.
G: Tem medo de comparações com a sua mãe?
L: Não. Isso pra mim é bobagem porque sempre penso em família de circo, sabe? É isso, os filhos vão seguindo os pais e aprendem não só com os pais mas com todos. Não tenho porque ter medo ou querer negar. Tenho o maior orgulho. Até tive um momento em que achei que não era isso, fui fazer outras coisas, fiz faculdade de desenho industrial, mas fui pega e não consegui fugir. (por Gisele Cassus)