“A burguesia não se modificou com a pandemia. Os aviões estão lotados e os teatros fechados”, afirma Luís Miranda em live com Joyce Pascowitch. Ao papo!

Luis Miranda

A live dessa quinta-feira foi puro alto astral, com boas risadas e muitas histórias com Luis Miranda e Joyce Pascowitch. O ator estreia nesta quinta-feira, na internet, esquetes da peça ‘Madame Sheila’, com conceito e direção de Monique Gardenberg, e cenário de Daniela Thomas. O projeto faz parte do Teatro Unimed em Casa. Madame Sheila é conhecida por quem acompanha a carreira do humorista. Uma madame elitista, acostumada com uma vida de luxo. Agora, ela passa a quarentena confinada em sua mansão em Paris, cercada de uma dezena de empregados. “Sheila está confinada no seu closet e pensando no que fazer com tanto dinheiro, para quem se mostrar e se exibir. Sobraram os criados que ela nunca olhou na cara. Quando ela se depara com essa classe trabalhadora  dentro da casa dela, ela finalmente descobre a sociedade que se construiu em torno de seu lar. Aí ela descobre o ‘obrigada’, o ‘bonjour’…”, conta Luis, que ainda falou sobre suas origens, humor no Brasil, desigualdade, pandemia e muito mais.

Pandemia e teatro
“A burguesia não se modificou com a pandemia. As pessoas ficam desesperadas por que o shopping está fechado. Os aviões estão lotados e os teatros, fechados. Tem alguma coisa meio estranha aí, e isso causa um ruído muito grande quando você escuta falar no número de mortes e todas essas coisas. O teatro busca uma forma de resistir. Essa experiência do online, de filmar a peça, as pessoas vão poder assistir uma peça com o mesmo padrão do teatro, mas com um requinte, a câmera vai captar as emoções, o texto…”

Personagens femininos e masculinos
“Acho que a própria essência da personagem feminina se constrói de uma forma diferente. Ela é mais sofisticada que o homem, como é o caso da Sheila. Eu precisava dessa fineza para tentar sensibilizar as pessoas do grotesco que é a maldade que elas fazem umas com as outras e com a sociedade de maneira geral, sob a tutela da educação, do dinheiro. Tenho predileção por esses personagens mais ácidos. Empresto para eles vários personagens que conheço na vida. Claro que boto uma lente de aumento. Meus personagens homens geralmente são mais fragilizados.

Representatividade
“Existem bons e maus atores. O caráter e o aprofundamento individual no trabalho independe da cor. Mas existe uma politica  absurda que as vezes não me atinge diretamente, mas atinge meus ‘irmãos’. Aquelas pessoas que estão na periferia, nos ônibus, que nos servem nas lanchonetes, nos bares, que em sua grande maioria são pessoas  negras, que sofrem com esse trauma no cotidiano dos assassinatos, da violência, do descaso, do preconceito institucionalizado, do tratamento diminutivo. Estamos nos colocando nessa batalha, nessa luta, para dar visibilidade a essas pessoas. Nos predispondo a fazer isso de forma poética, com empatia, valorizando essas pessoas. Não só os negros, mas os gays, índios, gordos, transgêneros, os ditos não bonitos. E nesse momento em que vivemos, mais ainda… as pessoas têm que lavar um pouco o coração.”

Origem baiana
“Temos ginga, jogo de  cintura.  Tem a ver com improvisar nas dificuldades, ter fé. Isso vem da minha mãe, das minhas tias. Acreditar em si e nos outros. Mas é inegável que quem sou hoje devo muito a São Paulo. Minha experiência de vida, as pessoas com que cruzei, onde estudei. A Bahia me dá régua e compasso. São Paulo, caneta, borracha e quadro.”

Humor no Brasil
“Tudo o que esta aí tem gente para consumir. Meu único medo é a polarização em vários sentidos. Tivemos o episódio da bomba no escritório do ‘Porta dos Fundos’. Em paralelo, um governo que vem na contramão de tudo o que avançamos na cultura e na sociedade, instituindo regras e normas que, de maneira bem clara, é censura. Além disso, temos as redes sociais, com várias opiniões e isso aberto para todo mundo falar o que quer, polemizar. O humor hoje em dia está bem polido. Eu continuo dando a cara a bater nesse sentido, mas não atacando gratuitamente ou ofendendo diretamente, nem sendo leviano com o comportamento alheio. Minha maneira de criticar é colocando um espelho para a sociedade.”

Play para ver a live completa:

 

 

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