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Luis Lobianco, o Clovinho de “Segundo Sol” || Créditos: Fernando Young

No ar em “Segundo Sol” na pele do carismático Clovinho Falcão, ninguém diz que Luis Lobianco, 36 anos, nunca tinha feito novela até então. Ele atuou em mais de 30 peças de teatro, 10 longas-metragens e cinco séries para a TV, tudo isso depois de explodir com a turma do Porta dos Fundos, tendo integrado o coletivo de comédia por cinco anos. Casado com Lúcio Zandonadi, o ator é atuante na defesa dos direitos LGBTQI e fala abertamente sobre seu posicionamento político #EleNão, comenta a polêmica em torno das declarações feitas por Anitta e ainda sobre os projetos futuros.

Criador dos movimentos “Buraco da Lacraia”, “Rival Rebolado” e “Portátil” (Indicado ao Emmy Internacional pelo registro da turnê da peça de teatro para a TV), ele possui um trabalho autoral e engajado. Em outubro, ele volta com o monólogo “Gisberta”, de sua autoria, com três apresentações no Rio, no dias 12,13 e 14 de outubro, na Cidade das Artes e, em novembro, parte para Portugal onde faz duas no Porto, nos dias 27 e 28, e mais três em Lisboa, nos dias 4, 5 e 6 de Lisboa.” Ao papo!

Glamurama: Como está sendo o desafio de interpretar Clovinho Falcão em Segundo Sol? 
Luis Lobianco:“Já tinha feito TV aberta, mas nunca novela e tem sido desafiador. Passar um ano com um personagem, com uma audiência tão grande… Novela é patrimônio brasileiro. O público entende de novela, então não tem ‘tapiação’, tem que fazer bem e pra valer. Coloquei minha energia toda no Clovinho. Estudei muito a Bahia e o texto para chegar pronto no estúdio. O personagem fala direto no coração das pessoas e todo mundo diz que conhece um cara que é igual a ele, impressionante a identificação das pessoas.”
Glamurama: O que você aprende com esse personagem?
Luis Lobianco:“Diferente de mim, Clóvis expõe o sentimento dele. Temos a cultura de que o homem não chora, não pode ser vulnerável, e ele é o contrário disso. É muito intenso, vive todas as situações por inteiro. Às vezes acho que sou muito controlado e racional na minha vida. Artisticamente choro muito, cada dia de gravação é uma montanha russa de emoções e isso dá para o ator uma bagagem de sentimentos que leva para todos os outros.”
Glamurama: O que podemos esperar para o futuro dele na trama?
Luis Lobianco:“Nesse momento ele não quer papo com a Gorete (Thalita Carauta), estão afastados. O ‘Baduzinho’, filho dela que ele é apaixonado, vai fugir de casa por não aguentar ver os dois brigando, o que vai deixá-los desesperados e isso deve reaproximar os dois. Torço para que eles façam muito sucesso.”

Glamurama: Ano que vem vai estrear com o seu primeiro protagonista nos cinemas em “Carlinhos e Carlão”, dirigido por Pedro Amorim. Conte nos um pouco sobre o longa.
Luis Lobianco: “Está lindo! Filmamos em setembro de 2017 e deve ser lançado em janeiro. É uma história sobre LGBTfobia. No começo do filme eu sou Carlão, homofóbico e machista, e aí a gente usa a fórmula de ‘Se eu Fosse Você’, e ele de repente descobre que também é Carlinhos, uma bicha maravilhosa e feliz que só aparece a noite, e passa a sentir na pele a homofobia. A partir daí, começa a repensar suas atitudes como Carlão. É uma metáfora que fala sobre como devemos fazer o exercício de empatia e minorias que são alvo de discurso de ódio. O Brasil é o pais que mais mata LGBTQI no mundo e a gente tem quer reverter esse quadro. Estão comigo no elenco Luís Miranda, que faz uma drag queen, Tati Lopes, Thiago Rodrigues, Pedroca Monteiro, Otávio Augusto e muito mais.

Glamurama: Você, como representante participativo da comunidade LGBT – ganhou o prêmio o Cidadania em Respeito à Diversidade pela organização da Parada LGBT de São Paulo em 2017 -, o que acha que pode ser feito para melhorar a situação da comunidade?
Luis Lobianco: “Nesse momento, o que eu digo para a comunidade LGBT é: seja consciente na hora de votar. Durante muito tempo as intenções de candidatos políticos eram obscuras, eles falavam uma coisa, faziam outra e eramos enganados. Hoje o discurso de ódio é muito claro por quem está disposto a incentivar a violência. Nesse momento precisamos prestar muita atenção no que as pessoas estão falando, com os olhos bem abertos, e não deixar de votar. Às vezes penso que nenhum candidato me representa por completo e realmente esse é um problema do nosso tempo no mundo inteiro, mas se a gente não fizer nada, algo muito pior pode acontecer.”
Glamurama: Nesta semana você foi vítima de comentário homofóbico nas redes sociais. Isso acontece com frequência ou é um fato isolado?
Luis Lobianco:“Não é um fato isolado. 95% dos comentários que recebo são carinhosos, de pessoas que acompanham meu trabalho, mas tem uma minoria que entra ali para desfilar ódio. Normalmente não respondo, mas também não tenho sangue de barata. Posto muito pouco sobre minha vida pessoal, foco mais no trabalho, mas era uma foto que eu estava com minha sobrinha e meu marido e foi um comentário extremamente cruel de um perfil fake. É meio desesperador brigar com um robô – até que ponto chegamos? -, perfis sem nenhuma publicação
preparados para disparar mensagens quando detectam um algorítimo ‘x’. Mas isso não me desanima, muito pelo contrário, tenho muito orgulho da minha família e os incomodados que se mudem. Respondi que o que ele escreveu diz sobre ele e não sobre mim, e fui defendido pelos seguidores, é lindo ver tanta gente jovem e consciente. Não gosto de me expor, mas não quero me esconder. Para um público reacionário é difícil lidar com um ator que faz sucesso e vive harmoniosamente com a mãe, irmãs, sobrinha e marido. Tem gente que não suporta isso. É reação, mas também é mudança.”
Glamurama: Parece que hoje tudo é polemizado. Você vê isso sob um aspecto positivo?
Luis Lobianco:“Há 15 ou 20 anos o brasileiro não falava sobre política e hoje debate sobre ela e isso é muito positivo. Há esse tipo conflito e radicalismo de todos os lados, mas o fato é que as pessoas – mulheres, intolerantes e haters – estão ‘saindo do armário’ e vai ter avanço porque com embate e debate você muda uma situação.”

Glamurama: Está mais difícil fazer humor nos dias de hoje?
Luis Lobianco: “Está difícil ser artista nos dias de hoje. O humor obviamente fica na linha de frente, pois quando se faz humor consciente, crítico, ele é atacado por todos os lados. Já tiveram várias tentativas de barrar o humor político, uma tradição no Brasil – em qualquer democracia se faz isso -, mas não conseguiram. Hoje há um discurso de ódio ao artista porque a arte é reveladora e denuncia injustiça e diferenças. Muita gente quer que o país não mude e fala sobre a lei Rouanet sem ter noção de que é importantíssima para a viabilidade, e ninguém recebe dinheiro por ela. O país tem lei para tudo porque não vai ter para a cultura? Qualquer país minimamente consciente tem uma política de cultura muito sólida, então vivemos uma crise. Artistas estão sendo atacados de todas as formas, mas vamos resistir saindo para trabalhar e criando projetos. A matéria prima do artista é a liberdade.”

Glamurama: O humor pode fazer algo pela diversidade?
Luis Lobianco:“Acho que sim e já fez muito pela diversidade. Houve um tipo de comédia – que eu nunca fiz – muito baseada no preconceito no Brasil, e isso não cabe mais. Todo mundo sai ganhando quando faz rir do opressor, e não do oprimido. Sou péssimo contando piada, meu interesse está em contar histórias engraçadas e dramáticas. Coloco humor em tudo o que faço, está no meu DNA, mas nunca um que aponta o dedo. Gosto do reflexivo, da empatia… Em ‘Gisberta’, por exemplo, conto histórias minhas, da minha infância. Até poesia pode faz rir. Que bom que a gente rompeu com esse humor preconceituoso, o país não precisa disso agora.”

Luis Lobianco || Créditos: Fernando Young
Glamurama: Nessa semana, Anitta foi criticada por dizer que faz parte da comunidade LGBTQI. O que você acha? Quem apoia também faz parte?
Luis Lobianco: “Sim, desde que apoie em todos os momentos. Acho incrível que Anitta seja a artista que ela é, internacional, maravilhosa e empreendedora, e que junte suas energias e força ao movimento LGBTQI. Eu acho que ela faz sim parte da comunidade – canta na parada e tudo mais -, mas este é um outro momento. Temos um candidato que pode chegar à presidência com discurso claro sobre homofobia, dizendo que filho gay tem que apanhar e isso no país que mais mata LGBTQI no mundo. O que a comunidade precisa é de um posicionamento político, e quem faz parte dele tem que se colocar. Ela é formadora de opinião e pode abrir a cabeça de muitos jovens, então é importante que haja um apoio mais claro neste sentido. Um #elenão cairia muito bem.”

Glamurama: Às vésperas das eleições, como se posiciona politicamente? 

Luis Lobianco: “Não declarei meu voto por enquanto, estou entre dois candidatos e sigo estudando, mas já me posicionei contra [Jair] Bolsonaro. [Elegê-lo] é voltar muitas casas no debate sobre tolerância e principalmente no respeito às mulheres, já que ele fala com todas as letras o que pensa e isso não é bom. Nessa semana, o General Mourão, vice dele, falou que casas que só têm mães e avós são ambientes que criam desajustados, sendo que o Brasil só é erguido por que muitas mulheres seguraram a onda quando foram abandonadas. Se não fossem elas não seria Brasil. Mas o que mais me assusta é o despreparo sobre economia. Precisamos ter alguém com mais preparo para lidar tanto com as questões humanas quanto com a administração do país. #Elenão.”
Glamurama: Você considera adotar uma criança? 
Luis Lobianco: “Por enquanto não. Sou ator, me envolvo com muitas coisas ao mesmo tempo, e meu marido [Lúcio] também é artista – pianista compositor e maestro. A gente se dá muito bem com crianças, mas agora nosso filho é nosso trabalho. Viajamos muito e seria um pouco irresponsável ter uma criança neste momento. De repente, daqui dois anos, a gente possa se organizar para isso.”
Glamurama: Hoje, qual é a sua participação no Porta dos Fundos?
Luis Lobianco: “Nesse momento não estou gravando por conta da novela, não tem como conciliar os dois, mas é o projeto que me colocou no mercado. Fazia teatro há 19 anos quando começamos o Porta, eu era muito feliz mas não tinha o retorno que precisava ter para o mínimo de sobrevida como artista. Quando começou o Porta e fui convidado, todos tinham isso em comum, eram artistas incompreendidos que não tinham espaço para falar o que queriam. Ninguém calculou que chegaria a este ponto, tenho muito amor pelo projeto. São meus amigos, pessoas que encontro no fim de semana. Tudo o que faço hoje é graças a ele. O canal tem um alcance internacional. Em Portugal, por exemplo, é um fenômeno.” (Por Julia Moura)

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