Lobão entra nesta quarta-feira para a turma dos sexagenários com o pique de sempre e a sensação de missão cumprida. Depois de trabalhar desde janeiro cerca de 14 horas por dia em seu novo livro, “Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock”, e ter engatado as gravações de seu próximo CD, com lançamento previsto para dezembro, o músico contou ao Glamurama que vai comemorar a data descansando. Confira entrevista!
ROCK’N’ROLL DOS ANOS 1980
O que podemos esperar pelo novo CD? “Uma homenagem ao rock dos anos 1980”, que Lobão confessou ao site sempre ter achado extremamente ruim, mas que, durante as pesquisas para seu livro, descobriu criações muito boas a ponto de querer homenageá-las em seu novo disco. “Nos anos 80, eu tinha uma certa alergia às gravações, que eram muito ruins, mas durante a escrita acabei vendo que a década tem coisas com excelente qualidade”, conta Lobão. “E agora tenho um carinho muito grande em perceber diante da enorme precariedade que a gente vivia na época que coisas sensacionais foram feitas.”
CENSURA
Complemento do livro, o CD é duplo e reúne 24 músicas que ganharam roupagem completamente nova, agora com mais “peso”. No início eram 25, mas uma foi vetada: a “Surfista Calhorda”, da banda Os Replicantes. “Adulterei uma frase e a banda achou que não foi legal. Me antecipei… Não conheço os caras… Mas já pedi desculpas a eles, adoro a banda de qualquer maneira.”
O álbum começa com música de Rita Lee e termina com “Azul e Amarelo”, composta por Cazuza em parceria com Lobão em 1989. No recheio, músicas dos Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Engenheiros do Havaí e Guilherme Arantes. Deste último, Lobão criou versão sertaneja da música “Planeta Água” e é a única faixa do disco que foge do rock. Sobre a ousadia, Lobão garante: “Fiz uma alusão à música caipira mais tradicional. Sei que não assassinei ela não!” (risos). Vale lembrar que Lobão começou a flertar com a música caipira em seu CD anterior, “O Rigor e a Misericórdia” , que contém quatro músicas do gênero.
ABAIXO A ARTE
Sobre a censura à arte e à nudez, temas atuais no Brasil, Lobão – que além de não ter papas na língua é parte de uma geração libertária – deu a letra: “A arte em si não pode nunca ser reprimida, mas a arte está cada vez mais repetitiva e medíocre . Tudo muito forçado.” E a queixa não acabou aí: alertando à tendência da sociedade em ser atraída por uma “arte medíocre”, completou: “O que me deixa triste é que esse tipo de vanguarda não é vanguarda, e sim algo que já foi feito em movimentos passados como o dadaísmo. Não há inovação e sim uma repetição de padrões. E a gente continua achando que isso é vanguarda.” Sobre o que muitos chamam de ousadia, Lobão opina: “A arte está muito mais careta hoje com esse fluxo excessivo de querer espantar a burguesia.”
RETROCESSO
E Lobão estendeu sua opinião às demais vertentes das artes. “Em todos os lugares você vê um declínio muito grande da qualidade artística. Ao ligar a TV, me assunto com a qualidade do que tem sido feito. Fica a pergunta: por que cargas d’água tamanho retrocesso? O que será que aconteceu na nossa sociedade que levou a esse retrocesso?”
Apesar das queixas, Lobão vê luz no fim do túnel: a banda Far From Alaska, de Natal, que optou por repertório em inglês para atrair também o público de fora. “Eles têm um nível internacional, são muito bons.”
Lobão sendo Lobão fazendo, no mínimo, a gente refletir!
(Por Julia Moura)
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