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||Créditos: Maurício Nahas/Revista J.P
Roberta Rodrigues e Letícia Lima, as funkeiras de “A Regra do Jogo”||Créditos: Maurício Nahas/Revista J.P

 

Ao mesmo tempo em que lutam pelo amor do mesmo homem, elas se tornaram um trunfo da Globo na acirrada briga pela audiência no horário nobre. Inimigas figadais, Alisson e Ninfa deram folga a Letícia Lima e Roberta Rodrigues para que pudessem posar de pin-ups neste ensaio

Por Paulo Sampaio para a Revista J.P de dezembro

“Vai ser um ménage?”, pergunta Letícia Lima, 31 anos, antes do início da entrevista em conjunto com Roberta Rodrigues, 33. Na novela das 9, “A Regra do Jogo”, as duas atrizes fazem os papéis das funkeiras Alisson e Ninfa, que disputam o amor do MC Merlô (Juliano Cazarré). As coincidências entre elas terminariam aí, não fosse o fato de ambas terem nome e sobrenome iniciados com a mesma letra – tipo Marilyn Monroe. LL ri o tempo todo (“A gente passa tantas horas no Projac que a Susana Vieira até me ofereceu o colchãozinho que ela deixa em um canto do camarim.”). RR, que agora usa um aplique loiro, fala sério (“A grande questão do ator é não cristalizar; a gente precisa se reinventar o tempo todo…”). Dando prosseguimento à questão que inicia este texto, Letícia L. pergunta: “A gente vai foder ou fazer amor?”. Antes de entrar no estúdio e posar de pin-up em um biquíni estampado, Letícia diz que tudo ali é novo para ela, e que está gostando de brincar de ser capa de revista. Na TV, onde faz sua primeira novela, a atriz explica que ainda não dominou completamente o posicionamento das câmeras no set, de maneira que sempre tem receio de passar na frente de alguém durante uma cena. “Imagina eu, ‘cobrindo’ os colegas no velório da Djanira (Cassia Kis)”; já Roberta, que está em sua nona novela, sem contar os 16 filmes, lida com mais familiaridade com o aparato técnico. “Quando passei no teste para fazer ‘Cidade de Deus’ (Fernando Meirelles/2002), não tinha noção do que era cinema. Fiquei muito nervosa.” Como o papel (de Berenice) não era grande, ela pediu para fazer estágio no backstage, acompanhando os cabeleireiros, maquiadores, toda a produção, e aprendeu muito.

As duas atrizes costumam ir para a Globo no carro de RR. LL vem de Botafogo, onde mora em um “dois quartos com uma microcozinha gourmet”, e espera a colega no Fashion Mall, em São Conrado; Roberta sai da comunidade do Vidigal, na avenida Niemeyer, onde nasceu, cresceu e vive até hoje, pega Letícia e segue para Jacarepaguá, na zona oeste, onde ficam os estúdios da Globo (Projac). Dependendo do dia, e do horário, elas levam 50 minutos ou duas horas e meia para chegar.  “Durmo no colchãozinho da Susana, e moro no carro da Roberta”, diz Letícia. Muita coisa no caminho, como obra, eventos da cidade, elas conseguem evitar porque a produção da novela manda um mapa de véspera, avisando o melhor trajeto a fazer. “Eles são superorganizados”, conta Roberta. Se por acaso aparecem novos imprevistos no percurso, e a viagem se prolongue, elas aproveitam para passar o texto de seus personagens. Isso, ao que tudo indica, é a parte mais divertida…

MEDO DA AMORA

Letícia iniciou a carreira fazendo teatro em Três Rios, onde nasceu, uma cidade de 90 mil habitantes no interior fluminense. Passada a adolescência, ela se mudou para o Rio, cursou faculdade de cinema, e lá conheceu o ex-namorado Ian SBF. Os dois fundaram o grupo humorístico Anões em Chamas, precursor do mega-hype Porta dos Fundos, fenômeno de audiência no YouTube. Graças a vídeos como “Cantada” (em que ela responde a uma cantada “suja” de um operário de rua com mais baixarias ainda) e “Na Lata” (em que pergunta ao atendente, no supermercado, se existe a latinha de refrigerante com o seu nome, Kellen, e ele responde que “não tem nome merda, de puta” ), Letícia Lima foi alçada ao posto de estrela pop instantânea. Atraiu a atenção de Amora Mautner, a “genial” diretora de núcleo da Globo, que “privilegia a emoção” do ator e a interpretação “naturalista”.  “No começo,  morria de medo da Amora não ter paciência comigo, mas ela foi uma querida”, conta Letícia. A história de Roberta Rodrigues também começou no palco. Embora até os 16 anos tenha sido exímia praticante de nado sincronizado, ela conta que sua mãe não sossegou enquanto não a viu no grupo de teatro Nós do Morro, do Vidigal.  E bastou a garota pisar no tablado para esquecer completamente as piruetas aquáticas. O diretor Daniel Herz, cliente da oficina mecânica do pai de Roberta, conseguiu uma bolsa para ela na Casa de Cultura Lauro Alvim, em Ipanema, e então a garota não pensou mais em outra coisa. Ao fim, engatou outro curso, da preparadora de atores Paloma Riani, também freguesa da mecânica de seu Adilson.

Bonitona, talentosa, cheia de energia, Roberta encantava todas as bancas examinadoras nos testes de elenco de que participava. Seu grande sucesso de público foi a personagem Maria Vanúbia da Conceição, de “Salve Jorge” (Glória Perez, 2012), uma “paty da comunidade” que passava a maior parte do tempo na laje, de biquíni, aplicando água oxigenada 20 volumes para clarear os pelos do corpo. Na história, Vanúbia “tretava” com Lurdinha (Bruna Marquezine) e fugia do assédio de Pescoço (Nando Cunha).  “Aceita que dói menos”, aconselhava ela, usando um de seus bordões favoritos. A “Regra do Jogo” é sua sexta novela no horário nobre. Nas horas vagas, que não são muitas, a atriz canta na banda de samba-rock (funk, pagode e hip-hop) Melanina Carioca, que toca versões próprias de hits conhecidos. “Às vezes não dou conta de acompanhar os meninos. Eles fazem uma média de 22 shows por mês, é muita coisa.” Na banda, são seis homens e duas mulheres. “Ela é a rainha ali”, diz o figurinista Fabricio Miranda, amigo de longa data. “Eles me respeitam muito”, reconhece Roberta. “Eu cuido deles, no sentido de preservá-los. Mostro que estão tendo uma  oportunidade legal, não é para deixar passar.”  Para ela, o trato é facilitado pelo fato de a maioria ser homem. RR diz que prefere a companhia masculina, por achar que “eles são menos complicados”.

PESSOAL DA BELEZA

Em frente ao espelho do camarim, cada uma em uma cadeira, Letícia e Roberta fazem comentários divertidos à medida que o “pessoal da beleza” as “finaliza” para as fotos. “Meu cabelo é virgem, nunca pintei”, diz Letícia. E Roberta: “Quando eu era criança, minha mãe puxava tanto o meu para fazer rabo de cavalo que eu ficava japonesa. O povo dizia: ‘Que negra exótica!’”  O momento de descontração parece perfeito para entrar no tema “vida pessoal” – seja lá o que isso queira dizer, agora que os sites de celebridade exauriram o seu sentido.  Letícia está sem namorado no momento, depois de um “relacionamento sério” de oito anos com Ian SBF. “Sobrou um filhote, o Bruno”, ela diz, provocando suspense. Vocês tiveram filho? “Calma, gente! Um cachorro!” Muito coquete dentro de um maiô bicolor, rodando pelo estúdio em cima de um par de patins, LL conta que na adolescência era “horrorosa”. “Eu fui a garota mais magra da história de Três Rios”, lembra.  CDF e intelectual, ela conta que participava da feira de ciências da escola, lutava pelo direito à água gelada no bebedouro e participava do grêmio estudantil. “Quando eu fui ao programa do Jô, ele viu uma foto minha na adolescência e disse: ‘Que menina estranha’. Todo mundo do teatro fazia book em Juiz de Fora, menos eu.” Agora que ela ficou (segundo a própria) “gata e inteligente”, por que não arruma um namorado?  “Com essa rotina de trabalho, não sobra tempo.” Atores sempre namoram atores, será que não dá para arrumar alguém na Globo mesmo? “Pois é, eu começo a  entender a realidade das pessoas no Projac. Écomo se elas  fossem de uma espécie  que se reproduz no mesmo habitat. Fulana é casada há anos com sicrano da outra novela. Eu acho bonito.”

E Roberta, tá namorando? “Tô”. Bonito? Ela enguiça: “Não gosto de falar da vida pessoal (olha ela aí)”. Embora já tenha posado com o administrador de empresas Guilherme Guimarães em vários “sites de celebridades”, ela é econômica ao falar do “amado”.  E dá uma encrespada: “O que é bonito para você, pode  não ser para mim. Você quer saber se ele tem músculos? Se é sarado? Não, não é!”. Falando desse jeito, Roberta  dá a entender que GG é um baixinho gorducho, simpático, que a ganhou na base do xaveco. O fato é que (checamos no Google) GG é bem apresentável. Não que chegue aos pés dela. A mulher é um colosso. Biquíni cavadão, sapato Louboutin altíssimo, cabelo megaesvoaçante, ela caminha maravilhosamente pelas dependências do estúdio. E com tudo isso para agradecer a Deus, ela ainda solta uma blasfêmia: “Tô me sentindo gorda, com celulite.” Pois quando a “gorda” entra no set com a “garota mais magra da história de Três Rios”, e as duas passam a brincar de mulher fatal, todo o resto se rende ao misto de talento, graça e sex-appeal.

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