O que era para ser uma mobilização pela exposição “Queermuseu”, proibida no Rio de Janeiro no ano passado, virou um grande ato em torno da morte da vereadora Marielle Franco, nessa quinta-feira, no Parque Lage, Rio. A ideia inicial era promover o leilão de 81 obras doadas por renomados artistas, seguido por um show especial de Caetano Veloso para arrecadar fundos e trazer a polêmica mostra para a cidade, mas diante do ocorrido, o evento acabou mudando de foco.
Muitos seguiram para o Parque Lage após o enterro de Marielle e os protestos na frente da Assembleia Legislativa do Rio. Caetano Veloso, estrela da noite, falou ao Glamurama: “Fomos convidados para vir aqui celebrar a vinda da exposição ‘Queermuseu’ como um gesto de resistência à obscuridade que nos ameaça e fomos surpreendidos por um gesto brutal dessas forças. O tom da nossa celebração de resistência mudou. Então, quis abrir o show com ‘Milagre do Povo’, que é uma canção que fiz para Jorge Amado e que vai diretamente ao centro do problema da sociedade brasileira, que é a não capacidade de superação da escravidão”, disse Caetano, que continuou justificando as escolhas das canções. “Quero homenagear a música brasileira cantando “Maria Moita” que nem sei a letra direito e posso errar ao cantar ou tocar, mas não quero deixar de lembrar porque é uma das primeiras canções de protesto consciente no período da Bossa Nova, escrita por Vinicius de Morais. Fala sobre a situação da mulher no Brasil, especialmente da mulher negra. Muitos podem não se lembrar porque não ter idade pra isso”, explicou o cantor, antes de entoar a música com seu violão.
O leilão tradicional das obras acabou dando lugar ao que chamaram de “leilão silencioso”, que vai continuar virtualmente, em um site de crowdfunding, devido à consternação de todos os envolvidos, mas os organizados do evento acreditam que será um sucesso e a exposição será aberta por volta de junho, no Parque Lage. “Ontem tivemos esse fato dramático, trágico e que merece a nossa indignação e discussão sobre o fato. Temos que acelerar a nossa luta por uma sociedade mais justa, pois rapidamente se encaminha para o obscurantismo, fascismo, a intolerância, que está causando essas mortes. É um momento de alerta e consternação pro Brasil. A luta do ‘Queermuseu’ se aproxima de toda essa tragédia brasileira, desse universo que a gente está vivendo hoje porque a mesma intolerância fascista que fechou essa exposição é a que mata”, analisou o curador da exposição “Queermuseu”, Galdencio Fidelis, que usava uma fita preta no braço, em luto pela morte de Marielle.
O diretor do Parque Lage, Fábio Szwarcwald, lembrou que o local sempre foi símbolo de resistência. “Esse retrocesso tem que ser combatido, ter liberdade de escolha é algo que está na constituição. A gente precisa voltar com o diálogo e trazer a exposição é fundamental não apenas para o Rio como para o Brasil”, falou.
A atriz Fernanda Torres participou do evento, ao lado do marido, Andrucha Waddington. “Esse evento virou outra coisa, qualquer atitude é um ato de luto. Estou aqui por isso. Fui à tarde na Cinelândia e tudo a partir de hoje tem outro significado, uma mobilização por causa dessa brutalidade”, desabafou a atriz.
Johnny Massaro fez questão de comparecer e assistir ao show histórico. “É muito importante todo e qualquer movimento que surja a partir dessa tragédia absoluta. Estamos em convívio constante e direto com esse horror, mas isso vem muito forte pra mostrar que as coisas são muito mais profundas, mais sérias do que a gente pensava. Foi claramente um cala boca de uma voz muito importante”, disse ele.
Na galeria, os cliques de quem passou pelo evento.
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