Kéfera Buchmann. Dependendo de sua faixa etária, você pode até não conhece-la, mas a moça tem 12,5 milhões de seguidores só no Instagram, é um fenômeno teen do YouTube , com direito a vários produtos licenciados, e acaba de entrar para a Globo. Em sua estreia nas novelas, interpreta a Mariane de “Espelho da Vida”. A poderosa influenciadora digital contou para o Glamurama sobre o bullying pesadíssimo que sofreu na infância e adolescência e como tentou se reinventar, passar uma imagem que fosse o oposto do que ela era quando novinha ao ficar famosa na internet. E que isso foi uma cilada. “Hoje, ao invés de tentar me distanciar de quem eu era, estou me reconectando”. Parou de alisar o cabelo, assumiu os óculos de grau, posta foto sem maquiagem… E abriu o coração pra gente: vem ler! (por Michelle Licory)
“A vontade de aparecer é uma máscara da grande insegurança que ela sente”
Kéfera é atriz, mas nunca tinha feito TV. “Estou amando. É tudo muito novo pra mim, mas estou bastante feliz. A novela tem essa diferença por ser uma obra aberta. Não sei como a personagem termina. Vão acontecendo coisas e, caramba, não acredito no rumo que a história está tomando… A Mariane, minha personagem, também é atriz e tem uma autoestima… É que a vontade dela de aparecer é uma máscara da grande insegurança que ela sente, então é uma personalidade que me possibilita explorar vários tipos de emoção. Ela sabe ser a boazinha, sabe manipular”.
Em comum… “Eu e a Mariane temos isso de usar bastante as redes sociais, mas ela é muito afetada, está mais preocupada em aparecer e estar em primeiro lugar sempre. Eu já estou mais resguardada…”
“O diretor da novela não me conhecia do YouTube”
Kéfera nos contou como conseguiu o papel. “Acho importante rolar esse cross entre personalidades da internet e da TV. As mídias têm que conversar. Sempre fui muito noveleira, e minha família também. Esse é um grande sonho que estou realizando. O Pedro Vasconcellos [diretor da trama] que me convidou, e fiquei muito emocionada. Ele assistiu aos meus filmes. Nem conhecia meu trabalho no YouTube, e achei isso ótimo. Gostou dos filmes, mostrou para a Elizabeth Jhin [autora] e ela também gostou. Eles só me viram atriz. Essa novela está me fazendo muito bem. Estou me desconstruindo, me trabalhando. Ensaio muito, cena por cena, fala por fala. Me dedico mesmo, pra que saia um resultado bom e as pessoas gostem”.
E se gostarem a ponto de Kéfera começar a emendar uma novela na outra, conseguir um contrato longo com a Globo… “Seria muito legal. A quantidade de cenas da Mariane vem crescendo… Acho que não adianta: fui picada pelo bichinho e adorei. Estou muito feliz fazendo novela”.
“Me deu vontade de resgatar isso, ao invés de fugir, como sempre tentei”
A gente quis voltar o assunto para a análise que Kéfera fez de Mariane… “A vontade dela de aparecer é uma máscara da grande insegurança que ela sente”. Já se sentiu assim na vida real? “É que eu tenho mudado e as ideias novas que tenho pensado, o estilo de vida que estou propondo… Essa desconstrução… Tenho falado muito sobre feminismo, sobre essa ditadura estética [nas redes sociais]… Isso tem atraído um público novo, diferente, que está mais consciente e quer abrir os olhos, olhar para as pequenas causas e para as grandes também. Entender como é importante lutar pela igualdade de gênero – e pelo próximo”.
Sobre essas mudanças, elas são físicas também. “Alisei o cabelo com escova progressiva por 10 anos. Parei de fazer no final do ano passado. Desde fevereiro comecei a tratar ele direitinho como cabelo cacheado. Até então estava meio perdida, sem saber como cuidava. Comecei a cortar ele… Foi assim… Fiz um filme, que ainda não lançamos, chamado ‘De Novo, Não’. Interpreto uma cantora que volta no passado, para quando ela era adolescente e sofria bullying. Nessa fase adolescente da personagem, o cabelo era parecido com o meu natural. Me identifiquei. E sofri muito bullying também quando era mais nova. Me deu vontade de resgatar isso, ao invés de fugir, como sempre tentei. Sempre tentei me distanciar e me diferenciar de quem eu era. Dessa vez, não. Estou querendo me conectar com minha essência, me buscar. Me conhecer…”
“Minha autoestima foi construída em cima de uma criança que sofreu bullying”
“Eu uso óculos, então agora apareço direto de óculos. Está sendo muito gostoso hoje ver fotos da minha infância e perceber que aquela menina cacheadinha de óculos virou uma mulher. Hoje, ao invés de tentar me distanciar de quem eu era, estou me aproximando, me reconectando. Estou muito consciente e querendo mesmo viver quem eu sou. Não pelos outros. Não foi uma mudança que veio do externo. Foi do meu interior para o exterior. Sofri muito no passado. E a minha autoestima foi construída em cima de uma criança que sofreu bullying até a adolescência. Por causa do meu cabelo, meu corpo, por causa dos óculos… De tudo. Existem os sofrimentos sociais, mas o sofrimento individual não pode ser ignorado e também é bem doloroso”.
“Se você não se acha bonita, não adianta o que os outros falam. Não ajuda”
E se alguém argumenta: poxa, mas você é tão famosa, com uma legião de seguidores… E mesmo assim estava sentindo esse vazio? “Novos ciclos vão acontecendo. Novas pessoas nascem dentro de você, e outras vão embora. O outro vê de fora e pensa: ‘Ah, ela deve estar muito bem’. Na realidade, não é isso. A fama não traz a solução dos seus problemas. Pelo contrário. Se voce não tem preparo psicológico, pode piora-los. Não é a fama que sana esses problemas, essas questões do passado. Até porque aí você estaria só tapando buracos com elementos externos, sem cuidar do seu interior… Sem pensar o que acontece dentro de você e por que aquilo te machucou. Fama não significa cura de problemas de autoestima. Sim, escuto que sou linda, mas se a gente ficar buscando nossa autoestima nos elogios, na validação do outro, é furada também. Se você não se acha bonita, não se sente confortável com você mesma, não adianta o que os outros falam. Não ajuda. Beleza é um sentimento”.
“É muito cruel da sua parte, sabia?”
Sobre os comentários de haters nas redes sociais… “As pessoas são muito maldosas e confundem liberdade de expressão com o fato de fazerem críticas não construtivas. Tudo depende do jeito que você fala. Você saber que está sendo maldoso com alguém fazendo um comentário que certamente vai magoar é muito cruel da sua parte, sabia? As pessoas na internet se sentem protegidas pela tela, elas perdem o filtro. Na ‘vida real’, ninguém [adulto] chega na sua cara e fala que você tá feia, gorda. As pessoas têm um filtro. É egoísta: não fala na cara porque sabe que o outro vai ficar bravo. Não, isso não se faz apenas porque magoa o outro. Só por isso. E se a pessoa que você critica está confortável daquele jeito, ela tem que ser feliz. A gente não tem que fazer nada para agradar o outro. É pra agradar a gente. Até porque para criticar sempre vai ter um… Eu costumo passar por cima e ainda uso de exemplo para superação. Mas tem dias que fico triste, sim, que não gostaria de ter lido aquilo. Nao faz esse tipo de comentário, gente. Outro dia usei um desses para falar sobre o Setembro Amarelo [campanha de prevenção ao suicídio]”.
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