Pela primeira vez na história da TV brasileira mulheres têm narrado jogos da Copa do Mundo. São elas Manuela Avena, Isabelly Morais e Renata Silveira, ganhadoras do concurso “Narra Quem Sabe”, promovido pela Fox Sports.
Depois de um intenso processo seletivo, as garotas participaram de um treinamento oferecido pela emissora com direito a visita à sede da CBF no Rio, onde conheceram o técnico da seleção brasileira Tite.
Para saber tudo sobre a estreia como narradora, em um universo ainda tão masculino, em pleno mundial, Glamurama falou com Manuela, 30 anos. Formada em publicidade, com pós-graduação em Gestão Esportiva, a baiana não pensava em trabalhar diretamente com futebol até bem pouco tempo e olha onde veio parar. Depois de mandar um vídeo caseiro à emissora, sem nunca ter feito nenhum tipo de narração, agora é escalada para soltar a voz em grandes partidas, como Portugal x Espanha. Olho nela, tá?
Glamurama: De toda essa experiência que você tem vivido, qual foi o momento mais emocionante?
Manuela Avena: “Foi quando soube do resultado do concurso. Além de ter sido pega de surpresa, o resultado coincidiu de ser no dia do casamento da minha irma, que foi em um sítio em Petrolina, Pernambuco, que nem TV tinha. A cerimônia do casamento estava marcada justo para a hora da divulgação do resultado, e eu tive que sair no meio da celebração para ouvir o resultado junto de uma repórter da Fox que foi até lá acompanhar este momento comigo. Acabou sendo ainda mais emocionante por estar com toda a família reunida. Também não tem como esquecer minha primeira narração, do jogo Portugal x Espanha na Copa do Mundo. Nunca tinha feito isso na vida e estava muito ansiosa e nervosa por querer fazer bem feito. De cara narrei seis gols. O último, no fim da partida, feito com perfeição por Cristiano Ronaldo, me emocionou demais. Fiquei arrepiada na hora.”
Glamurama: Qual foi o maior desafio que você enfrentou como narradora?
Manuela Avena: “O maior desafio é passar a emoção da Copa do Mundo para o público, além de falar sem gaguejar os nomes de jogadores de seleções como o Irã, por exemplo. A maioria já conhecemos mas alguns são muito complexos.”
Glamurama: Onde trabalhava antes?
Manuela Avena: “Ainda trabalho na rádio Sociedade, de Salvador. Sou repórter de campo e plantonista do programa diário ‘Sport +’. Cubro jogos dos times Bahia e Vitória. As portas começaram a se abrir depois que fiz uma pós-graduação em Gestão Esportiva, há dois anos.”
Glamurama: De onde veio seu entendimento desse esporte? Sempre gostou de futebol?
Manuela Avena: “Sempre gostei, desde pequena. Joguei futebol pela escola, disputava campeonatos, viajava pra competir. Dei muita sorte de estudar com meninas que também jogavam e sempre ter times para competir. Com cerca de 16 anos parei de jogar mas o futebol continuou muito presente na minha vida. Sou de uma família louca por futebol, sempre frequentamos estádios.”
Glamurama: Enfrentou alguma resistência por ser mulher em um ambiente tão masculino? Como superou?
Manuela Avena: “No meu trabalho como repórter de estádio não enfrentei problemas até agora, graças a Deus, mas sei que existe. Desde que começamos a narrar a Copa do Mundo, que tem uma proporção muito maior, vejo pessoas criticando. Procuro não dar atenção às críticas mais pesadas, e focar nas construtivas. Isabelly, Renata e eu já estávamos preparadas para ouvi-las, mas também para seguir em frente.”
Glamurama: Você diz que, por nunca ter narrado uma partida, teve que criar do zero uma Manuela narradora. Como foi este processo?
Manuela Avena: “Para mim foi muito difícil chegar, do nada, e narrar. ‘Faz como pra narrar?’, pensei. Não temos referências femininas nesta área, então parti para as masculinas com o cuidado de criar minha própria personalidade. Reuni características que acho mais legal de cada narrador e, com a ajuda de Vanessa (Riche, jornalista que treinou as meninas) foquei na emoção que deve ser levada a cada lance, ponto principal de uma partida, independente dela ser legal ou não, já que a qualquer momento pode sair um gol.”
Glamurama: Em que narradores você se inspira?
Manuela Avena: “João Guilherme e Nivaldo Prieto, Galvão [Bueno] – não tem como negar -, além de tantos outros de rádio de Salvador. Mas sempre com o cuidado de criar uma personalidade minha.”
Glamurama: Seu sotaque é uma marca registrada…
Manuela Avena: “Pois é, pensei que isso pudesse ser um problema, mas tenho tido um retorno bacana sobre ele, as pessoas estão gostando.”
Glamurama: Como têm sido a recepção do público de modo geral?
Manuela Avena: “Recebo muitas mensagens nas redes sociais elogiando e encorajando meu trabalho. Tem gente que está até fazendo TCC sobre a participação de mulheres no mercado do futebol, querendo meu depoimento sobre o processo de entrada na área. Além de casos de meninas que me disseram que treinam todos os dias para serem narradoras.”
Glamurama: Como sente a chegada das mulheres na transmissão esportiva?
Manuela Avena: “Muita empolgação porque são portas se abrindo. Estamos encorajando outras pessoas a buscarem essa profissão. É complicado quebrar tantas barreiras em um universo masculino, as coisas não vão acontecer da noite para o dia, é preciso ter paciência. Cada passo dado é muito importante. Eu não esperava quebrar tantas barreiras e ter tanto retorno positivo. Os negativos eu sabia que viriam, mas os positivos esperava que fossem em menor quantidade. É um sinal de que o caminho está aberto…”
Glamurama: Você acredita que está por vir uma geração de futebol com mais mulheres em seus bastidores?
Manuela Avena: “Tenho certeza que temos encorajado muitas meninas com este trabalho. Desde pequena notava que os estádios eram ambientes que os homens usavam para extravasar com os amigos, da mesma forma que mulheres iam ao shopping com as amigas. Com isso, o estádio foi se fechando para as mulheres. Nunca me conformei com aquela realidade e sempre fiz questão de levar o maior número de pessoas do meu ciclo ao Fonte Nova, por exemplo. Sempre quis que os estádios fossem um lugar de diversão para todos, independente de classe e gênero.”
Glamurama: Você acredita que o Brasil vai para a final nessa Copa?
Manuela Avena: “Acredito! Tem tudo pra isso acontecer. Não é um caminho fácil, a Bélgica é um time forte, e ainda pode ter que pegar a França, que também é ótimo, mas acho que o Brasil está concentrado, equilibrado emocionalmente.”
Glamurama: Andam dizendo que esta é a Copa da zebra, furando todos os bolões…
Manuela Avena: “Temos debatido muito esta questão. Dizemos que é a Copa da paciência. Antigamente as seleções maiores arrebentavam, hoje não tem mais essa. Esta Copa está marcada por uma nova estrategia, de se fechar para o time adversário. Os times grandes não têm conseguido enfrentar essas barreiras e têm perdido principalmente nos pênaltis.”
Glamurama: Na sua opinião, qual o grande craque da Copa até agora?
Manuela Avena: “Têm muitos jogadores que estão bem. Gosto muito do francês Kylian Mbappé, que tem apenas 19 anos e está muito à vontade na seleção francesa, e do inglês Harry Kane. Cristiano arrasa mas saiu, né? Não foi bem na última partida de Portugal.”
Glamurama: E Neymar, o que acha da performance dele?
Manuela Avena: “Ele não teve uma primeira fase exemplar, mas parece que entendeu a necessidade de só jogar bola e esquecer as provocações e etc.”
Glamurama: Após a Copa do Mundo pretende seguir como narradora? Como é seu contrato com a Fox Sports?
Manuela Avena: “Estou gostando muito de narrar e espero continuar sim, mas também gosto muito de ser repórter de campo. Vou deixar as coisas seguirem um caminho natural.”
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