Foi notícia em todos os cantos, na semana passada, a revelação de que o presidente Jair Bolsonaro contraiu o novo coronavírus mas passa bem. Mas o que aconteceria se o maior aliado do líder brasileiro no cenário internacional, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, também testasse positivo para a Covid-19? Analistas de economia e política ouvidos recentemente pela “Bloomberg” traçaram vários possíveis cenários para o caso de tal possibilidade se tornar realidade, que vão desde uma disrupção momentânea do sistema político americano ao pior de todos, que seria o surgimento de uma crise constitucional e uma disputa sem precedentes pelo cargo de chefe do executivo do país mais poderoso do mundo que chegaria à sua Suprema Corte e teria consequências muito além de suas fronteiras.
Isso porque Trump manteve recentemente contato com várias pessoas que contraíram a doença mais ameaçadora do momento, assim como também aconteceu com o vice-presidente dos EUA Mike Pence. Ambos, portanto, podem ter sido contaminados, o que deixa muita gente sentindo calafrios apenas por pensar que na eventualidade de um diagnóstico em dose dupla a maior economia do planeta poderia ficar sem líder eleito por algum tempo.
As bolsas, evidentemente, sentiriam o efeito disso, e é consenso entre os especialistas que as quedas bruscas nos mercados mundiais resultantes das incertezas causadas por tal situação seriam constantes. Some-se a isso o fato de que Trump, que adora usar o Twitter, continuasse falando barbaridades pelo microblog mesmo enquanto estivesse cumprindo a quarentena obrigatória para os contaminados, e o resultado seria um verdadeiro caos.
Os EUA, claro, mantém nas gavetas protocolos para todos os tipos de situações e catástrofes. Mas a simples ideia de ter que usar uma dessas medidas já serviria para criar incertezas. Um exemplo: se Trump, de 74 anos, e Pence, de 61, depois de eventualmente diagnosticados com a Covid-19, e em razão de ambos pertenceram ao grupo de risco da doença (pessoas com mais de 60 anos), ficassem em estado grave, um impasse seria criado.
É que a Constituição Americana trata claramente da possível ausência de um presidente do trabalho por seja lá qual for o motivo, mas pouco aborda diante de uma conjuntura em que os números um e dois no comando dos EUA precisariam ficar fora de cena. A partir daí, o mais provável é que tudo fosse decidido nas cortes superiores de lá, o que pode levar tempo e agravar ainda mais as coisas.
Há ainda o agravante de que, em alguns meses, os americanos deverão ir às urnas para escolher um novo presidente. Mas se o atual, que é candidato à reeleição, estiver impedido de fazer campanha, suas chances de continuar participando da disputa poderão ser consideradas menores do que as do principal adversário dele – o ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden – o que daria espaço para mais questionamentos. Trump, que apenas na semana passada apareceu em público usando máscara, afirma em privado que jamais contrairia a Covid-19 por causa de sua notória fobia de germes. Além disso, garante o político, a sorte sempre esteve ao seu lado. Ironicamente, nesse momento até mesmo aqueles que torcem pela queda dele também devem estar rezando por sua saúde. (Por Anderson Antunes)
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