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Humberto Carrão
Crédito: Maurício Nahas

Humberto Carrão tinha 14 anos em 2005 e acabara de conhecer a popularidade de estar em um programa de sucesso na televisão. Após a estreia em “Bambuluá”, série infantil estrelada por Angélica, havia emendado a 11ª temporada de Malhação, a mesma que alçou Marjorie Estiano como líder da Vagabanda e cuja audiência batia a principal novela da Globo de então, “Senhora do Destino”. Durante um passeio, um fotógrafo se aproximou do ator, mas foi repelido pela repórter: “Não, não, não! A temporada dele já acabou”.

O episódio, que poderia ter traumatizado o adolescente estreante, funcionou como um marco orientador da carreira do ator. “Aquilo para mim foi importante para entender que as coisas vão e vêm”, diz Carrão. “Tem a ver com a educação que meus pais me deram, mas também com minha maneira de olhar o mundo. É importante também conhecer o lugar do fracasso, experimentar, errar, entender a possibilidade de não ser aplaudido. Acho que muito cedo percebi isso.”

Os altos e baixos se repetiriam nas mais de duas décadas de profissão do ator de 31 anos, com a balança pendendo, majoritariamente, para o lado dos êxitos. Em 2016, ao desembarcar em Cannes com a equipe do filme “Aquarius”, se deu conta, ao ser questionado pelo diretor Kleber Mendonça Filho, de que não havia se visto ainda projetado em uma tela de cinema. “Uau! Você vai se ver pela primeira vez em um dos cinemas mais importantes do mundo”, observou o diretor, que, pouco depois, junto com o elenco, faria um protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff, uma imagem que rodou o mundo.

A relação com a sétima arte é antiga. Formado em cinema, Carrão já havia dirigido dois curtas, com os quais percorreu festivais, e apresentado um programa no Canal Brasil sobre o tema antes de chegar ao set de “Aquarius”. Desde então, acumulou outros papéis marcantes na tela grande, como o guerrilheiro Humberto, militante fictício da Ação Libertadora Nacional morto na luta armada contra a ditadura em “Marighella”, de Wagner Moura.

“Me sinto privilegiado de poder estar em projetos que me orgulham, principalmente nos últimos anos, em que o país resolveu tratar a cultura como inimiga”

Crédito: Maurício Nahas

Estar em dois longas com forte crítica social em papéis que fogem ao estereótipo de galã não é obra do acaso. “Sou um cidadão político”, diz o ator, que confirma já ter dado muitos “nãos” a propostas que não o mobilizam. “Me sinto privilegiado de poder estar em projetos que me orgulham, principalmente nos últimos anos, em que o país resolveu tratar a cultura como inimiga. Conheço muita gente incrível que está sofrendo com pouco trabalho ou tendo que abandonar a profissão.”

Os olhos voltam a brilhar quando o ator fala do próximo projeto: dirigir o primeiro longa. Antes da pandemia, tomou coragem e convidou a escritora Ana Maria Gonçalves, autora do romance histórico “Um Defeito de Cor”, do qual é fã, para escrever um roteiro. Acabaram desenvolvendo duas histórias, que foram paralisadas pela impossibilidade de novos encontros presenciais e a volta às gravações do ator.

Em seu mergulho para dar vida aos personagens, Carrão se assemelha a Caco Barcellos – ou pelo menos a versão fictícia que encarna do jornalista em “Rota 66: A Polícia que Mata”, série que estreou em setembro no Globoplay. Obsessivo como um bom repórter, não se contentou em ler o livro reportagem em que a obra se baseou. Também pediu dicas de títulos que fizeram parte da formação de Barcellos e esteve a seu lado no Complexo do Salgueiro, no Rio, durante uma reportagem sobre violência policial para o Profissão Repórter. “Acho que fiquei um pouco contaminado pelo personagem”, assume.

Solteirice e relação com redes

Longe dos estúdios de gravação, Humberto Carrão leva uma vida que pouco tem a oferecer à mídia que se alimenta da rotina badalada de artistas. Recentemente, se separou da também atriz Chandelly Braz, uma relação que durou dez anos. Os dois engataram o namoro nos bastidores da novela “Cheias de Charme”, em 2012, e seguem amigos. O ator também faz questão de frequentar os mesmos bares e rodas de samba desde a época de faculdade, o que fez um site estampar a chamada: “Três lugares para esbarrar no solteiro Humberto Carrão”. “Ali teve algo não muito correto porque me perguntaram que lugares eu indicaria no Rio.”

“Não tenho essa relação de posse com seguidores. As pessoas estão ali porque estão interessadas. Se amanhã não estiverem, tudo certo”

Crédito: Maurício Nahas

Nas redes sociais, costuma compartilhar os últimos trabalhos, protestos e apoios políticos, um pouco de sua paixão pela música e só. “As pessoas estão viciadas em compartilhar sua privacidade, em ter que manter um público fiel como se fosse um patrimônio. Não tenho essa relação de posse. As pessoas estão ali porque estão interessadas. Se amanhã não estiverem, tudo certo.”

O ator também diz não dar muita bola para haters – chegou a receber ameaças na época dos lançamentos de “Aquarius” e “Marighella” – e admite que o posicionamento político deve torná-lo alguém “menos interessante para as marcas”. Mas essa, afirma, é também uma condição que não está disposto a negociar.

Em “Todas as Flores”, novela de João Emanuel Carneiro que é a primeira exclusiva do Globoplay, Carrão é um empresário que vive um triângulo amoroso com as atrizes Letícia Colin e Sophie Charlotte. Bem distante de sua realidade, como o ator gosta. “Embora eu esteja doido para dirigir, quero continuar com meus trabalhos de ator, pois é uma das profissões mais lindas do mundo. Ainda bem que não preciso fazer essa escolha de Sofia.”

*A íntegra da reportagem e ensaio estão na edição de novembro da revista Poder, nas bancas a partir desta sexta (27).

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