Publicidade
Guilherme e Gustavo Carneiro na cadeira dos Irmãos Campana || Créditos: Juliana Rezende
Gustavo e Guilherme Carneiro na sala de casa || Créditos: Juliana Rezende
Gustavo e Guilherme Carneiro na sala de casa || Créditos: Juliana Rezende

Por Michelle Licory

"A gente é uma dupla mesmo, tipo Irmãos Campana, Osgemeos...", brinca Guilherme Carneiro. Ou será que foi o Gustavo? Os irmãos, donos da Galeria Inox, no Rio, até parecem gêmeos no quesito "fazer tudo junto". E um vai completando a fala do outro. Antes de entrar formalmente para o mercado de arte, os dois já colecionavam todo tipo de item em sociedade, até selos, aos 8, 10 anos. "Nossos pais têm um antiquário na rua do Lavradio, na Lapa. A gente acompanhava o trabalho deles desde pequenos e sempre teve esse olhar para arte, e esse gosto por colecionar coisas. Juntos..." Há 6 anos, eles abriram a galeria, bastante respeitada no circuito de arte contemporânea, dentro do shopping Cassino Atlântico, em Copacabana. Circulam o tempo todo pela área entre o Posto 6 e o Arpoador.  É que eles também dividem um apartamento por ali. O imóvel é completamente lotado de obras, entre elas uma tela de Abraham Palatnik, a mais querida e - tipo a moedinha número 1 do Tio Patinhas -  a primeira peça importante da coleção. A obra valorizou à beça, mas jamais será vendida, tamanho o valor sentimental. "Compramos quando ainda andávamos de ônibus. A gente deixava de entrar em festas pra juntar dinheiro para conseguir tê-la. Nenhum amigo nosso entendia. Até meu pai achava estranho." Foi nesse apê que eles receberam o Glamurama para um papo. Vem ler aqui embaixo!

Obra de Jorge Mayet com quadro de Smael ao fundo || Créditos: Juliana Rezende
Obra de Jorge Mayet com quadro de Smael ao fundo || Créditos: Juliana Rezende

O começo

"A gente começou a trabalhar com o mercado de arte com 20 anos. Era mercado secundário, sem representar o artista, comprando de outro colecionador. Sempre em sociedade. Trabalhava com comércio, guardava dinheiro e comprava uma obra pra nossa coleção. Era esse tipo de operação. Com o tempo, fomos acumulando. A gente teve por dois anos uma outra galeria com um terceiro sócio, que acabou não dando certo. Lá era só venda e a gente queria muito representar artistas, ter esse contato com a produção e o pensamento deles, trazer isso para o público. Aí montamos a Inox, há seis anos."

"Nunca é pelo preço"

"A primeira obra importante da nossa coleção? É do Burle Marx. Não, a primeira mesmo foi do Palatnik, em 2006. Na época, ele não era um artista tão caro. Agora está bastante valorizado, subiu muito de preço. Merecidamente...Tem artista jovem que vale a mesma coisa que ele, que tem uma estrada absurda. Era um valor baixo. Os valores de arte subiram bastante de oito anos pra cá. No mercado inteiro. Como colecionador, comprei várias obras que aumentaram de preço. Não que eu ache que, para um colecionador, isso deva ser importante. A gente compra porque gosta e não pensa se vai valer mais, se vai valorizar. Nem hoje em dia, com olhar de galerista. Nunca é pelo preço. Nossa dica pra quem quer começar uma coleção? Essa: comprar por gostar, não se vai ser um bom investimento. Não pensa no dinheiro, pensa que gostou e quer conviver com aquilo. Se aquela obra diz alguma coisa pra você... A gente compra porque precisa conviver. Pensamos zero como investimento. E nossos gostos são bem parecidos, a gente compra junto. Mostra um para o outro e decide. Nossos preferidos? Temos a mesma lista: Palatnik, Jarbas Lopes... Jorge Mayet a gente adora. E Rodrigo Andrade, pra mim um dos mais importantes de São Paulo. Nosso plano é, se tudo der certo, deixar um legado, abrir um centro cultural aqui no Rio. O que é caro... A gente espera contar com a lei Rouanet para bancar a estrutura do espaço."

A primeira obra importante da coleção - e a peça mais querida - é uma obra de Palatnik || Créditos: Juliana Rezende
A primeira obra importante da coleção - e a peça mais querida - é uma obra de Palatnik || Créditos: Juliana Rezende

Tipo a moedinha número 1 do Tio Patinhas

"Depois de saber qual foi a primeira obra importante, perguntamos qual é a mais querida da coleção. A resposta foi a mesma. "Essa obra do Palatnik que te falamos... Foi a que mais nos marcou, pela historia de adquirir esse trabalho, quando a gente não tinha muita condição. Vai continuar aqui pra sempre. Foi uma conquista mesmo, sufoco, desafio. Compramos quando ainda andávamos de ônibus. A gente deixava de entrar em festas pra juntar dinheiro para conseguir tê-la. Nenhum amigo nosso entendia. Até meu pai achava estranho. Foi dinheiro de quase um ano. A gente estava começando... No inicio, nunca se ganha bem."

"A gente briga, mas é raro"

"Aprendemos nossa profissão com a vivência mesmo. E sempre teve muito livro em casa. Nossos pais traziam. Desde pequeno, meu pai mostrava com entusiasmo as peças do antiquário. A gente reparava na qualidade, no  acabamento. Isso fez com que a gente não conhecesse só de arte contemporânea. Ele nos mostrava arte moderna, clássica. Na galeria, tem divisão de trabalho, sim. Eu [Guilherme] sou mais a parte financeira ... O resto a gente mais ou menos mistura, mas meu irmão [Gustavo] é muito bom na montagem de exposição. Na conversa com clientes, com alguns sou melhor, com outros ele é. Às vezes a gente está na mesma tarefa, vê que o outro faz melhor e parte pra outra coisa. A gente é uma dupla de verdade, tipo irmãos Campana, Osgêmeos. A gente briga, mas é raro. Por isso que a sociedade dá certo: somos irmão e conseguimos esgotar todo tipo de pensamento sem que isso ecoe para um lado pessoal, que faça romper a sociedade. A gente consegue discutir e depois está tudo bem."

Um pedacinho da sala do apartamento dos irmãos || Créditos: Juliana Rezende
Um pedacinho da sala do apartamento dos irmãos || Créditos: Juliana Rezende

"Tramite caro, espaço caro"

"A gente já está com uma estrutura boa, mas precisa de espaço. Só que espaço no Rio é muito caro. É difícil achar um bom local. Crescer pra gente  é ter uma área maior para fazer instalações, exposições grandes. A gente também quer participar de feiras fora do país. Viajamos para visitar duas delas: a Miami Basel e a ArtBo, de Bogotá. Gostamos muito. Feiras paralelas de Miami já nos convidaram, então fomos lá para pesquisar, entender o perfil do colecionador dos Estados Unidos. É complicado participar porque o tramite é muito caro no Brasil, o envio da obra. A maior dificuldade desse negocio é a burocracia. O custo operacional da galeria é alto, imposto é muito alto... Fazer uma feira é muito caro: cinco dias de evento podem custar o preço de um aluguel de um imóvel durante o ano inteiro. Isso tudo dificulta um pouco, mas a burocracia é o grande entrave: despachar, legalizar o envio de uma obra para o exterior, por exemplo. Mas acho que a gente teria uma boa aceitação lá. Temos trabalhos que consideramos muito bons com um preço também bom. Preço não tem muita lógica. Aqui no Brasil tem muito artista que eu acho que não deveria ser tão caro, e artista que deveria ser mais valorizado."

Guilherme e Gustavo Carneiro nas cadeiras dos Irmãos Campana || Créditos: Juliana Rezende
Guilherme e Gustavo Carneiro na cadeira dos Irmãos Campana || Créditos: Juliana Rezende

Caminho das pedras

"Gente jovem pra ficar de olho? Felipe Sabino. Ele ainda está na faculdade de Belas Artes. Vimos o trabalho dele e ficamos impressionados com a qualidade. Tem um preço bom e é incrível. Chamamos para a galeria. Todo artista, quando se forma, faz uma exposição como se fosse monografia, e a do Felipe vai ser lá na Inox. Ele ficou amarradão. Um nome bom para observar também é Xevi Solá, um espanhol que é enfermeiro em um hospital psiquiátrico e também fez Belas Artes. Ele retrata as expressões das pessoas, tem uma pintura incrível, preço e potencial. Outra que tem um trabalho bem legal é a Berna Reale, de fotografia. E o Alexandre Orion, que não é muito conhecido aqui no Brasil. La fora todo mundo fala sobre o trabalho dele, que tem uma pesquisa urbana conceitual. Acontece, sim, de a pessoa ter mais visibilidade fora. Tem muito artista brasileiro assim: precisou ter primeiro uma carreira fora para ser reconhecido aqui. A gente no Brasil tem preconceito com o suporte. Quer sempre o óleo sobre tela..."

Festa no apê, rola?

Com tanta obra de arte espalhada, e donos tão jovens, como faz para receber os amigos para beber "em segurança"? "Rola festa, a gente faz direto, bebedeira, Réveillon. As coisas mais delicadas a gente tira, deixa o espaço mais livre. Mas fazemos encontros com 20, 30 amigos, pra beber, e as pessoas se comportam. Já dançar um balé aqui seria perigoso. Difícil é chamar alguém novo pra limpar. Vai que joga alguma coisa fora [risos]."

Vem ver mais do apartamento dessa dupla - e das obras de arte lá expostas - aqui embaixo, na nossa galeria de fotos!

[galeria]3064621[/galeria]

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter