1. O Brasil está com seus sinais vitais em níveis bastante razoáveis e pode construir as condições para prosseguir com um crescimento da ordem de 5% ao ano (o que dobraria o nosso PIB per capita em 2030) porque superou os dois fatores que abortavam e introduziam descontinuidade no seu crescimento: crise de energia e/ou crise de financiamento do balanço em conta corrente.
2. Não há nenhuma razão para que não possa fazê-lo com taxas de inflação em torno de 4,5% que, eventualmente, pode ser reduzida. O ideal é uma taxa de inflação parecida com a de nossos parceiros comerciais.
3. Quanto à evolução da taxa de câmbio é preciso reconhecer que ela hoje está supervalorizada por fatores externos (dramática melhora das relações de troca) e internos (imenso diferencial entre a taxa de juros real interna e externa).
4. Para continuar a crescer o Brasil precisa fazer muita coisa. Fundamentalmente, elevar sua taxa de poupança interna para qualquer coisa parecida com 23-24%. A taxa de poupança do setor privado (depois de pago os impostos) precisa e pode ser estimulada, mas o problema reside na necessidade de ampliar a poupança pública sem, obviamente, aumentar a carga tributária.
5. É preciso reconhecer que a preferência revelada pela sociedade brasileira na Constituição de 1988 resume-se no desejo de construir um processo civilizatório alicerçado em três pilares: República (todos, inclusive o poder incumbente está submetido à mesma lei); Democracia (o poder incumbente pode ser substituído periodicamente pelo voto universal e livre de todos os cidadãos) e uma sociedade razoavelmente justa (que aumenta continuamente a igualdade de oportunidades).
6. É um projeto grandioso que vale a pena perseguir. Ele exige uma carga tributária maior do que a dos países com a mesma renda per-capita. Em compensação, tal construção exige, também, um Estado enxuto, preocupado acima de tudo com a eficiência de seus agentes, além do controle rigoroso e exigente das necessárias políticas públicas de transferência de renda.
Por Antonio Delfim Netto
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