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1. Estamos assistindo a um cabo de guerra entre a política econômica cuidadosa e moderada do Governo e a sugestão de alguns “falcões” do mercado financeiro que recomendam (ou melhor, exigem!) uma política de “choque” como a única que nos salvará da bancarrota.

2. O Governo crê, corretamente, na minha opinião, que se estendermos o prazo para que a taxa de inflação retorne à “meta” de 4,5% até o fim de 2012, poderemos ter sucesso com o programa em curso: cumprimentos dos cortes fiscais, melhoria da eficiência, dos serviços públicos, aumentos moderados da taxa de juros Selic e o uso complementar de medidas macroprudenciais. Estas, além de tornarem mais hígido o sistema financeiro, têm condições de controlar seletivamente a expansão do crédito. A esperança é que a violação do “teto” da “meta” de 6,5% será breve e permitirá um crescimento em torno de 4% do PIB em 2011. A maturação dos efeitos das medidas fiscais e monetárias trará a taxa de inflação para qualquer coisa parecida com 4,5% no final de 2012.

3. A proposta dos “falcões” é um choque radical nas despesas públicas para cortar a demanda do Governo e um aumento vigoroso da taxa de juros real para cortar a demanda privada, o que reduziria o crescimento e aumentaria a taxa de desemprego, fazendo cair imediatamente a “expectativa” da taxa de inflação com um custo muito pequeno. Segundo suas estimativas, o PIB cresceria em 2012 em torno de 3%, mas a inflação anual já estaria rodando em torno de 4,5% no final do ano.

4. O grande problema é que os riscos de tal programa são imensos. O crescimento do PIB depende das expectativas de emprego dos trabalhadores (que determinam o consumo) e das expectativas dos empresários (que determinam o nível de investimento para atender àquele consumo). Quando uns e outros internalizarem a queda do PIB, não há como determinar se ela parará em 3% ou caminhará para menos 1%, criando uma nova recessão. Não há por trás desta proposta (que é sugerida pela curiosa teoria das expectativas racionais) nenhum suporte empírico.

5. É por isso que, para minimizar os riscos de descarrilharmos, a proposta cuidadosa do Governo parece mais conveniente para o país do que a dos “falcões” do mercado financeiro.

Por Antonio Delfim Netto

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