1. O Banco Central do Brasil fez algumas modificações na política monetária para prevenir a expansão exagerada do crédito. Na opinião do Banco, ela poderia terminar num excesso de demanda não sustentável: uma “bolha” formada pelo entusiasmo dos consumidores que legitimamente desejam antecipar o uso de novos bens e serviços aos quais têm acesso quando podem obter financiamento.
2. Trata-se de um processo saudável que estimula o crescimento econômico e que, em certa medida, é autossustentável enquanto existem fatores de produção (mão de obra e capital) disponíveis. Quando vários setores são simultaneamente impulsionados pelo crédito e os empresários têm a sua disposição recursos disponíveis para atender à demanda, aumenta-se ao mesmo tempo o emprego e melhora o salário. A produção adicional satisfaz a uma demanda que não podia manifestar-se por falta da capacidade de comprar.
3. É evidente que esse processo – que parece mágico – encontra limites e depende da coordenação entre a expansão da realização dos desejos dos consumidores possibilitada pelo crédito e a expansão do crescimento físico da produção. Em outras palavras, da capacidade dos empresários de coordenar os fatores mão de obra e capital disponíveis para atendê-la. Trata-se, portanto, de um mecanismo que exige uma atenção permanente por parte da autoridade monetária.
4. Há dois limites evidentes: de um lado a disponibilidade do crédito pode levar os indivíduos e as famílias a comprometerem mais recursos do seu orçamento do que poderiam normalmente honrar. Cria-se, assim, um processo de inadimplência generalizada que liquida consumidores, produtores e o sistema financeiro; de outro, quando se atinge o pleno uso da capacidade produtiva – mão de obra e estoque de capital – e não se reduz a expansão de crédito, caminha-se para um excesso de demanda que se dissipa ou numa aceleração da taxa de inflação, ou num aumento insustentável do déficit da balança comercial.
5. Qualquer um dos dois últimos efeitos inexoravelmente termina com o processo, mas não sem graves consequências para o crescimento econômico e para as políticas de melhoria da distribuição de renda e do aumento da igualdade de oportunidades que é o caminho que civiliza e torna moralmente aceitável o que chamamos de “capitalismo”.
6. Ao contrário do algumas críticas mal-concebidas, devemos saudar o novo comportamento do Banco Central que procura alternativas para manter hígido o financiamento do nosso sistema produtivo.
Por Antonio Delfim Netto
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