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Um velho sábio ensinou que o mundo dá muitas voltas: se você ficar parado ele acaba passando novamente por você. As desventuras da economia cubana mostram como os sistemas produtivos construídos por cérebros peregrinos que tentam criar o “homem novo” tendem, num prazo maior ou menor, ao fracasso. A idéia que se pode organizar um sistema econômico centralizado comandado por um planejamento poderoso que conhece as necessidades de cada um e é capaz de organizar eficientemente a produção para atendê-las, custou, no século XX, a vida de quase uma centena de milhões de cidadãos. Stalin matou pelo menos 30, Mao deixou morrer de fome pelo menos 20 e Hitler não fez feio nessa competição assassina…

* O caso de Cuba é menos trágico, mas Fidel Castro conseguiu o prodígio de construir um pais que hoje tem 11,5 milhões de habitantes, com supostamente 5 milhões na sua “força de trabalho”, da qual 4 milhões são funcionários públicos! Os cidadãos certamente receberam benefícios em matéria de educação e saúde: são todos melhor educados e mais hígidos, mas envolvidos numa teia de ineficiência produtiva que lhes tolheu a liberdade de iniciativa. Têm melhor igualdade de oportunidades no ponto de partida, o que é muito bom, mas a igualdade no ponto de chegada é medíocre, o que esclerosou  sua imaginação. 

* O aspecto mais dramático dessa experiência é que a coletivização atingiu até os estímulos para produzir do minúsculo chacareiro. O exemplo mais significativo do desinteresse do agricultor para trabalhar a terra “comum socializado” é que quase 20% das terras agricultáveis de Cuba estão hoje ocupadas por um exótico arbusto espinhoso que eles chamam de “marabu” (Dichrostachys cineres). Antes da revolução essas terras produziam açúcar, fumo e alimentos. A situação tragicômica é que as feiras livres quase não têm produtos (tomates, alfaces e legumes) para servir aos cubanos, enquanto os hotéis para turistas estrangeiros (que pagam em dólares!) os têm (importados!). 

* É claro que a explicação para a situação cubana é muito complexa e passa por dramáticos equívocos de Fidel Castro e pela arrogante resposta dada a ele pelos Estados Unidos. A aventura cubana esteve a ponto de produzir uma nova guerra mundial, mas com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas o país entrou praticamente em colapso por não ter para quem exportar o seu açúcar e de quem receber petróleo subsidiado. A intervenção de Chávez ajudou, mas não muito. Agora Raúl Castro promete uma revisão do sistema: começará demitindo, no início de 2011, cerca de 500 mil funcionários “improdutivos” e os estimulará a encontrarem empregos “produtivos nos setores em que se iniciarão as privatizações, a começar pelas barbearias”…

por Antonio Delfim Netto

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